ROXANNE (Roxanne, 1987, Columbia Pictures, 107min) Direção: Fred
Schepisi. Roteiro: Steve Martin, peça teatral "Cyrano de Bergerac", de
Edmond Rostand. Fotografia: Ian Baker. Montagem: John Scott. Música:
Bruce Smeaton. Direção de arte/cenários: Jack DeGovia/Kimberly
Richardson. Produção executiva: Steve Martin. Produção: Daniel Melnick,
Michael Rachmil. Elenco: Steve Martin, Daryl Hannah, Rick Rossovich,
Shelley Duvall, John Kapelos, Damon Wayans. Estreia: 19/6/87
A
peça "Cyrano de Bergerac", escrita pelo dramaturgo francês Edmond
Rostand foi encenada pela primeira vez em 1897, e desde que o cinema a
descobriu, em 1946, em uma produção francesa estrelada por Claude
Dauphin, a história de amor entre o poético texto teatral e as inúmeras
possibilidades das telas nunca mais se separaram: em 1950, José Ferrer
levou o Oscar e o Golden Globe por sua interpretação e em 1990, Gérard
Depardieu foi indicado à estatueta dourada, entre outras versões que
incluem até mesmo uma produção japonesa com Toshiro Mifune. Em 1987, a
trama repleta de mal-entendidos, amores frustrados e derramado
romantismo chegou à Hollywood modificada pelo humor particular de Steve
Martin. "Roxanne", escrito e estrelado pelo ator, é uma adaptação
modernizada e simpática que respeita sua versão original - apesar de
acertadamente limar a narrativa em formato de versos - sem nunca
tornar-se teatro filmado. Contando com o timing perfeito de Martin e uma
Daryl Hannah no auge da beleza, o filme ressente-se apenas de uma
direção pesada demais para o gênero: o australiano Fred Schepisi sai-se
muito bem em filmes dramáticos, como "Plenty, o mundo de uma mulher"
(85) e o posterior "Um grito no escuro" (89) - ambos estrelados por
Meryl Streep - mas carrega demais a mão no que poderia ser um de seus
maiores cartões de visita comerciais.
Não que "Roxanne"
tenha sido um fracasso, muito pelo contrário. Com uma renda de cerca de
40 milhões de dólares somente nos EUA, o filme foi responsável por,
pela primeira vez em sua carreira, dar a Steve Martin o status de ator,
substituindo sua definição anterior de comediante. Nada mais merecido,
uma vez que é ele, do alto de sua versatilidade, que imprime a cada cena
uma personalidade que dá a energia que move o filme, compensando a
quase apatia de Rick Rossovich no papel do galã Chris. Martin brilha
especialmente quando precisa utilizar-se de seu carisma em cenas como
aquela em que, dentro de um bar lotado, faz piadas com seu próprio
defeito físico. Esse senso de humor, aliado a um romantismo quase
ingênuo, é que faz com que a plateia se deixe seduzir alegremente por
uma história já tão conhecida - ainda que seu final tenha sido
radicalmente modificado para deixar todo mundo feliz.
A
versão light da obra de Rostand se passa em uma pequena cidade do
interior de Washington, um lugar calmo e tranquilo que só dá trabalho ao
corpo de bombeiros quando algum gato sobe em uma árvore e coisas do
tipo. Isso não impede que o chefe do grupo, o simpático C. D. Bales
(Steve Martin) seja admirado por toda a cidade, graças à sua
inteligência e seu carisma. Seu único problema é o nariz gigantesco, que
serve de alvo de constantes piadas e o impede de passar despercebido
por qualquer lugar. Um dia, Bales cai de amores por Roxanne (Daryl
Hannah), jovem astrônoma que chega ao local para passar o verão e
estudar um astro recém descoberto. Bales, porém, sai da jogada assim que
percebe que a bela forasteira está interessada em Chris (Rick
Rossovich), novo integrante do grupo de bombeiros que, apesar de
bonitão, não tem nenhum traquejo social e é burro como uma porta. Sua
situação fica complicada quando Chris pede ajuda a ele para conquistar
Roxanne e, através de cartas - onde declara toda sua paixão por ela -
ele acaba unindo o casal. Como a mentira tem perna curta, porém, as
coisas vão acabar indo por um caminho bem menos tranquilo.
"Roxanne"
é um passatempo agradável e simpático como seu protagonista. Equilibra
cenas bastante engraçadas - em especial as que envolvem os atrapalhados
bombeiros liderados por Bales - com sequências de um romantismo delicado
e repleto de senso de humor. Steve Martin foi indicado ao Golden Globe
de melhor ator em comédia/musical, além de ter empatado com Jack
Nicholson como o melhor ator do ano pela Associação de Críticos de Nova
York e ter sido eleito o vencedor pela Sociedade Nacional de Críticos de
Cinema. Apesar de ter sido esnobado pelo Oscar - como normalmente
acontece com atores cômicos - ele apresentou um dos mais consistentes
trabalhos de atuação de 1987, e se o filme merece ser visto é, em boa
parte, devido a seu enorme talento em transformar comédia em arte. Mesmo
que seja por pouco mais de hora e meia de projeção.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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