PROGRAMADO PARA VENCER (The program, 2015, Working Title Films, 89min) Direção:
Stephen Frears. Roteiro: John Hodge, livro de David Walsh. Fotografia:
Danny Cohen. Montagem: Valerio Bonelli. Música: Alex Heffes. Figurino:
Jane Petrie. Direção de arte/cenários: Alan MacDonald/Gabriella
Villarreal. Produção executiva: Liza Chasin, Olivier Courson, Amelia
Granger, Ron Halpern. Produção: im Bevan, Eric Fellner, Tracey Seaward,
Kate Solomon. Elenco: Ben Foster, Chris O'Fowd, Dustin Hoffman,
Guillaume Canet, Jesse Plemons, Lee Pace, Denis Ménochet. Edward Hogg,
Elaine Cassidy, Laura Donnelly. Estreia: 13/9/15 (Festival de Toronto)
No mundo do ciclismo profissional nenhum nome é mais conhecido - e celebrado, apesar de tudo - do que Lance Armstrong. Primeiro porque curou-se de um câncer no testículo (e tumores no pulmão e no cérebro) que o atingiu quando estava começando a ascender na carreira. Depois, por tornar-se campeão absoluto da famosa Tour de France, vencendo a competição por sete anos consecutivos (entre 1999 e 2005), um recorde absoluto. E, por fim e por uma razão menos admirável, por ter sido desmascarado como usuário recorrente de doping - mais precisamente uma droga chamada EPO (eritropoetina), que, aumentando a produção de glóbulos vermelhos no sangue, torna o metabolismo mais rápido. Tal descoberta, tornada pública após uma confissão do esportista no programa de TV de Oprah Winfrey, em janeiro de 2013 - e forçada por uma exaustiva investigação do FBI - jogou Armstrong no chão. Depois de perder todos os títulos conquistados, ter todas as homenagens feitas retiradas e ser banido do esporte pelo resto da vida, um dos maiores heróis do esporte norte-americano passou de mocinho a bandido, o que nem mesmo sua instituição criada para pesquisas contra o câncer ajudou a amenizar. E é justamente da história de Armstrong - entre o céu e o inferno - que trata "Programado para vencer", uma das cinebiografias mais subestimadas da temporada 2015 e um dos filmes menos aplaudidos do elogiado Stephen Frears.
Lançado no Festival de Toronto como um dos prováveis candidatos às cerimônias de premiação de final de ano nos EUA, "Programado para vencer" passou em brancas nuvens, sendo esnobado mesmo com o nome de Frears lhe servindo como cartão de visitas. Diretor de filmes admirados, como "Ligações perigosas" (88), "Os imorais" (90) e "A rainha" (2007), o britânico - que emplacaria Meryl Streep na corrida do Oscar pelo pouco memorável "Florence: quem é essa mulher?" no ano seguinte - não conseguiu o destaque esperado e tampouco chamou a atenção do público, que praticamente ignorou sua passagem pelos cinemas. Quem saiu mais prejudicado, no entanto, além dos produtores, foram os espectadores, que perderam a oportunidade de testemunhar (mais) uma atuação impecável de Ben Foster e conhecer os detalhes de uma história quase inacreditável, contada com um ritmo ágil e uma seriedade acima de qualquer suspeita.
Em uma interpretação irretocável, Ben Foster, um dos atores mais talentosos de sua geração, vive um Lance Armstrong repleto de nuances - da arrogância ao medo, da autoconfiança ao cinismo - com segurança ímpar. O roteiro, baseado no livro "Seven deadly sins: my pursuit of Lance Armstrong", do jornalista David Walsh (vivido por Chris O'Dowd no filme), acompanha a carreira do ciclista desde seus primeiros passos até sua decadência moral, dando ênfase em sua vida profissional e aos detalhes relacionados à sua relação com as drogas que acabaram por encerrar sua vitoriosa carreira. Mesmo que muitas vezes a narrativa precise utilizar-se de momentos mais didáticos para explicar ao público como funcionava a tática do atleta e seu médico italiano, Michele Ferrari (Guillaume Canet), a edição criativa de Valerio Bonelli não permite tempos mortos. Intercalando cenas de arquivo com sequências filmadas para a produção, "Programado para vencer" envolve a audiência sem fazer maiores esforços, principalmente graças a um visual atraente, uma trilha sonora eficaz e um elenco coadjuvante que conta até mesmo com o veterano Dustin Hoffman em uma participação especial - pequena mas crucial para marcar o início da queda do protagonista. Além dele, o jovem Jesse Plemmons - uma das novas promessas de Hollywood - também mostra que pode ir bastante longe na carreira ao dar vida a Floyd Landis, um colega (e posteriormente testemunha ocular dos abusos) do ciclista.
Mesmo sendo considerada uma obra menor na filmografia de Stephen Frears - um cineasta eclético, que flerta com todos os gêneros e normalmente sai-se muito bem em todos eles -, "Programado para vencer" tem muito mais qualidades do que defeitos. Pode-se dizer que por vezes soa como um telefilme ou que dá a impressão de ser um pouco superficial em sua reta final, quando os acontecimentos parecem atropelar-se, mas nada disso atrapalha o prazer de ver em cena grandes atores, uma história importante e um tema a ser discutido com seriedade e sem sensacionalismos. Ben Foster, nunca é demais dizer, brilha no papel central, e certamente merecia maior reconhecimento por isso, e Frears mais uma vez prova sua elegância natural em injetar sutileza e certo humor em um tema tão árduo. Um filme que precisa ser visto e recomendado!
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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