5 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Martin Scorsese), Ator (Leonardo DiCaprio), Ator Coadjuvante (Jonah Hill), Roteiro Adaptado
Vencedor do Golden Globe de Melhor Ator Comédia/Musical (Leonardo DiCaprio)
Quando “O lobo de Wall Street”, 30º
longa-metragem de Martin Scorsese – contando-se os documentários e sua
participação no episódico “Contos de Nova York”, ao lado de Francis Ford
Coppola e Woody Allen – foi classificado como comédia pelos jornalistas
estrangeiros que elegem os vencedores dos cobiçados Golden Globes (que só
perdem para o Oscar em termos de importância no mercado norte-americano), muita
gente estranhou – até mesmo seu ator principal, Leonardo DiCaprio, que ganhou a
disputa da estatueta em sua categoria. Porém, o que talvez poucos tenham notado
é que, da maneira como foi filmada por Scorsese – no auge de uma energia
aparentemente inesgotável – a trajetória de altos e baixos (mais altos do que
baixos) do protagonista Jordan Belfort é, definitivamente, uma comédia.
Histérica, cruel, de humor nigérrimo e pouco dada a concessões ao riso fácil,
mas uma comédia. Das boas. E das mais inteligentes que se pode conceber em uma
indústria tão dada a suscetibilidades pudicas quanto a de Hollywood.
A história de Belfort – contada em
sua autobiografia, aqui adaptada com verve e extrema ironia por Terence Winter,
merecidamente indicado ao Oscar – não é engraçada, pelo menos pelos parâmetros
oficiais do termo: sua ascensão no mercado de ações, regada a muita droga,
corrupção e orgias das mais variadas e sua queda vertiginosa rumo às malhas da
lei, recheada de associações escusas e a perda da própria família, são
contundentes e tão violentas quanto aquelas mostradas pelo mesmo Scorsese em
“Os bons companheiros” (90), mas o cineasta nova-iorquino dessa vez resolveu
optar por um caminho menos óbvio e linear de retratá-las. Sai de cena a
crueldade sanguinolenta dos becos sórdidos do Bronx e entram em cena o luxo e o
glamour de mansões paquidérmicas. A ameaça não é mais representada por rivais
na disputa pela primazia no tráfico de drogas e sim por agentes da Receita
Federal pouco afeitos a negociatas. A paranoia, consequência do abuso de
tóxicos não mais assusta ou mata, e sim dá lugar a absurdas sequências de um
humor tão negro que até mesmo os mais atentos espectadores demoraram a
percebê-lo em sua totalidade. “O lobo de Wall Street” não faz rir através de
piadas fáceis. É preciso embarcar em sua visão particular de comédia para
chegar ao âmago de sua ironia iconoclasta e devastadora. Scorsese não quer
arrancar gargalhadas apelando para a vulgaridade – e quando joga diante do
espectador cenas explodindo de sexo e excessos de toda a espécie, é uma forma
de, através de uma lente de aumento, sublinhar o quão patética a ambição e a
decadência podem soar. Se no cinema do diretor nunca faltou descomedimento, em
“O lobo de Wall Street” ele é ainda mais explícito e crucial. É um meio
magistralmente manipulado para se chegar a um fim de inegável impacto e
genialidade.
Deixando de lado a inocência de seu
filme anterior, o poético e deslumbrante “A invenção de Hugo Cabret”, Martin
Scorsese faz, em “O lobo de Wall Street” um inventário impiedoso e barulhento
de toda a parafernália amoral e inescrupulosa da mais individualista do século
XX, os insensíveis anos 80 que tão bem foram definidos por Gordon Geko, o
personagem do oscarizado Michael Douglas em “Wall Street: poder e cobiça” (87):
do alto de sua arrogância yuppie, ele declarava, com um sorriso cínico
estampado, que “ganância é bom!”. E ganância é a palavra-chave na história de
Jordan Belfort, interpretado na linha exata entre o deboche escrachado a fina
ironia por um Leonardo DiCaprio no auge de sua colaboração com o diretor.
