JOGOS
VORAZES: EM CHAMAS (The Hunger Games: Catching Fire, 2013, LionsGate,
146min) Direção: Francis Lawrence. Roteiro: Simon Beaufoy, Michael
deBruyn, romance de Suzanne Collins. Fotografia: Jo Willems. Montagem:
Alan Edward Bell. Música: James Newton Howard. Figurino: Trish
Summerville. Direção de arte/cenários: Philip Messina/Larry Dias.
Produção executiva: Suzanne Collins, Joseph Drake, Michael Paseornek,
Louise Rosner, Ali Shearmur. Produção: Nina Jacobson, Jon Kilik. Elenco:
Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Philip Seymour
Hoffman, Donald Sutherland, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Stanley
Tucci, Lenny Kravitz, JeffreY Wright, Amanda Plummer, Jena Malone, Toby
Jones, Lynn Cohen. Estreia: 18/11/13
Já está virando meio tradição dentro da indústria hollywoodiana: talvez
por não precisar apresentar seus personagens e poder partir direto pra
ação, talvez porque seus criadores sabem que a exigência do público
aumenta ou talvez porque existe uma maior familiaridade com o material,
os segundos capítulos da maioria das franquias cinematográficas
contemporâneas conseguem ser melhor que o original. Foi assim com o
"Homem-aranha 2" de Sam Raimi, com o "Batman, o cavaleiro das trevas",
de Christopher Nolan e com "X-Men 2", de Bryan Singer. E foi assim também com
"Jogos vorazes, em chamas", continuação do mega bem-sucedido filme de
2012 , baseado na trilogia escrita por Suzanne Collins. Agora sob a
batuta de Francis Lawrence - cujo currículo inclui o interessante
"Constantine" e a adaptação de "Eu sou a lenda" com Will Smith - a
história de Katniss Everdeen em sua luta pela sobrevivência em um jogo
de vida ou morte cada vez mais violento (e com intenções sociopolíticas
nada justas) e empolgante.
Conforme dito acima, "Em
chamas" tem a vantagem de não precisar perder
tempo explicando sua trama e apresentando seus personagens - e para isso
é crucial que a audiência já tenha assistido ao primeiro capítulo.
Quando o filme começa, com eventos que acontecem um ano após o término
do filme original, Katniss (Jennifer Lawrence, tornada queridinha de
Hollywood pelo Oscar de melhor atriz conquistado por "O lado bom da
vida") e seu parceiro Peeta Mellark (Josh Hutcherson), vencedores da
74ª edição dos jogos do título, começam uma turnê por todos os
distritos, como forma de aproximar-se da população e dar credibilidade
ao governo. Porém, ao perceber a desilusão do povo em relação os
problemas sociais que os cercam, o casal (forjado para vencer os jogos)
passa a questionar a liderança do Presidente Snow (Donald Sutherland).
Temendo uma revolução liderada por Katniss, o presidente cria uma nova
regra, que obriga
todos os vencedores prévios a lutar novamente - sua intenção é acabar
com a vida da jovem, impedindo assim que ela se torne a voz de um
levante popular.
Acrescentando
à série rostos conhecidos - Amanda Plummer, Jeffrey Wright, Jena Malone
como novos competidores e Philip Seymour Hoffman como o novo diretor do
torneio - "Em chamas" é mais violento do que seu primeiro capítulo, já
apontando a direção que os dois últimos filmes tomarão: cada vez mais
acossado, o vilão vivido por Donald Sutherland não hesita em transformar
seu governo em uma carnificina e os jogos em uma série de armadilhas
cruéis e traiçoeiras. Enquanto aprofunda também a relação entre Katniss e
Peeta, o roteiro embaralha as cartas de forma a confundir a plateia até
os minutos finais: em um golpe de mestre, a trama cerca a protagonista
de aliados e inimigos sem deixar claro nem a ela nem ao público quem é
quem - e qual é a sua real missão para acabar com os desmandos de um
governo exponencialmente mais sádico. Para isso cresce a importância de
Haymitch Abernathy (Woody Harrelson), que deixa de ser apenas um mentor
bêbado para mostrar sua verdadeira face em relação à revolução -
enquanto outros personagens transitam entre o bem e o mal aguardando a
oportunidade de tomar um partido definitivo.
Sob a forma de um filme de ação direcionado ao público infanto-juvenil -
o que explica a violência apenas moderada considerando as
possibilidades da trama - Lawrence aproveita a história de Suzanne
Collins para, exatamente como aconteceu no primeiro, discutir temas de
relevância, como desigualdade social, fascismo e manipulação por parte
da mídia. Logicamente, por tratar-se de uma produção cujo público-alvo
não estar exatamente disposto a querelas políticas, o subtema é tratado
apenas superficialmente (ainda que seja bastante claro para qualquer
pessoa minimamente esclarecida), como pano de fundo para uma obra que
oferece exatamente aquilo que sua plateia deseja: cenas de ação bem
realizadas, um triângulo amoroso eficiente, personagens cativantes
(interpretados por atores de qualidade inquestionável, como Philip
Seymour Hoffman e Jeffrey Right) e um ritmo incapaz de cansar, apesar
dos longos 146 minutos de projeção. Somadas a um criativo visual -
refletido no figurino irreverente de Trish Summerville - e um roteiro
redondinho - co-escrito por Simon Beaufoy, vencedor do Oscar por "Quem
quer ser um milionário?" - essas qualidades fazem com que o único
problema do filme seja justamente ter que esperar até o
próximo capítulo - que, segundo mais uma nova tradição imposta pela
busca por lucros, será dividido em dois filmes.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
terça-feira
JOGOS VORAZES - EM CHAMAS
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