HOLDING THE MAN (Holding the man, 2015, Screen Australia/Goalpost Pictures, 127min) Direção: Neil Armfield. Roteiro: Tommy Murphy, livro de Timothy Conigrave. Fotografia: Germain McMicking. Montagem: Dany Cooper. Música: Alan John. Figurino: Alice Babidge. Direção de arte/cenários: Jo Ford/Rolland Pike. Produção executiva: Rosemary Blight, Ben Grant, Cameron Huang, Andrew Mackie, Richard Payten, Tristan Whaley. Produção: Kylie Du Fresne. Elenco: Ryan Corr, Craig Stott, Sarah Snook, Guy Pearce, Kerry Fox, Anthony LaPaglia, Camilla Ah Kin, Geoffrey Rush. Estreia: 14/6/15 (Festival de Sydney)
Em 1976, o aspirante a ator e escritor Tim se apaixonou perdidamente por John, seu colega de classe e capitão do time de futebol americano da escola. Durante 15 anos, seu relacionamento transformou-se de paixão colegial para um amor profundo e um companheirismo à toda prova - que desafiou preconceitos, brigas familiares e crises existenciais e sexuais. A única coisa que realmente impôs uma barreira intransponível entre eles foi a AIDS, ainda uma doença cuja cura ou tratamento eram apenas utopias médicas. Essa é a trama central de "Holding the man", filme australiano que conquistou seis indicações da Academia Australiana de Cinema em 2016 (incluindo melhor filme, diretor, ator e roteiro adaptado) e deu a Ryan Corr o prêmio de Melhor Ator do ano pela Associação de Críticos de Cinema do país. Mas, haja visto que nem o assunto nem seu enfoque são exatamente originais ou inovadores, o que faz da produção dirigida por Neil Armfield algo diferente de dezenas de outros filmes com temática LGBT lançados a cada ano? A resposta é simples: poucos desses filmes tratam sobre tais questões com tanta honestidade e sinceridade quanto este. Adaptado do livro escrito pelo próprio Timothy Conigrave, inspirado em sua própria história de amor, "Holding the man" pode não surpreender ou acrescentar muito à pauta homossexual no cinema, mas é emocionante o suficiente para merecer aplausos e respeito.
Lançado no Festival de Cinema de Sydney, "Holding the man" é uma feliz reunião de jovens talentos (Ryan Corr e Craig Stott como os dois rapazes apaixonados) com nomes já consagrados por Hollywood (Guy Pearce, Anthony LaPaglia e uma participação pequena mas especialíssima de Geoffrey Rush como um professor de teatro). Comandado pelo mesmo cineasta que deu a Heath Ledger um de seus papéis mais desafiadores - no drama "Candy", de 2006 - e narrado fora de ordem cronológica como forma de manter um tom confessional e emotivo, o romance entre Tim Conigrave John Caleo atravessa mais de uma década acompanhando mudanças comportamentais e o começo da epidemia da AIDS - que os atinge impiedosamente. Tal característica permite ao diretor realizar uma crônica agridoce a respeito de um período crucial na luta pelos direitos gays, atacados violentamente pelo recrudescimento do preconceito, encorajado pela desinformação generalizada a respeito da doença. A ameaça - que começa sob a forma de entrevistas feitas por Tim com homens doentes, para a realização de uma peça de teatro - assume formas assustadoras quando inesperadamente toca o casal e, ao contrário do que se poderia esperar, o aproxima ainda mais. A partir daí, o roteiro vai e volta no tempo, iluminando a trajetória de seu casal protagonista enquanto enfrenta o desejo de aventurar-se em novas relações pessoais e profissionais. Não bastasse isso, o conservadorismo das famílias (em maior ou menor grau) também se impõe como barreira para sua felicidade completa.
A trama, que se estende de 1976 a 1991, é retratada por Neil Armfield com delicadeza e a dose certa de sensualidade - nada do puritanismo do cinema norte-americano nem tampouco os excessos de alguns autores europeus. O romance entre Tim e John, pela visão de Armfield, soa natural e verdadeiro, com o perfeito equilíbrio entre companheirismo e tesão, lealdade e paixão. Principalmente em seu terço final, quando o romance dá lugar ao drama, é impossível não acreditar na sinceridade do amor entre os dois - especialmente porque Ryan Corr alcança o tom ideal de seu personagem, dotando Tim de uma complexidade extremamente verossímil: vulnerável em certos momentos, impulsivo em outros e apaixonado em quase todos, o jovem ator convence em todas as fases da história, desde a adolescência até atingir a vida adulta, quando abandona a leveza do romance idílico para mergulhar no drama da doença e da angústia da perda iminente. Amparado por uma edição ágil e uma trilha sonora que não assume a protagonização apesar de ter sido escolhida a dedo, "Holding the man" cativa, mais do que tudo, pela honestidade que emana de cada cena, de cada diálogo, de cada questão levantada pelo roteiro (mérito também do livro que lhe deu origem, inédito no Brasil).
Mesmo que "Holding the man" não seja completamente inovador, é inegável que existe, dentro dele, uma história poderosa sobre amor, respeito e amizade. Segue as regras do cinema comercial, sim, mas faz isso sem medo de ser sentimental e sem tentar oferecer mais do que promete. Equilibrando os problemas românticos do casal central com as dificuldades familiares e sociais que os cercam, é um filme capaz de emocionar aos mais sensíveis e causar empatia em um mundo cada vez mais carente dessa qualidade tão importante. Não é um filme para mudar a história do cinema, mas é de suma importância e de uma delicadeza impar.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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