Recebido em Wall Street como um rapaz ambicioso mas ainda ingênuo que escapa de
ser devorado por homens como seu mentor Mark Hannah (Matthew McConaughey) graças a um
apurado instinto de sobrevivência, Belfort se vê repentinamente no meio de uma
crise financeira que o faz perder o emprego e quase aniquila com suas
esperanças. Porém, utilizando-se dos conhecimentos adquiridos em sua rápida
passagem pelo alto mercado financeiro, ele logo encontra um jeito de arrumar
uma recolocação ainda mais promissora: em pouco tempo, ele passa de empregado
de uma corretora de fundo-de-quintal (dirigida pelo também cineasta Spike Jonze
em ponta não-creditada) a dono de uma empresa de ações. Desprovidos de qualquer
tipo de ética, Belfort e seu sócio, Donnie (Jonah Hill, indicado ao Oscar de
ator coadjuvante), junto com um grupo de amigos, tornam-se milionários da noite
para o dia – e com os dólares em profusão vem também a possibilidade de queda.
Entregando-se sem medo a
exorbitâncias materiais, sexuais e alucinógenas, Jordan abandona a esposa,
casa-se com a bela Naomi LaPaglia (Margot Robbie) e, cada vez mais rico, chama a atenção da
Receita Federal e do FBI, na figura do honesto e implacável Patrick Denham (Kyle Chandler).
Começa, então, uma corrida para manter a salvo sua liberdade, sua reputação e principalmente
sua fortuna. Em uma edição progressivamente mais ágil e febril – a cargo da
habitual parceira de Scorsese, a veterana Thelma Schoonmaker, vencedora do
Oscar por “Touro indomável” (80) e “Os infiltrados” (06) – o filme vai se
tornando a cada cena mais histérico (no bom sentido) e alucinado. Brincando com
o tempo de forma genial, Scorsese e Schoonmaker comprimem meses em rápidos
segundos e se dão ao luxo de gastar vários minutos em uma única cena
aparentemente simples – e ainda oferecem à plateia uma longa sequência e
divertidíssima sequência em que Belfort, sentindo o resultado de uma vasta
quantidade de anfetaminas ingeridas como balas, se vê repentinamente vítima de
uma temporária paralisia cerebral: o resultado da cena e suas consequências mostram
o total domínio técnico do cineasta e sua inteligência em modelar o roteiro a
seu estilo inconfundível (mas sempre imprevisível) de filmar. Não à toa, mesmo
com a profusão de cenas de sexo e consumo de drogas de seu filme – uma afronta
à moral e aos bons costumes pregados pela Academia – Scorsese acabou
concorrendo ao Oscar por seu trabalho (junto com as indicações a melhor filme,
roteiro, ator e ator coadjuvante).
Implacável no retrato debochado de
um estilo de vida em que o glamour convive lado a lado com uma inconfundível
cafonice, Scorsese fez de “O lobo de Wall Street” uma obra-prima do sarcasmo.
Contando com um elenco coadjuvante que se dá ao luxo de ter os também cineastas
Jon Favreau e Rob Reiner (na pele do irascível pai do protagonista) e o
oscarizado Jean Dujardin (de “O artista” (11)) em pequenos papéis, ele brinca
com a falta de moralidade ianque e tira sarro da suposta sobriedade do mercado
financeiro mais importante do mundo. Não é à toa que poucos acharam graça na
brincadeira.
Um comentário:
O lobo de Wall Street é interessante, não? Também achei uma excelente produção. O elenco fez um excelente trabalho no filme. Matthew McConaughey esta impecável no filme, ele sempre surpreende com os seus papeis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções. Adoro porque sua atuação não é forçada em absoluto. Seguramente o êxito de filmes com Matthew McConaughey deve-se a auas expressões faciais, movimentos, a maneira como chora, ri, ama, tudo parece puramente genuíno. Este ator nos deixa outro projeto de qualidade, de todas as suas filmografias essa é a que eu mais gostei, acho que deve ser a grande variedade de talentos. É uma produção espetacular, desfrutei muito.
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