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O INÍCIO DO FIM

O INÍCIO DO FIM (Fat Man and Little Boy/Shadow makers, 1989, Paramount Pictures, 108min) Direção: Roland Joffé. Roteiro: Bruce Robinson, Roland Joffé, estória de Bruce Robinson. Fotografia: Vilmos Zsigmond. Montagem: Françoise Bonnott. Música: Ennio Morricone. Figurino: Nick Ede. Direção de arte/cenários: Gregg Fonseca/Dorree Cooper. Produção executiva: John Calley. Produção: Tony Garnett. Elenco: Paul Newman, Dwight Schultz, John Cusack, Laura Dern, Bonnie Bedelia, John G. McGinley, Natasha Richardson, James Eckhouse. Estreia: 20/10/89

Cineasta sempre preocupado com tramas de cunho político e/ou social, Roland Joffé ficou conhecido pelos fãs de cinema graças a produções premiadas e elogiadas pela crítica, como "Gritos do silêncio" (84) e "A missão" (86), pelos quais foi indicado ao Oscar de melhor diretor. Não foi surpresa, portanto, quando ele assumiu o comando de "O início do fim", o filme da Paramount que trataria sobre o Projeto Manhattan, que criou e construiu, em 1945, as bombas atômicas que atingiram Hiroshima e Nagasaki e deram fim à II Guerra Mundial. Catastrófico fracasso de bilheteria nos EUA (custou cerca de 30 milhões de dólares e rendeu cerca de dez menos menos em sua carreira nos cinemas), acabou lançado no resto do mundo com um título diferente e tentou conquistar - em vão - estatuetas na temporada de premiações de Hollywood. Não é difícil compreender os motivos que o levaram a tal fiasco comercial: mesmo com a direção cuidadosa de Joffé e o nome do veterano Paul Newman liderando o elenco, o filme não consegue escapar da sina comum às produções do gênero e, ao tentar equilibrar o didático/histórico ao dramático, não atinge plenamente seus objetivos em nenhum quesito. Essa indecisão custa caro ao resultado final, que mesmo perceptivelmente caprichado tecnicamente, não empolga nem emociona tanto quanto deveria.

Inicialmente chamado "Fat Man and Little Boy" (os apelidos dados às bombas), "O início do fim" teve seu nome modificado para "Shadow makers" logo depois que seu desempenho nas bilheterias domésticas assustou aos executivos do estúdio - que, logicamente, não esperavam uma renda tão pífia (pouco mais de um milhão de dólares arrecadados no fim de semana de estreia). Rebatizar o filme para lançamento em outros países, no entanto, não deu resultado nenhum: talvez por sua temática particularmente restrita, a obra de Joffé não despertou interesse nas massas que haviam lotado os cinemas para assistir ao "Batman" de Tim Burton, e saiu melancolicamente de cena, ocupando um lugar bastante coadjuvante nas carreiras de todos os envolvidos - seja do veterano Paul Newman ou dos novatos John Cusack e Laura Dern.


Apesar de ser o rosto de Newman que estampa o cartaz e ser seu nome que abre os créditos, o verdadeiro protagonista de "O início do fim" não é o seu General Leslie Groves - líder militar do projeto que concebeu a bomba atômica. O roteiro, escrito pelo cineasta e seu parceiro de longa data, Bruce Robinson, centra seu foco principalmente em Robert Oppenheimer (Dwight Schultz), o cientista chamado por Groves para comandar a experiência. A princípio entusiasmado com a possibilidade de mostrar sua competência e seu talento, ao poucos ele vai tomando consciência dos reais objetivos de Groves - e passa a questionar profundamente sua posição na estratégia. É somente quando sua vida pessoal - representada pela figura de sua amante, Jean Tatlock (Natasha Richardson), comunista vista com maus olhos pelo governo americano - é atingida que Oppenheimer percebe a dimensão do que está fazendo. Cercado de paranoia e segredos, ele testemunha o nascimento de um projeto científico gigantesco, que não poupa nem mesmo outros cientistas, como o jovem Michael Merriman (John Cusack).

Quando Bruce Robinson assumiu o roteiro de "O início do fim" seu maior interesse na trama era a história de amor e morte por trás do romance entre Oppenheimer e Jean Tatlock - um mistério ainda hoje envolto em teorias de conspiração. As alterações feitas no roteiro final, para dar mais ênfase ao relacionamento entre o cientista e o General Groves não apenas mudaram o tom da narrativa, mas também empurraram o filme para um nicho muito mais restrito de interesse - o que talvez tenha contribuído para seu fracasso. Soma-se a isso a inexperiência de Dwight Schultz, sem a força cênica necessária para imprimir consistência e nuances a um personagem tão repleto de possibilidades quanto o seu. O resultado é que o romance entre Merriman e a enfermeira Kathleen Robinson (Laura Dern) acaba por ser mais atraente ao espectador do que as crises de consciência de Oppenheimer - mesmo que tal subtrama seja inventada, como forma de iluminar o público das consequências da experiência realizada no Novo México. No fim das contas, "O ínicio do fim" é um filme com grandes atrações em seu cartaz (a música é de Ennio Morricone, a fotografia é do premiado Vilmos Zsigmond), mas que é frustrante na maior parte do tempo graças a problemas de foco e ritmo. Uma bela ideia que não atingiu todo o seu potencial.

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