SOB SUSPEITA (Suspect, 1987, TriStar Pictures, 121min) Direção:
Peter Yates. Roteiro: Eric Roth. Fotografia: Billy Williams. Montagem:
Ray Lovejoy. Música: Michael Kamen. Figurino: Rita Ryack. Direção de
arte: Stuart Wurtzel. Produção executiva: John Veitch. Produção: Daniel
A. Sherkow. Elenco: Cher, Dennis Quaid, Liam Neeson, John Mahoney, Joe
Mantegna, Philip Bosco. Estreia: 23/10/87
Em seu
caminho para tornar-se uma atriz séria e respeitada - e não apenas uma
figura excêntrica do mundo pop, como apontava sua carreira como cantora
ao lado do marido Sonny Bono nos anos 60 - Cher soube escolher como
ninguém seus papéis. Foi indicada ao Oscar de coadjuvante pela lésbica
que viveu em "Silkwood, o retrato de uma coragem" (83), ao lado de Meryl
Streep e foi eleita a melhor atriz do Festival de Cannes 1985 como a
mãe coragem de um adolescente deformado por uma doença rara em "Marcas
do destino". No mesmo ano em que finalmente levou pra casa sua estatueta
dourada pela comédia romântica "Feitiço da lua", ela demonstrou
versatilidade em dois outros filmes radicalmente diferentes: na mescla
de humor negro/horror/comédia "As bruxas de Eastwick", de George Miller
(em que atuou ao lado do já consagrado Jack Nicholson e das futuras
estrelas Michelle Pfeiffer e Susan Sarandon) e em "Sob suspeita", um
correto mas burocrático drama de tribunal dirigido pelo veterano Peter
Yates. Na pele de uma defensora pública envolvida em um crime
aparentemente banal, a estrela que um dia fez pouco dos conselhos da
tradicional Academia de Hollywood para vestir-se como uma atriz séria
mostrou que não é o figurino que
No filme de Yates,
Cher vive Kathleen Riley, uma defensora pública de Washington solitária e
levemente workaholic que, às vésperas do Natal recebe a incumbência de
defender um sem-teto acusado de ter assassinado a secretária de um juiz
que acaba de se suicidar. O caso é, a príncipio, bastante simples. O
réu, Carl Wayne Anderson (Liam Neeson) estava de posse da bolsa da
vítima e foi encontrado dormindo em seu carro, o que imediatamente o
coloca como culpado aos olhos de todo o tribunal. Porém, Riley não é de
desistir tão facilmente, principalmente quando descobre que seu cliente é
surdo-mudo, vítima da guerra do Vietnã. Enquanto tenta provar sua
inocência - mesmo sendo sistematicamente boicotada pelo juiz Helms (John
Mahoney) - ela conta com a inesperada ajuda do lobista Eddie Sanger
(Dennis Quaid), com quem acaba se envolvendo.
Como todo
bom filme de tribunal, "Sob suspeita" não prescinde das reviravoltas
que levam a trama aparentemente simples a caminhos perigosos e jamais
imaginados inicialmente. O roteiro de Eric Roth - que menos de uma
década depois levaria um Oscar por "Forrest Gump, o contador de
histórias" (94) - é feliz em desenhar sua história sem pressa, levando o
espectador a descobrir junto com os protagonistas a teia de conspiração
que se revela no último ato, apesar do final anti-climático. Apesar de
não dividirem muitas cenas românticas, Cher e Dennis Quaid tem uma
química interessante e ela demonstra uma segurança em cena que demonstra
claramente que já estava mais do que preparada para o prestígio que
viria a obter em seguida. Seus duelos com Liam Neeson - que fala com os
olhos e com o corpo mais do que o suficiente para prender a atenção da
plateia - são repletos de uma tensão que infelizmente não se mantém no
restante do filme, que muitas vezes se perde em cenas pouco
interessantes. Felizmente, no entanto, "Sob suspeita" tem mais
qualidades do que defeitos, o que faz dele um bom programa para fãs do
gênero (ou da atriz).
É dificil gostar de filmes de
tribunal e não se deixar conquistar por "Sob suspeita". É bem escrito,
dirigido com correção e interpretado por atores extremamente
competentes, além de ter uma trama com uma boa cota de reviravoltas que
não apelam para a violência gratuita ou para o sadismo puro e simples de
muitos filmes que se arriscam a contar histórias policiais. No final
das contas, é mais um bom trabalho de Cher como atriz, provando-a uma
artista multi-facetada que infelizmente deixou o cinema de lado a partir
do final da década de 90 para voltar a dedicar-se à música pop.
Ganharam as pistas de dança, mas perdeu o cinema.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
terça-feira
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