OS SUSPEITOS (Prisoners, 2013, Alcon Entertainment, 153min)
Direção: Denis Villeneuve. Roteiro: Aaron Guizowski. Fotografia: Roger
A. Deakins. Montagem: Joel Cox, Gary Roach. Música: Jóhan Jóhansson.
Figurino: Renée April. Direção de arte/cenários: Patrice Vermette/Frank
Galline. Produção executiva: Stephen Levinson, Edward L. McDonnell,
Robyn Meisinger, John H. Starke, Mark Wahlberg. Produção: Kira Davis,
Broderick Johnson, Adam Kolbrenner, Andrew A. Kosove. Elenco: Hugh
Jackman, Jake Gyllenhaal, Paul Dano, Melissa Leo, Terrence Howard, Maria
Bello, Viola Davis. Estreia: 30/8/13 (Festival de Telluride)
Indicado ao Oscar de Fotografia
Realizar um filme de gênero é sempre um desafio para um grande diretor: é
preciso jogar com os elementos clássicos de forma inteligente, de
maneira a prender a atenção de um público mal-acostumado com os clichês e
ainda assim imprimir uma marca que o distingua de dezenas de outros
lançamentos. Para sorte dos cinéfilos, vários mestres conseguiram esse
feito: Pedro Almodovar fez isso magistralmente em "Má educação". David
Fincher também, em "Zodíaco". Scorsese idem, em "A época da inocência" e
Woody Allen em "Match point, ponto final". A lista, agora, tem um novo nome: Denis
Villeneuve, o canadense do sublime "Incêndios", indicado ao Oscar de filme estrangeiro em 2011. Seu "Os
suspeitos" foge da simples definição de filme policial para
transformar-se, em suas mãos, em um sério e claustrofóbico estudo sobre a
culpa, a justiça pelas próprias mãos e o sentimento de perda.
O título original - "Prisoners" - pra variar tem muito mais camadas do
que a tradução preguiçosa escolhida pela distribuidora, que já havia
batizado outro grande filme, dirigido por Bryan Singer em 1995 e que deu
o primeiro Oscar a Kevin Spacey. No filme de Villeneuve, os
protagonistas são realmente prisioneiros, cada um a seu modo, das
consequências do desaparecimento de duas meninas no feriado de Ação de
Graças em Boston. O pai de uma delas, Keller Dover (Hugh Jackman) parte
em uma busca obsessiva por seu paradeiro, que ele julga ser de
conhecimento de Alex Jones (Paul Dano), um rapaz com problemas mentais
visto nas redondezas do rapto. O policial Locki (Jake Gyllenhaal),
encarregado do caso, sente-se em dívida de honra com o desesperado pai,
especialmente quando o principal suspeito é liberado apesar de sua
promessa de mantê-lo sob vigilância. E, logicamente, as duas famílias
também estão aprisionadas à dúvida sobre a vida ou morte de suas
crianças.
Os desdobramentos da trama, criada pelo roteirista Aaron Guzikowski, não
valem a pena ser mencionados, sob pena de estragar a diversão - se é
que "diversão" é o adjetivo adequado a um filme que mantém a tensão da
plateia à flor da pele. No pleno domínio de seu trabalho como cineasta,
Villeneuve constroi um suspense crescente, espalhando pistas sobre a
resolução do caso (quase simplista, mas coerente) pelas cenas, dirigidas
com economia de movimentos de câmera e atenção redobrada aos detalhes. A
fotografia úmida e noir do mestre Roger Deakins colabora para o tom
sombrio da narrativa, que não dá espaço para momentos desnecessários (e o
faz com tanta competência que as duas horas e meia passam sem que se
perceba). O roteiro segue o padrão que todos conhecem - o crime, a
investigação, as pistas falsas, o clímax, o desenlace - mas o faz com
uma propriedade ímpar, que faz com que tudo soe como novidade aos olhos
da plateia, principalmente por dar uma importância rara às consequências
dramáticas dos atos de seus personagens.
Ao contrário da maioria dos filmes policiais, onde os personagens
existem somente para empurrar a história, em "Os suspeitos" é a história
que empurra os personagens. Interessa a Villeneuve, cineasta com um
olho cuidadoso para as mazelas do ser humano, mais a violência
psicológica que se passa no subterrâneo da mente de Dover, Jones e Locki
do que a violência física que porventura possa estar ocorrendo no
cativeiro das meninas sequestradas. É a forma com que o pai angustiado e
o policial dedicado lidam com o caso que eleva o filme a um patamar
acima de seus congêneres, e para tal conta com um elenco brilhante,
liderado por Hugh Jackman na melhor atuação de sua carreira - muito
superior à sua interpretação indicada ao Oscar pelo modorrento "Os
miseráveis" - e Jake Gyllenhaal, que constrói seu Locki com uma
expressão corporal sutil e eficaz. O cada vez melhor Paul Dano e a
oscarizada Melissa Leo também tem interpretações de destaque, em papéis
que exploram a contento suas melhores qualidades.
Forte, intenso e digno de figurar entre os indicados ao próximo Oscar - o
que infelizmente não deve ocorrer, haja visto sua ausência nas listas
divulgadas até o momento - "Os suspeitos" é uma estreia alvissareira do
diretor Dennis Villeneuve em Hollywood. Que se mantenha assim.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
sábado
Assinar:
Postar comentários (Atom)
JADE
JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...
-
EVIL: RAÍZES DO MAL (Ondskan, 2003, Moviola Film, 113min) Direção: Mikael Hafstrom. Roteiro: Hans Gunnarsson, Mikael Hafstrom, Klas Osterg...
-
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Paku...
-
NÃO FALE O MAL (Speak no evil, 2022, Profile Pictures/OAK Motion Pictures/Det Danske Filminstitut, 97min) Direção: Christian Tafdrup. Roteir...
Nenhum comentário:
Postar um comentário