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LADY MACBETH

LADY MACBETH (Lady Macbeth, 2016, BBC Films, 89min) Direção: William Oldroyd. Roteiro: Alice Birch, romance de Nikolai Leskov. Fotografia: Ari Wegner. Montagem: Nick Emerson. Música: Dan Jones. Figurino: Holly Waddington. Direção de arte/cenários: Jacqueline Abrahms/Thalia Ecclestone. Produção executiva: Lizzie Francke, Christopher Granier-Deferre, Steve Jenkins, Christopher Moll, Jim Reeve. Produção: Fodhla Cronin O'Reilly. Elenco: Florence Pugh, Cosmo Jarvis, Paul Hinton, Naomi Ackie, Christophe Fairbanks. Estreia: 10/9/16 (Festival de Toronto)

Antes de mais nada, é preciso deixar claro que, apesar do título, o filme "Lady Macbeth", dirigido pelo britânico William Oldroyd, não é uma adaptação da famosa tragédia de William Shakespeare, mas sim de uma novela escrita pelo russo Nikolai Leskov e publicada em 1865. Apenas inspirada na personagem clássica do teatro, a trama de Leskov - chamada "Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk" - é uma crítica mordaz à hipocrisia e ao papel submisso da mulher na Europa do século XIX e, já filmada uma vez em 1962 pelo cineasta polonês Andrzej Wajda, encontrou em Florence Pugh a protagonista ideal. Com apenas 20 anos de idade na ocasião do lançamento do filme, Pugh está simplesmente avassaladora no papel principal, uma mulher à frente de seu tempo, capaz de manipular os homens a seu redor para praticar os mais cruéis atos de violência em nome de um sentimento que apenas ela é capaz de compreender completamente. Essa semelhança com a personagem de Shakespeare - que também servia como incentivo e má influência ao marido - é o que transforma a protagonista em uma das mais complexas e fascinantes, mesmo que ela nem precise falar muito para provocar tempestades à sua volta.

O roteiro de Alice Birch é econômico no uso de diálogos, assim como a trilha sonora de Dan Jones, sutil mas pontual, como um comentário discreto a respeito das imagens que se desenrolam na tela - belíssimas paisagens inglesas captadas pela câmera de Ari Wegner e que marcam a passagem de tempo e o estado de espírito de seus personagens. Com um elenco de rostos desconhecidos do grande público a seu favor, o diretor conduz o espectador a uma trama de paixão, adultério, mentiras e intrigas que, além de tudo, discute a situação feminina na sociedade da época: longe da submissão que se esperava de uma mulher na Inglaterra do século XIX (cenário do filme), a protagonista, Katherine, não aceita submeter seu futuro e sua vida a decisões de homens que considera inferiores intelectual e emocionalmente. Nem sempre suas atitudes são exatamente corretas (quase nunca, pode-se dizer), mas não deixa de ser empolgante ver uma mulher forte e dominadora sendo responsável pelos rumos da própria vida (e das alheias, por consequência). O mais surpreendente, no caso, é que seja a aparentemente frágil Florence Pugh o corpo e a alma por trás de todas as desgraças da trama.


Katherine é uma jovem de 17 anos vendida por seu pai para um casamento de puro interesse na Inglaterra rural dos anos 1860. Seu marido, Alexander (Paul Hilton), é muito mais velho que ela, e seu sogro, Boris (Christopher Fairbank), é um homem agressivo e frio, que a trata como propriedade. Além disso, Katherine nota que não há nenhum interesse de Alexander em consumar o casamento, o que a deixa ainda mais frustrada e solitária. Uma viagem dos dois homens da casa acaba por permitir à recém-casada a possibilidade de explorar o mundo fora das paredes da fazenda - e é assim que ela acaba tendo a oportunidade de conhecer Sebastian (Cosmo Jarvis), um dos novos empregados do marido. Imediatamente surge uma atração física incontrolável entre os dois - que não demoram em se envolver em um tórrido caso de amor. Seu romance é percebido por Anna (Naomi Ackie), sua aia, e chega aos ouvidos de seu sogro. Começa, então, uma violenta história de assassinatos, que não poupa ninguém que atravessa o caminho dos amantes - sempre orientados pela mente calculista de Katherine.

Revelar os desdobramentos da trama seria privar o espectador de experimentar uma viagem imprevisível e chocante à mente de uma psicopata atípica - que acredita cometer atrocidades em nome de um amor avassalador. Florence Pugh se entrega com paixão total à sua personagem - que gradualmente vai se transformando de adolescente meiga em mulher fria e à beira da vulgaridade. Suas cenas com Cosmo Jarvis são quentes e filmadas com extremo bom gosto, mesmo quando sua relação não parece exatamente romântica e sim puramente carnal. Polêmicas à parte - o primeiro encontro sexual entre os protagonistas pode incomodar aos politicamente corretos -, o filme de Oldroyd é de uma inteligência rara, por permitir que seus personagens ajam livres de qualquer ética e construam um suspense que vai se avolumando até o desfecho poderoso e melancólico. Uma pequena obra-prima que merece ser descoberta!

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