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O CÉU SE ENGANOU

O CÉU SE ENGANOU (Chances are, 1989, TriStar Pictures, 108min) Direção: Emile Ardolino. Roteiro: Perry Howze, Randy Howze. Fotografia: William A. Fraker. Montagem: Harry Keramidas. Música: Maurice Jarre. Figurino: Albert Wolsky. Direção de arte/cenários: Dennis Washington/Robert R. Benton. Produção executiva: Andrew Bergman, Neil Machlis. Produção: Mike Lobell. Elenco: Robert Downey Jr., Cybill Sheperd, Mary Stuart Masterson, Ryan O'Neal, Christopher McDonald, Josef Sommer. Estreia: 10/3/89

Indicado ao Oscar de Canção Original ("After all")


A vida não poderia estar indo melhor para o jovem advogado Louie Jeffries (Christopher McDonald): sua carreira está no rumo certo, é feliz em seu casamento com a bela Corinne (Cybil Sheperd) - apesar de saber que seu melhor amigo (Ryan O'Neal) é apaixonado por ela, conforme ele mesmo confessou no dia da cerimônia - e acaba de descobrir que será pai pela primeira vez. Sua imensa felicidade, porém, acaba no capô de carro, que o atropela a caminho de sua comemoração de um ano de casamento. Desesperada, sua alma chega ao céu implorando para que seja mandada de volta - além de sua linda esposa, seu fiel amigo e seu futuro bebê, ele também tem como provar um caso de corrupção envolvendo um juiz de Direito que pode decidir o futuro de um caso seu. Em sua pressa, ele não percebe que, mesmo furando a enorme fila que se forma no local, não irá voltar à Terra no mesmo corpo e na mesma personalidade e sim, reencarnado em outra pessoa. Sem tomar uma vacina que o faria esquecer sua vida anterior, Louie volta como Alex Finch. Vinte anos mais tarde, Alex, formado como jornalista (e na pele de Robert Downey Jr.), tenta um lugar ao sol e conhece a bela e determinada Miranda (Mary Stuart Masterson), estudante de Direito que se apaixona por ele. Na primeira visita à casa dela, porém, Alex se vê relembrando de cada detalhe da residência e leva um susto a descobrir que ela é filha de Corinne, ou seja, de si mesmo. Decidido a reconquistar a mulher que ama, ele precisa convencê-la do absurdo de sua história e afugentar a liberada Miranda (ao mesmo tempo em que também tem que lidar com o fato de ter uma filha disposta a tudo para seduzir o homem por quem é apaixonada).

Essa história, absurdamente fantasiosa mas deliciosamente leve e simpática, é a trama de "O céu se enganou", comédia romântica dirigida pelo mesmo Emile Ardolino que pegou Hollywood de surpresa com o êxito de "Dirty dancing, ritmo quente" (87) e depois faria ainda mais sucesso comandando Whoopi Goldberg em "Mudança de hábito" (90). Sem tentar inventar a roda e contando principalmente com o carisma e o talento ainda em fase de lapidação de Robert Downey Jr. - muitos anos antes que ele se tornasse o garoto-problema de Hollywood e depois desse a volta por cima como o Homem de Ferro - o cineasta, que morreu aos 50 anos em 1993, vítima de complicações relativas à AIDS trata sua história com naturalidade e bom-humor, em um estilo narrativo que muito lembra as comédias despretensiosas dos anos 40. Tal opção reflete-se também na escolha acertada da trilha sonora - que conta com a bela canção-título na voz de Johnny Mattis, a já clássica "Forever young", de Rod Stewart e "After all", balada indicada ao Oscar interpretada por Cher e Peter Cetera - e na escalação da bela Cybill Sheperd para o papel principal feminino.

Sheperd, ex-musa de Peter Bogdanovich em "A última sessão de cinema" (71) e então protagonista da telessérie "A gata e o rato" - que revelou Bruce Willis e estava em sua última temporada - está bela e etérea na pela de Corinne Jeffries, desfilando pela tela com a graça e a elegância das estrelas da antiga Hollywood. Não é difícil acreditar que tanto Downey Jr. quanto Ryan O'Neal sejam apaixonados por ela, mesmo que o roteiro por vezes trate sua personagem com certa leviandade. E o roteiro, como não poderia deixar de ser, esconde suas falhas na química perfeita entre o elenco, o tom despretensioso da direção e alguns momentos de humor realmente engraçados, principalmente quando se trata das tentativas desesperadas de Alex em fugir de Miranda e conquistar Corinne. O inegável talento de Robert Downey Jr. para o humor físico, que em boa parte lhe ajudou a conquistar o papel-título de "Chaplin" (92), pelo qual foi merecidamente indicado ao Oscar, está evidente em cada sequência, demonstrando claramente que sua ascensão rumo à realeza do cinema americano era iminente - ascensão esta interrompida por suas constantes lutas com a justiça e retomada com louvor com o sucesso reconquistado a partir de "Trovão tropical" (08).

"O céu se enganou" é mais uma sessão da tarde de categoria. Simples, divertida e ligeira, ela é também uma mostra do início da carreira de Downey Jr. e uma das poucas chances de testemunhar a beleza de Cybill Sheperd antes que ela desaparecesse das telas grandes e só voltasse a atuar com destaque em outro seriado de TV, que levava o seu nome e ficou no ar entre 1995 e 1998. Juntos, eles - coadjuvados com correção por Ryan O'Neal e Mary Stuart Masterson - são a principal atração do filme, que não machuca ninguém e ainda consegue entreter sem fazer muita força.

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