UM
TOQUE DE INFIDELIDADE (Cousins, 1989, Paramount Pictures, 109min)
Direção: Joel Schumacher. Roteiro: Stephen Metcalfe, roteiro original do
filme "Cousin, cousine", de Jean-Charles Tacchella. Fotografia: Ralf
Bode. Montagem: Robert Brown. Música: Angelo Badalamenti. Figurino:
Michael Kaplan. Direção de arte/cenários: Mark S. Freeborn/Linda Vipond.
Produção executiva: George Goodman. Produção: William Allyn. Elenco:
Ted Danson, Isabella Rossellini, Sean Young, William Petersen, Norma
Aleandro, Lloyd Bridges, Keith Coogan. Estreia: 10/02/89
Em
1975, uma comédia francesa sobre adultério e romance entre dois primos
circunstanciais rompeu a tradicional barreira do idioma e, sucesso de
bilheteria nos EUA, chegou a concorrer a três estatuetas do Oscar: filme
estrangeiro, atriz e roteiro original. Mesmo tendo perdido em todas as
categorias que disputava, "Primo, prima", dirigido por Jean-Charles
Tacchella acabou agradando em cheio aos estúdios americanos, sempre
ávidos por histórias que podem ser recontadas ao estilo hollywoodiano -
leia-se de forma mais comercial e superficial. Sendo assim, até
que demorou que sua refilmagem chegasse aos cinemas, rebatizada no
Brasil como "Um toque de infidelidade" - o título original era mais
próximo do original francês, mas até que dessa vez os distribuidores
nacionais não erraram tão feio assim. Dirigida por Joel Schumacher - um
cineasta por vezes competente, por vezes desastroso e muito de vez em
quando quase brilhante - a comédia romântica estrelada pela bela
Isabella Rossellini e pelo feioso Ted Danson (em alta pelo sucesso de
"Três solteirões e um bebê" (87), também oriunda de um filme francês) é
simpática e leve, mas incorre no erro mais previsível de todos: não
acrescenta nada ao gênero e não fica registrada na mente do espectador.
Não
deixa de ser irônico que Rossellini - ela mesma fruto de um dos mais
escandalosos casos de adultérios de Hollywood, entre a atriz Ingrid
Bergman e o diretor Roberto Rossellini - seja a estrela de "Um toque de
infidelidade", apesar de sua escolha ser um dos acertos da produção.
Bela e etérea, Rossellini desfila sua classe e elegância naturais pela
tela mesmo quando sua personagem, a dedicada e paciente Maria, prescinde
dessas qualidades: trabalhando em um escritório de advocacia, ela é
casada com o galinha Tom (William Petersen, que anos depois seria o
protagonista da telessérie "CSI") e faz vista grossa às inúmeras puladas
de cerca do marido, principalmente para manter a harmonia do lar e a
segurança da filha pequena. Essa harmonia começa a mostrar sinais de
rachadura, porém, depois da festa de casamento de Edie (Norma Aleandro),
sua mãe, com Phil (George Coe), tio do charmoso professor de dança de
salão Larry (Ted Danson): durante a comemoração, Tom inicia um romance
pouco discreto com Tish (Sean Young), a segunda mulher peruíssima de
Larry. Sem vocação para barracos, Larry e Maria iniciam uma amizade
calcada na compreensão mútua, mas, como não poderia deixar de acontecer,
se apaixonam um pelo outro.
"Um
toque de infidelidade" trai sua origem francesa no formato episódico
com que narra sua estória, situando boa parte de sua trama em cerimônias
de casamento e até mesmo em um enterro, em uma estrutura que anos
depois faria a glória do bem-sucedido "Quatro casamentos e um funeral"
(94). A história do amor enrustido entre Larry e Maria - singelo e
verdadeiro - em contraponto à relação explosiva e fugaz de Tom e Tish é
oferecido ao público em cenas rápidas e leves, que tira proveito das
embaraçosas anedotas familiares e sociais que sempre ocorrem em reuniões
entre pais, filhos e afins. Para isso, aproveita-se da ótima química
entre Lloyd Bridges e o adolescente Keith Coogan como um avô apaixonado e
seu neto com tendências socialistas - que chega ao extremo de editar um
vídeo de casamento com imagens da fome no continente africano apenas
para chocar os parentes. São coadjuvantes como eles - e uma tia idosa e
preconceituosa - que dão o tempero cômico à história que, não fosse por
isso, choveria no molhado e morreria na praia das boas intenções.
Porém,
mesmo estando longe de ser um filme marcante, "Um toque de
infidelidade" se beneficia da simpatia de seu elenco, do ritmo agradável
imposto pelo roteiro e pela beleza luminosa de Isabella Rossellini, que
deixa um pouco para trás a torturada personagem de "Veludo azul" (86)
para entregar uma Maria estonteante em sua simplicidade e radiante em
sua felicidade de sentir-se amada e respeitada pela primeira vez.
Principalmente em comparação com a performance propositalmente over de
Sean Young, a filha de Ingrid Bergman brilha com sua delicadeza e se
torna a principal razão de ser do filme de Schumacher, uma
descompromissada sessão para os fãs do gênero.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
JADE
JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...
-
EVIL: RAÍZES DO MAL (Ondskan, 2003, Moviola Film, 113min) Direção: Mikael Hafstrom. Roteiro: Hans Gunnarsson, Mikael Hafstrom, Klas Osterg...
-
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Paku...
-
NÃO FALE O MAL (Speak no evil, 2022, Profile Pictures/OAK Motion Pictures/Det Danske Filminstitut, 97min) Direção: Christian Tafdrup. Roteir...
Nenhum comentário:
Postar um comentário