A HONRA DO PODEROSO PRIZZI (Prizzi's honor, 1985, ABC Motion
Pictures, 130min) Direção: John Huston. Roteiro: Richard Condon, Janet
Roach, romance de Richard Condon. Fotografia: Andrzej Bartkowiak.
Montagem: Kaja Fehr, Rudi Fehr. Música: Alex North. Figurino: Donfeld.
Direção de arte/cenários: Dennis Washington/Bruce Weintraub. Produção:
John Foreman. Elenco: Jack Nicholson, Kathleen Turner, Robert Loggia,
John Randolph, William Hickey, Anjelica Huston, Lawrence Tierney, Lee
Richardson. Estreia: 13/6/85
8 indicações ao
Oscar: Melhor Filme, Diretor (John Huston), Ator (Jack Nicholson), Ator
Coadjuvante (William Hickey), Atriz Coadjuvante (Anjelica Huston),
Roteiro Adaptado, Montagem, Figurino
Vencedor do Oscar de Atriz Coadjuvante (Anjelica Huston)
Vencedor
de 4 Golden Globes: Melhor Comédia/Musical, Diretor (John Huston), Ator
Comédia/Musical (Jack Nicholson), Atriz Comédia/Musical (Kathleen
Turner)
Penúltimo filme da carreira de John Huston - o derradeiro seria "Os vivos e os mortos" (88), adaptado de conto de James Joyce - e último realizado nos EUA, "A honra do poderoso Prizzi" surpreende pela energia imposta pelo então quase octogenário cineasta a uma trama que mistura no mesmo caldeirão um filme de máfia, uma comédia de humor negro e uma crítica à hipocrisia da sociedade patriarcal e machista da América. Adaptado de um romance de Richard Condon, o filme foi lançado às pressas nos EUA porque o estúdio considerava que o material não tinha estofo comercial, mas acabou sendo contrariado pelas críticas mais do que positivas, pelo sucesso de público e, melhor ainda, pelas generosas oito indicações ao Oscar - e pela estatueta mais do que justa abocanhada por Anjelica Huston, que ficou com o papel oferecido a atrizes tão díspares quanto Mia Farrow, Demi Moore e Michelle Pfeiffer e provou que era mais do que simplesmente a filha do diretor e namorada de Jack Nicholson.
Nicholson, aliás, está em um de seus desempenhos mais discretos, sem o arsenal de caras e bocas que marcaram sua carreira - e também recebeu uma justa indicação ao Oscar. Ele vive Charley Partanna, o afilhado do poderoso Don Corrado Prizzi (William Hickey), chefe de um das mais poderosas famílias mafiosas dos EUA. Trabalhando para a família como matador, ele também tem relações com o passado da neta de Corrado, a ousada Maerose (Anjelica Huston), com quem mantinha um relacionamento que acabou com uma tumultuada separação e a expulsão dela do rígido clã. Em uma festa de casamento, Partanna cai de amores pela bela Irene Walker (Kathleen Turner), que está em Nova York a negócios. Os dois iniciam um tórrido romance que acaba em casamento, mas logo as coisas se mostram bem mais complicadas do que pareciam a princípio, já que ambos tem a mesma profissão e não demora para que sejam contratados para matar um ao outro.
Com um roteiro brilhante co-escrito pelo autor do romance que lhe deu origem, "A honra do poderoso Prizzi" brinca com os clichês dos filmes de máfia sem nunca deixar de prestar-lhe os devidos tributos de cânones essenciais da cultura cinematográfica americana. Evitando a violência explícita - mesmo as cenas de morte tem um pé no surreal, o que as deixa no mínimo bizarras - e utilizando um senso de humor mordaz que encontra em seus atores os intérpretes ideais, Huston conduz as reviravoltas de seu filme com a segurança de um cineasta que sabe melhor do que ninguém - a julgar por sua cinematografia cínica e quase cruel - como funciona a alma daqueles cidadãos cujas regras são ditadas por seus próprios interesses e ambições. Um dos últimos diretores da velha guarda de Hollywood, ele não deixa de lado a elegância nem mesmo quando seus personagens agem de forma egoísta ou violenta. Pode-se até dizer que "Prizzi" é um filme de gângster sem sangue algum - até mesmo em seu clímax existe uma discrição à moda antiga, como se seguisse a máxima de Hitchcock, que dizia que um assassinato
"A honra do poderoso Prizzi" chegou ao Oscar enfrentando a concorrência quase injusta de "Entre dois amores", de Sydney Pollack, que com suas características de épico romântico deixou todos os indicados do ano comendo poeira, incluindo o belíssimo "A cor púrpura", de Steven Spielberg. Mesmo tendo o aval do Golden Globe, onde teve sorte bem melhor, o filme de Huston ficou apenas com a estatueta de Anjelica, o que nem de longe reflete suas inúmeras qualidades. Um retrato bem-humorado do mundo da máfia mas que jamais abandona seu jeitão de filme de gângster, é uma pequena obra-prima de um dos mais importantes cineastas da história do cinema ianque e, de quebra, apresenta uma química de ouro entre Jack Nicholson, Anjelica Huston e Kathleen Turner. Um filme para quem gosta de cinemão.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
JADE
JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...
-
EVIL: RAÍZES DO MAL (Ondskan, 2003, Moviola Film, 113min) Direção: Mikael Hafstrom. Roteiro: Hans Gunnarsson, Mikael Hafstrom, Klas Osterg...
-
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Paku...
-
NÃO FALE O MAL (Speak no evil, 2022, Profile Pictures/OAK Motion Pictures/Det Danske Filminstitut, 97min) Direção: Christian Tafdrup. Roteir...
Nenhum comentário:
Postar um comentário