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LINHAS CRUZADAS

LINHAS CRUZADAS (Hanging up, 2000, Columbia Pictures Corporation, 94min) Direção: Diane Keaton. Roteiro: Nora Ephron, Delia Ephron, romance de Delia Ephron. Fotografia: Howard Atherton. Montagem: Julie Monroe. Música: David Hirschfelder. Figurino: Bobbie Read. Direção de arte/cenários: Waldemar Kalinowski/Florence Fellman. Produção executiva: Delia Ephron, Bill Robinson. Produção: Nora Ephron, Laurence Mark. Elenco: Meg Ryan, Walter Matthau, Diane Keaton, Lisa Kudrow, Adam Arkin, Cloris Leachman. Estreia: 16/02/00

O time formado pela atriz Meg Ryan e pela roteirista Nora Ephron se mostrou uma fórmula de sucesso em pelo menos três ocasiões: em 1989, com "Harry e Sally: feitos um para o outro" (que revelou Ryan como estrela e rendeu à Ephron uma indicação ao Oscar), em 1993, com "Sintonia de amor" (enorme sucesso de bilheteria que também concorreu a uma estatueta pelo script romântico e bem-humorado), e em 1997,  com "Mensagem para você" (remake do clássico "A pequena loja da esquina" e que voltava a reunir Ryan com Tom Hanks, depois do êxito de "Sintonia"). No caso dos dois últimos, Ephron não apenas assinava o roteiro como também assumia a cadeira de direção, imprimindo a eles um estilo inconfundível que mesclava risos, lágrimas, música de qualidade e romantismo para dar e vender. Em "Linhas cruzadas", lançado em 2000, a dupla voltou a se encontrar, mas dessa vez com uma alteração em sua dinâmica: Ephron continuava por trás do texto, Meg continuava com o principal papel feminino, mas a direção ficou a cargo de Diane Keaton - atriz consagrada e cineasta bissexta. Porém, o filme, baseado no romance de Delia Ephron (irmã de Nora e coautora do roteiro), mostrou que nem mesmo receitas já testadas funcionam o tempo todo: massacrado pela crítica e com uma bilheteria tímida que nem mesmo cobriu seu custo, "Linhas cruzadas" só fica na memória mesmo por um fato triste: ser o último trabalho do ator Walter Matthau, que morreu quatro meses após sua estreia.

Na verdade "Linhas cruzadas" não é um filme ruim. Pelo menos não tão ruim quanto fizeram pensar as críticas à época de seu lançamento e a renda minguada de pouco mais de 30 milhões de dólares no mercado doméstico. Talvez seu maior problema tenha sido a equivocada estratégia de marketing, que, ao invés de assumi-lo como o drama familiar que é, preferiu vender a ideia de que se tratava de uma comédia - fator agravado pela presença de Lisa Kudrow (da popular série "Friends"), de Keaton (cujo "Clube das desquitadas", de 1996, foi um sucesso-surpresa) e até da própria Meg Ryan, a encarnação mais perfeita do romantismo ingênuo na década. Mesmo que o texto de Ephron tenha mantido alguns de seus toques de sarcasmo, a história que envolve três irmãs lidando com a iminência da morte do pai não é exatamente leve ou divertida - e nem mesmo o timing cômico de suas atrizes é capaz de levantar um tema tão denso. A indecisão entre o drama e a comédia (acentuada pela pouca experiência de Keaton atrás das câmeras) impede o filme de decolar em qualquer um dos gêneros.Em "Linhas cruzadas" o público não ri nem chora - fica sempre no meio do caminho, esperando que finalmente o roteiro tome um rumo definido (e quando isso acontece, perto do final, já é tarde demais para esperar a empatia da plateia).


Walter Matthau, simpático como sempre, dá vida a Lou Mozell, um septuagenário bonachão, mulherengo e irresponsável que, vítima de câncer, dá entrada em um hospital já demonstrando sinais de demência - que o leva a frequentemente fugir da realidade e relembrar traumas do passado. Entre esses traumas, o maior é a separação de sua mulher, Pat (Cloris Leachman), que o abandonou e às três filhas por não ter "o instinto maternal" como uma de suas características. A doença de Lou afeta especialmente sua filha do meio, Eve (Meg Ryan), dona de uma empresa de planejamento de festas e que, há alguns anos, se afastou dele depois de um incidente em uma festa de família. Como sua irmã mais velha, Georgia (Diane Keaton) é uma ocupadíssima dona de revista e celebridade nacional, e sua caçula, Maddy (Lisa Kudrow) está tentando uma carreira como atriz de telenovelas, cabe à Eve lidar com a enfermidade paterna e todas as suas consequências - o que irá fatalmente fazê-la encarar alguns fantasmas e a sua relação com as irmãs, com quem mantém um relacionamento ameno mas repleto de arestas e alguns ressentimentos.

Apesar de não atingir a todo o seu potencial dramático (ou cômico), "Linhas cruzadas" é um filme altamente simpático e agradável. Não é uma produção detestável e tampouco "o pior filme já feito", segundo alguns críticos mais severos, mas também não pode ser considerado bom. Seu elenco é ótimo, mas todos repetem à exaustão seus maneirismos típicos: Ryan como a adorável protagonista desengonçada, Keaton como a elegante atrapalhada, Kudrow como a desajeitada e Matthau como o pai ranzinza. Ninguém sai de sua zona de conforto, ninguém arrisca um voo mais alto - e isso se reflete no resultado final, pouco memorável e até decepcionante. Visualmente atraente e com alguns bons momentos perdidos em um roteiro cheio de vai-e-vens, é um filme muito aquém do que se poderia esperar de uma união de tantos talentos, mas vale uma sessão da tarde descompromissada - especialmente para os fãs do trio de atrizes ou do saudoso Walter Matthau. Não muda a vida de ninguém, mas também não tira nenhum pedaço.

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