RUSH:
NO LIMITE DA EMOÇÃO (Rush, 2013, Imagine Entertainment/Cross Creek
Pictures, 123min) Direção: Ron Howard. Roteiro: Peter Morgan.
Fotografia: Anthony Dod Mantle. Montagem: Dan Hanley, Mike Hill. Música:
Hans Zimmer. Figurino: Julian Day. Direção de arte/cenários: Mark
Digby/Michelle Day. Produção executiva: Tobin Armbrust, Tim Bevan, Guy
East, Todd Hallowell, Nigel Sinclair, Tyler Thompson. Produção: Andrew
Eaton, Eric Fellner, Brian Grazer, Ron Howard, Peter Morgan, Brian
Oliver. Elenco: Chris Hemsworth, Daniel Bruhl, Olivia Wilde, Alexandra
Maria Lara, Pierfrancesco Favino, David Calder. Estreia: 02/9/13
(Festival de Londres)
O diretor Ron Howard tem uma forte tendência a recriar, em seus filmes,
histórias reais de superação e/ou rivalidade. Foi assim em "Apollo 13",
"Uma mente brilhante", "A luta pela esperança" e "Frost/Nixon". É assim
também em "Rush, no limite da emoção", que ilumina a rivalidade levada
às raias da obsessão entre os pilotos de Fórmula 1 James Hunt e Niki
Lauda, concentrando sua narrativa na emocionante temporada de 1976, uma das mais sensacionais da história do automobilismo.
Contando com um roteiro enxuto e direto de Peter Morgan - autor dos
scripts de "O aviador", "A rainha" e "Frost/Nixon", entre outros menos
cotados - o filme de Howard é uma aula de narrativa visual, que consegue
conquistar a admiração e a atenção até mesmo daqueles que veem o
esporte que consagrou Ayrton Senna com absoluta indiferença.
Apesar de começar sua narrativa quando os protagonistas ainda estão
engatinhando na Fórmula 3 - até como forma de estabelecer a idade de sua
rivalidade, concentrada basicamente em seus diferentes modos de ver a
carreira e lidar com a pressão das montadoras - "Rush" tem o bom senso
de não tentar contar toda a história de vida dos dois pilotos,
preferindo ater-se à tensão da temporada 1976, quando sua briga atingiu o
auge. Contando sua história com imagens poderosas e uma edição
impecável, Howard equilibra com perfeição os momentos mais pessoais dos
protagonistas - como suas relações matrimoniais - com sequências
abismais de corrida, fotografadas como nenhuma outra até hoje, que
praticamente leva o espectador para o meio das pistas. O realismo das
cenas é um dos maiores méritos do filme, que, além disso, não deixa de
lado a construção dramática de seus personagens e dá a seus atores
chances extraordinárias de mostrar serviço.
Se
Chris Hemsworth consegue deixar pra trás seu personagem mais famoso até
então, o super-heroi Thor, em um trabalho
bastante eficiente - apesar de seu James Hunt ser extremamente
apropriado a seu físico e à persona que ele vem construindo em sua
carreira - é Daniel Bruhl quem brilha na pele do rígido e focado Niki
Lauda, um homem obcecado com sua profissão a ponto de arriscar a vida
para provar seu talento. Injustamente esquecido pelas indicações ao
Oscar de coadjuvante -
apesar de ser tão protagonista (ou mais) quanto Hemsworth, foi nessa
categoria que ele concorreu ao Golden Globe - Bruhl está
irreconhecível sob a maquiagem que o transforma no piloto austríaco e
não tem medo de retratá-lo como alguém quase desagradável, em especial
diante do carisma de Hunt. Sempre que estão juntos em cena, os dois
atores fascinam o público, com uma química de causar faíscas, bastante
valorizada pelos ótimos diálogos de Morgan, que enfatizam sem didatismo
as diferenças cruciais entre os dois - e suas semelhanças óbvias.
A
rivalidade entre os dois - que remete, guardadas as devidas
proporções, ao multipremiado "Amadeus", de Milos Forman, que falava
sobre Mozart e Salieri - é o ponto alto de "Rush". É sua discussão sobre
as diferentes formas com que os gênios lidam com seus dons que move o
filme, que permanece na memória do espectador como o melhor retrato da
Fórmula 1 já mostrado no cinema. Mesmo que o final da história seja
conhecido - ou de fácil acesso em tempos de Internet - é impossível
tirar os olhos da tela. Graças ao conjunto de qualidades, é um dos
melhores filmes da temporada 2013, infelizmente ignorado pela Academia
até mesmo nas categorias técnicas - um trabalho irretocável e admirável.
Um filme que certamente será valorizado ainda mais com o passar dos
anos.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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