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MACBETH: AMBIÇÃO E GUERRA

MACBETH: AMBIÇÃO E GUERRA (Macbeth, 2015, See-Saw Films/DMC Film, 113min) Direção: Justin Kurzel. Roteiro: Todd Louiso, Jacob Koskoff, Michael Lessie, peça teatral de William Shakespeare. Fotografia: Adam Arkapaw. Montagem: Chris Dickens. Música: Jed Kurzel. Figurino: Jacqueline Durran. Direção de arte/cenários: Fiona Crombie/Alice Felton. Produção executiva: Jenny Borgars, Oliver Courson, Danny Perkins, Tessa Ross, Bob Weinstein, Harvey Weinstein. Produção: Iain Canning, Laura Hastings-Smith, Emile Sherman. Elenco: Michael Fassbender, Marion Cottilard, Paddy Considine, David Thewlis, Jack Reynor, Sean Harris, Elizabeth Debicki. Estreia: 23/5/15 (Festival de Cannes)

Escrito no início dos anos 1600, o texto de "Macbeth" tornou-se, com um tempo, um dos mais celebrados do imortal William Shakespeare - e também o mais cercado de superstições e lendas a respeito de suas montagens. Ao falar basicamente sobre o mal e a ambição, a obra chegou ao ponto de ser chamada simplesmente de "a peça escocesa", como forma de isolar toda as maldições que (segundo consta) atinge suas montagens. Dona de alguns dos personagens mais conhecidos do teatro mundial - especialmente o personagem-título e sua esposa -, a peça também chegou ao cinema em diversas ocasiões, mais notadamente em uma versão dirigida por Orson Welles em 1948 e uma adaptação de Roman Polanski, lançada em 1971. Sem uma nova releitura cinematográfica desde então, "Macbeth" chegou ao século XXI sob a direção do australiano Justin Wurzel - relativamente conhecido de circuitos de festivais graças à sua estreia como cineasta, "Os crimes de Snowtown" (2011): visualmente exuberante, dramaticamente convincente e passível de uma nova compreensão psicológica, "Macbeth: ambição e guerra" tem a seu favor, também, a certeira escalação de seus dois atores centrais. Sempre arrebatadores, Michael Fassbender e Marion Cottilard - que voltariam a trabalhar com o diretor na adaptação do videogame "Assassin's Creed" - agigantam o filme de Wurzel e dignificam uma das maiores obras teatrais da história.

Violenta, impiedosa e cruel, a trama de "Macbeth" não poupa sangue e apresenta seus protagonistas como um casal absolutamente ganancioso e frio. O roteiro do filme de Wurzel dá uma amenizada em suas características principais, mas o faz de maneira orgânica e coerente com a visão proposta pelo cineasta: o Macbeth de Michael Fassbender sofre de um grave transtorno pós-traumático, oriundo de suas batalhas para defender o trono da Escócia e garantir o reinado de Duncan (David Thewlis), seu parente distante; e sua esposa, vivida por Marion Cottilard, é atormentada pela perda precoce de um filho, um fato que, se não a absolve de todos os pecados que virá a cometer, ao menos oferece ao espectador (e à atriz) uma camada a mais de complexidade e humanidade. Substituindo Natalie Portman - a escolha original para o papel -, Cottilard pode parecer, por sua nacionalidade, uma opção estranha para uma personagem tão vinculada a intérpretes britânicas, mas basta uma cena para que o público deixe de lado qualquer reserva e se deixe envolver pela sedução de uma das mais perversas criações dramáticas do teatro universal: um misto de beleza, inteligência e calculismo, Lady Macbeth encontra em Cottilard uma personificação exemplar, que justifica toda e qualquer ascendência sobre o marido ambicioso.


E se Marion Cottilard encarna com perfeição a infame esposa do protagonista, Michael Fassbender não faz por menos na pele de Macbeth. Dedicado e intenso, Fassbender entrega-se de maneira avassaladora ao filme - adaptação de sua preferida dentre as peças de Shakespeare. Segundo o diretor, o ator alemão leu o roteiro nada menos que 200 vezes antes que as filmagens sequer começassem - e o resultado de tanto empenho é perceptível em cada cena: transmitindo sem erro todas as nuances de seu personagem (ambição, medo, paranoia, coragem, loucura), Fassbender não apenas entrega uma atuação impecável, mas também a coloca instantaneamente no rol das maiores interpretações de sua carreira repleta de grandes desempenhos, e na cobiçada companhia de nomes como Laurence Olivier, Orson Welles, Ian McKellen e Kenneth Branagh - atores internacionalmente reconhecidos como intérpretes shakespereanos. A intensidade de Fassbender, assim como sua figura imponente e carismática, engole cada cena do filme de Kurzel, mesmo quando ao lado de colegas também bastante talentosos - desde o veterano David Thewlis como o Rei Duncan até o jovem Jack Reynor, que, vindo do cinema independente, interpreta com segurança o príncipe Malcolm. Mesmo que suas participações sejam pequenas, servem como apoio ao trabalho irretocável do protagonista.

E se não bastasse as atuações irrepreensíveis de seu elenco, "Macbeth: ambição e guerra" consegue se destacar também por seu visual. A bela fotografia de Adam Arkapaw é a moldura perfeita para a violenta trama que se desenrola diante dos olhos do espectador, ilustrando com imagens o estado mental de seus personagens. Nem mesmo as pequenas mudanças em relação à peça (a criação de uma quarta feiticeira, por exemplo) são capazes de estragar o espetáculo, especialmente porque o roteiro segue a sangrenta história ao pé da letra. Para quem ainda não conhece, ela acompanha a trajetória de Macbeth, um general que, depois de receber, através de feiticeiras, a notícia de que se tornará o rei da Escócia, se une à esposa para apressar tal destino, eliminando todas as pessoas que poderiam ser um empecilho para tal - sejam elas homens, mulheres ou crianças. A partir daí, sua ambição desmedida o empurra para a paranoia, a loucura e ainda mais violência - tudo tratado com seriedade e delicadeza pela direção de Wurzel, que se mostra plenamente digno de comandar uma das mais importantes sagas do teatro universal. Para os fãs de Shakespeare é um programa indispensável!

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