quarta-feira

MAMÃEZINHA QUERIDA

MAMÃEZINHA QUERIDA (Mommie dearest, 1981, Paramount Pictures, 129min) Direção: Frank Perry. Roteiro: Frank Yablans, Frank Perry, Tracy Hotchner, Robert Getchell, livro de Christina Craword. Fotografia: Paul Lohmann. Montagem: Peter E. Berger. Música: Henry Mancini. Figurino: Irene Sharaff. Direção de arte/cenários: Bill Malley/Richard C. Goddard. Produção executiva: David Koontz, Terence O'Neill. Produção: Frank Yablans. Elenco: Faye Dunaway, Diana Scarwid, Steve Forrest, Howard da Silva, Mara Hobel. Estreia: 16/9/81

Em 1978, a publicação de "Mamãezinha querida" nos EUA causou comoção geral e polêmicas infindáveis. Escrito por Christina, filha adotiva da atriz Joan Crawford, o livro mostrava um lado cruel e violento de uma das maiores estrelas da era de ouro de Hollywood, falecida então há apenas quatro anos. Ao contar em detalhes os tormentos físicos e psicológicos pelos quais passou durante sua infância e sua adolescência com uma das mulheres mais conhecidas do mundo nas décadas de 40 e 50, Christina tornou-se autora de um enorme best-seller internacional, mas ao mesmo tempo, arriscou-se a - como realmente aconteceu - ser taxada de mentirosa e oportunista, especialmente por ter sido deixada de fora do testamento de sua mãe. A controvérsia, ao contrário de prejudicar o sucesso do livro, apenas jogou ainda mais lenha na fogueira - e não demorou para que os produtores de cinema vissem no explosivo material a chance de um grande êxito comercial (e possíveis estatuetas douradas). No final das contas, as bilheterias não foram exatamente milionárias - apesar de quintuplicar o orçamento, sua renda não chegou nem aos 20 milhões de dólares no mercado doméstico - e as únicas estatuetas que levou não foram nem um pouco lisonjeiras.

Sofrendo de críticas impiedosas desde sua estreia nos cinemas, "Mamãezinha querida" logo tornou-se uma dor de cabeça inesperada para a Paramount - até que o limão se transformou em limonada: percebendo que boa parte do público repetia a sessão do filme e frequentava as salas de exibição como uma espécie de happening, inclusive repetindo parte de seus diálogos, os executivos tomaram uma decisão arriscada. Para fúria do diretor estreante Frank Perry e de sua atriz principal, Faye Dunaway - o marketing da produção mudou radicalmente, enfatizando o tom exagerado do roteiro e das interpretações. Para quem esperava no mínimo uma indicação ao Oscar, não deve ter sido fácil para Dunaway - que divide com Crawford o gênio bastante forte - ser eleita a pior atriz do ano no famigerado Framboesa de Ouro. Aliás, é importante salientar que o filme simplesmente provocou um arrastão: além de Dunaway como pior atriz, "Mamãezinha querida" ainda saiu "vitorioso" nas categorias de pior filme, pior ator coadjuvante (Steve Forrest), pior atriz coadjuvante (Diana Scarwid) e pior roteiro - sem falar que foi eleito o pior filme da década, em 1990, e pior drama dos 25 anos do prêmio, em 2005. Mas será que, apesar de tantas críticas, o filme de Perry é realmente tão ruim quanto reza a lenda?





É impossível negar que existe, por todo o filme, uma atmosfera camp, artificial e pouco naturalista. O enfoque do primeiro roteiro - que seria dirigido por Franco Zefirelli e teria Anne Bancroft no papel principal mas acabou sendo substituído posteriormente - ainda conseguia fugir do maniqueísmo sensacionalista (e Crawford não seria retratada com tanta fúria), mas a produção estrelada por Dunaway usa e abusa de sua música dramática (composta por Henry Mancini), dos closes que transformam o rosto de atriz em assustadoras caretas e de uma gratuidade que chega a ser, em alguns momentos, quase risível. Não ajuda que o elenco secundário seja péssimo (em especial Diana Scarwid como Christina adolescente) e a direção de arte capriche em reconstruir os frequentemente cafonas cenários da época, que colaboram com o tom excessivo do texto e da direção. Sempre um tom acima do normal, Dunaway (uma excelente atriz, mas infelizmente dirigida sem a força necessária) mal consegue transmitir a ideia de que, por trás da monstruosa mãe, existe uma pessoa com sentimentos reais e (logicamente) sérios transtornos psicológicos. Esse erro crucial - a falha em obter qualquer simpatia da plateia, por mais complicado que isso fosse, levando-se em conta a trama - é o que desvia o filme de suas possibilidades mais sérias e o conduz a uma comédia involuntária.


Rejeitado para sempre por Dunaway - que se recusa terminantemente a falar sobre o filme que ela acreditava poder lhe render um segundo Oscar -, "Mamãezinha querida" é um festival de atrocidades. Na pele de Joan Crawford, a bela atriz de "Chinatown" (74) e "Rede de intrigas" (76) simplesmente transforma a vida de sua filha em um inferno na Terra (o roteiro ignora que além de Christina e Christopher, mostrados no filme, a estrela tinha ainda outros dois filhos): surras, gritos, ataques histéricos em meio à madrugada, castigos desproporcionais e até uma inesperada e patética rivalidade profissional estão na lista de crueldades que Christina descreveu em seu livro - em parte desmentido por pessoas que conviveram com a família durante os anos em que a história é contada. Nas mãos de um diretor mais experiente e menos afeito ao sucesso fácil, a adaptação poderia ter sido um filme sério, capaz de desnudar os bastidores do glamour de Hollywood. Como foi feito, acabou por tornar-se motivo de piada por parte da crítica e foi salvo pelo status de cult movie, que o mantém vivo até hoje como um exemplo de absoluto exagero dramático. Serve como curiosidade, mas artisticamente é bem sofrível...

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