O REENCONTRO (The big chill, 1983, Columbia Pictures, 105min) Direção: Lawrence Kasdan. Roteiro: Lawrence Kasdan, Barbara Benedek. Fotografia: John Bailey. Montagem: Carol Littleton. Figurino: April Ferry. Direção de arte/cenários: Ida Random/George Gaines. Produção executiva: Lawrence Kasdan, Marcia Nasatir. Produção: Michael Shamberg. Elenco: Glenn Close, Kevin Kline, William Hurt, Tom Berenger, Jeff Goldblum, Jobeth Williams, Mary Kay Place, Meg Tilly. Estreia: 09/9/83
3 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Atriz Coadjuvante (Glenn Close), Roteiro Original
Um grupo de amigos, unidos na juventude idealista, são obrigados a confrontarem o que fizeram de suas vidas quando voltam a se encontrar, no funeral de um deles. Tal reunião, logicamente, traz à tona frustrações profissionais, romances interrompidos e a sensação de que o tempo, cruel e implacável, pode tê-los transformados naquilo que eles mais desprezavam: membros capitalistas de um sistema que afrontava suas aspirações pessoais. Essa história, que hoje é velha conhecida dos fãs de cinema, foi tratada de diversas maneiras, tanto em tom cômico quanto em nuances dramáticas, em filmes com inúmeros graus de qualidade. Mas o pai de todos eles, aquele que deu origem a esse quase sub-gênero do cinema mundial (até mesmo a França bebeu em sua fonte, recentemente, com o belo "Até a eternidade", dirigido pelo ator Guillaume Caunet) é o já clássico "O reencontro", lançado por Lawrence Kasdan em 1983. Co-roteirista de "Os caçadores da arca perdida" (81) e "O império contra-ataca" (80), dentre outros sucessos, e diretor do elogiado "Corpos ardentes" (81), Kasdan escreveu seu roteiro inspirado em colegas com quem conviveu durante seus anos de universidade, o que dá a ele um senso de verdade poucas vezes visto em seus congêneres. Resultado: três indicações ao Oscar - incluindo filme e roteiro original - e uma aura de doce melancolia que se mantém fresca e atual mesmo depois de três décadas.
Para contar sua história de perdas e emoções, Kasdan teve a sorte de reunir um elenco extraordinário, com nomes populares do cinema americano de sua época que teriam, pelos próximos anos, um sucesso ainda maior, com indicações (e vitórias) no Oscar e enormes êxitos de bilheteria. Glenn Close - que chegou a concorrer ao Oscar de coadjuvante por seu desempenho, de certa forma representando o elenco inteiro - faria em breve "Atração fatal" (87) e "Ligações perigosas" (88), que também lhe levaram ao caminho da estatueta, que foi mais simpática com William Hurt - premiado como melhor ator por "O beijo da mulher-aranha" (85) - e Kevin Kline - que amealhou o prêmio de coadjuvante por "Um peixe chamado Wanda" (88). Tom Berenger concorreu também como coadjuvante por "Platoon" (86), e Jeff Goldblum tornou-se sinônimo de sucesso na década de 90 por seu trabalho nos blockbusters "Jurassic Park" (93) e "Independence day" (96). Juntos a Jobeth Williams - a mãe de família de "Poltergeist, o fenômeno" (82), Mary Kay Place e Meg Tilly - que também chegaria a concorrer ao prêmio da Academia como a freira acusada de matar seu filho recém-nascido em "Agnes de Deus" (85) - eles formam um time imbatível, capaz de prender a atenção do público mesmo com uma trama sem maiores lances e acontecimentos dramáticos. "O reencontro" é um filme de pequenos momentos, recheado de um inusitado senso de humor, ritmo adequado, cenas emocionantes e uma deliciosa trilha sonora que busca nos anos 60 sua matéria-prima.
Kevin Costner chegou a filmar algumas cenas com Alex, o suicida cuja morte catalisa o reencontro do título, mas teve suas cenas cortadas na edição final - Kasdan o recompensaria futuramente lhe dando um papel importante nos faroestes "Silverado" (85) e "Wyatt Earp" (94). O fim trágico de seu personagem dá o pontapé inicial ao filme, já que seus amigos, distanciados uns dos outros por compromissos profissionais, por estilos de vida e até mesmo por alguns problemas românticos, são obrigados a uma reunião inesperada que lhes dará, depois do choque, novos pontos de vista sobre suas vidas. Harold (Kevin Kline) e Sarah (Glenn Close) parecem os mais abalados pelo suicídio de Alex, uma vez que foi cometido durante uma temporada em sua casa - e também porque ele foi o pivô de uma crise no casamento dos amigos depois de um rápido caso com Sarah. A namorada do morto, Chloe (Meg Tilly) dá a impressão de não ter se abalado tanto assim com a tragédia, como se visse de outro nível a complexa teia de relações que se desenrola diante de seus olhos no fim-de-semana que todos dividem após o funeral. Meg (Mary Kay Place) é uma advogada corporativista infeliz com sua carreira e disposta a convencer um dos amigos a ser o pai de um filho seu; Michael (Jeff Goldblum) é um repórter de amenidades que precisa lidar com o fato de ter escrito um perfil pouco elogioso de Sam Weber (Tom Berenger), ator de uma série de TV medíocre, mas de muito sucesso popular e que balança ao reencontrar Karen (Jobeth Williams), por quem sempre foi apaixonado, mas que está vivendo um casamento estável e seguro. E Nicholas (William Hurt) tenta lidar com sua experiência no Vietnã - e suas consequências - convivendo com drogas e bebida.
A forma elegante e carinhosa com que Kasdan lida com seus personagens e seus dramas é um dos maiores méritos de "O reencontro". Por mais que alguns deles não sejam exatamente simpáticos ou ajam de maneira correta ou ética, é difícil não encontrar em cada um deles um rasgo de humanidade, de verdade, de sensibilidade. Glenn Close - justificando sua indicação ao Oscar - vive talvez a personagem mais complexa, uma Sarah que ama o marido e a família e busca conviver com um erro passado ao mesmo tempo em que também encara de frente a diferença entre tudo que quis ser e o que é em seu dia-a-dia. No final, quando tenta resgatar essa mulher do passado tomando uma atitude corajosa (e um tanto polêmica), fica claro ao público que tudo que os personagens de Kasdan querem é voltar a ser o que foram na juventude: idealistas, felizes, esperançosos e rebeldes. Mas a vida passa, o tempo é implacável e os caminhos nem sempre são fáceis. E é isso que "O reencontro" demonstra, ao som de músicas que acariciam os ouvidos e diálogos saborosos recitados por atores em dias inspirados. Cinema de primeira qualidade.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
sábado
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