COHERENCE
(Coherence, 2013, Bellanova Films/Ugly Dukling Films, 89min) Direção:
James Ward Byrkit. Roteiro: James Ward Byrkit, estória de James Ward
Byrkit, Alex Manugian. Fotografia: Nic Sadler. Montagem: Lance Pereira.
Música: Kristin Ohrn Dyrud. Produção executiva: Alyssa Byrkit. Produção:
Lene Bausager. Elenco: Emily Baldoni, Maury Sterling, Nicholas Brendon,
Lorene Scafaria, Elizabeth Gracen, Hugo Armstrong, Alex Manugian,
Lauren Maher. Estreia: 19/9/13
Quando se fala em
ficção científica, imediatamente vem à cabeça dos cinéfilos a lista de
características que marcaram o gênero: naves espaciais, alienígenas,
efeitos especiais de última geração, enredos mirabolantes e um orçamento
estratosférico que justifique a invasão de praticamente todas as salas
de cinema do planeta. Felizmente, vez por outra um cineasta mais afeito
às ideias do que às bilheterias rompe a mesmice e surpreende o
espectador com um trabalho que põe por terra a teoria de que um bom
filme precisa de astros consagrados e um grande estúdio. Um desses muito
bem-vindos filmes é "Coherence", estreia de James Ward Byrkit como
cineasta de longas-metragens. Um dos autores do roteiro da animação
"Rango" (2011), Byrkit simplesmente faz o milagre de prender o público
unicamente pelo cérebro: sua complexa história depende totalmente da
atenção do espectador, que vai montando aos poucos o quebra-cabeças
proposto - e mesmo assim pode ser que muita gente termine a sessão com
mais perguntas que respostas (coisa que todo bom filme deveria fazer).
A
trama começa de forma tranquila e sem maiores sobressaltos: um grupo de
oito amigos se reúne para jantar na casa de dois deles e, como é de
costume, algumas tensões particulares são sentidas no ar, especialmente
graças à presença de Laurie (Lauren Maher), ex-namorada de um dos
convidados, Kevin (Maury Sterling), que está acompanhado da atual
companheira, Emily (Emily Foxler). Os anfitriões, Beth (Elizabeth
Gracen) e Hugh (Hugo Armstrong), tentam deixar as coisas mais leves, mas
além de dramas pessoais outra questão de certa forma preocupa os
convidados: a passagem iminente de um cometa anormalmente próximo da
atmosfera terrestre. Apesar das tranquilizadoras notícias dos cientistas
especializados no assunto de que tal evento não traz perigo ao planeta,
não demora para que acontecimentos estranhos passem a acontecer, a
começar por pequenas coisas, como falta de acesso à Internet e a quebra
inexplicável dos aparelhos celulares de dois dos presentes. Depois de
uma queda de luz repentina, Hugh resolve aventurar-se pelas quadras mais
próximas para buscar alguma explicação e sai acompanhado de outro
amigo, Amir (Alex Manugian). Eles descobrem que existe uma casa no
bairro que tem energia e resolvem ir até lá. Quando voltam, porém,
trazem consigo uma caixa que, quando aberta, contém fotografias de todos
os presentes, com números aleatórios escritos em seus versos. Essa é
apenas a primeira de uma série de misteriosas coincidências que irá
deixá-los acordados a noite inteira.
Contado
como uma espécie de "Além da imaginação" em tom mais sério, "Coherence"
é um filme capaz de deixar qualquer espectador, por mais experiente que
seja, com um ponto de interrogação na mente. Sem fazer concessões ao
mais simples, o roteiro de Byrkit exige atenção absoluta por parte de
todos, revelando com extrema parcimônia cada ângulo novo da história,
cada elemento da situação. A cada reviravolta que mostra, porém, convida
seu público a uma viagem fascinante por um mundo onde universos
paralelos são uma realidade e onde cada ato, por mais aleatório que
seja, pode trazer consequências inimagináveis. Acertadamente evitando
aprofundar-se nos dramas pessoais de seus personagens e focando-se
principalmente na tensão inerente aos acontecimentos que cercam a
passagem do cometa pela Terra, o cineasta mostra extrema precisão em seu
filme de estreia, revelando-se um nome promissor dentro de uma
indústria pouco chegada a grandes ousadias. Com pleno domínio sobre sua
narrativa - no que tem ajuda da edição enxuta e do elenco desconhecido
mas bastante eficiente em aproximar personagens da plateia - Byrkit
ainda faz um uso exemplar de elipses e da fotografia naturalista, que
deixa o clima de mistério ainda mais evidente a cada cena.
Tipo
de filme que merece - e precisa - ser visto mais de uma vez para que se
descubra todas as suas nuances e detalhes, "Coherence" é mais uma prova
incontestável do poder da inteligência e do talento sobre o dinheiro e a
propaganda. Praticamente desconhecido do grande público, é uma pérola
que merece ser descoberta e louvada como um sopro de ar fresco dentro de
um gênero cada vez mais preso a um conjunto de regras arcaicas e
previsíveis. Vale a pena experimentar e aceitar o jogo proposto. É
impossível ficar indiferente.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
segunda-feira
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