A DAMA DE VERMELHO (The woman in red, 1984, MGM Pictures, 87min) Direção: Gene Wilder. Roteiro: Gene Wilder, roteiro original do filme "Un elephant ca trompe enormement", de Yves Robert, Jean-Loup Dabadie. Fotografia: Fred Schuler. Montagem: Christopher Greenbury. Música: John Morris. Figurino: Ruth Myers. Direção de arte/cenários: David L. Snyder/Peg Cummings. Produção executiva: Jack Frost Sanders. Produção: Victor Drai. Elenco: Gene Wilder, Kelly Le Brok, Charles Grodin, Judith Ivey, Gilda Radner, Joseph Bologna, Michael Huddleston. Elenco: 14/8/83
Vencedor do Oscar de Melhor Canção ("I just called to say 'I love you'")
Vencedor do Golden Globe de Melhor Canção ("I just called to say 'I love you'")
O ator Gene Wilder todo mundo conhece: é aquele que fez o Willy Wonka da primeira versão de "A fantástica fábrica de chocolates" (71), a raposa da adaptação musical de "O pequeno príncipe" (74) e o homem casado que se apaixonava por uma ovelha em "Tudo que você sempre quis saber sobre sexo (mas tinha medo de perguntar)" (72), de Woody Allen. O cineasta Gene Wilder, porém, é bem menos conhecido, até mesmo pelos mais calorosos fãs da sétima arte: com apenas três filmes no currículo, Wilder conheceu o sucesso já em seu segundo trabalho, a refilmagem de uma comédia francesa de 1976 que tratava, de forma irônica, dos dessabores do adultério na vida de um homem comum. Com o título de "A dama de vermelho", seu filme acabou dando um Oscar de melhor canção a Stevie Wonder (a deliciosa "I just called to say 'I love you'") e revelando a belíssima Kelly Le Brok, que fez apenas mais um filme relativamente importante na carreira (a comédia adolescente "Mulher nota 1000"), casou-se com Steven Segal e hoje é apenas mais um nome da década de 80 que sumiu sem deixar maiores vestígios.
Com sua cara de nerd desesperado, Wilder nem precisa fazer muita força para despertar risadas com seu personagem, Theodore Pierce, um profissional da publicidade que, bem casado e pai de família exemplar, cai de amores pela bela modelo Charlotte (Kelly Le Brok parecidíssima com Liv Tyler) no momento em que a vê pela primeira vez, tendo sua saia vermelha levantada à la Marilyn Monroe. Excitado pela possibilidade de levá-la pra cama, Theodore começa uma rede de mentiras e mal-entendidos que envolve uma das secretárias de sua agência (a esposa de Wilder, a ótima Gilda Radner) e seus melhores amigos - um dos quais teve seu casamento posto em risco devido a suas próprias escapadelas sexuais. Mesmo sabendo das consequências que sua traição pode acarretar, incluindo o fim de sua relação com a aparentemente dócil Didi (Judith Ivey), Pierce embarca sem pensar duas vezes na tentativa de conquistar a estonteante dama de vermelho.
As trapalhadas de Pierce atrás de Charlotte - que incluem uma sessão desastrada em um salão de beleza e uma tentativa de cavalgar em um haras milionário - são a base de "A dama de vermelho", cujo roteiro também é escrito por Wilder. Durante dois terços do filme, não cabe mais a Le Brock do que desfilar sua beleza pela tela e dizer meia-dúzia de palavras, enquanto o show pertence ao ator, que deita e rola com as possibilidades da trama, especialmente quando encontra com Gilda Radner, a secretária que se torna sua inimiga mortal depois de um encontro mal-sucedido. Mesmo sem dizer uma palavra, Radner, com seu timing perfeito, é capaz de fazer rir justamente por seu silêncio raivoso, como uma Glenn Close de "Atração fatal" sem as cenas de sexo, mas com a mesma sede de vingança. E é também interessante a maneira como Wilder ilustra seu conto sobre adultério com histórias paralelas pouco auspiciosas - que, no entanto, não o demovem um centímetro de seu desejo lúbrico e arriscado.
Ligeira e leve - apesar do tema, Wilder jamais carrega as tintas no erotismo ou na vulgaridade para a qual poderia facilmente descambar caso fosse menos inteligente e mais afeito a risadas fáceis - "A dama de vermelho" é uma comédia sem contra-indicações. É agradável, engraçada de verdade, simpática e, mais importante do que tudo, jamais cai na tentação de julgar seus personagens, tornando-os mais críveis do que se espera em uma comédia (apesar de Le Brock descrever o protagonista como "bonitinho", é possível deixar esse pequeno lapso escapar graças à empatia dos atores e dos personagens). No final das contas, é um clássico da "Sessão da Tarde", o que diz muito sobre sua ingenuidade em tempos tão explícitos quanto os de hoje. Uma sessão nostálgica e divertida.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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