MEU PAI, UMA LIÇÃO DE VIDA (Dad, 1989, Amblin Entertainment,
117min) Direção: Gary David Goldberg. Roteiro: Gary David Goldberg,
romance de William Wharton. Fotografia: Jan Kiesser. Montagem: Eric A.
Sears. Música: Howard Shore. Figurino: Molly Maginnis. Direção de
arte/cenários: Jackson De Govia/Thomas L. Roysden. Produção executiva:
Steven Spielberg, Kathleen Kennedy, Frank Marshall. Produção: Gary David
Golberg, Joseph Stern. Elenco: Jack Lemmon, Ted Danson, Olympia
Dukakis, Ethan Hawke, Kathy Baker, Kevin Spacey, J.T. Walsh. Estreia:
10/11/89
Indicado ao Oscar de Maquiagem
A
maior expectativa em torno de "Meu pai, uma lição de vida" era uma
indicação ao Oscar de melhor ator para Jack Lemmon, um dos grandes
astros dos anos 50 e 60 e que, sob o comando de Billy Wilder, já havia
legado ao cinema americano obras-primas como "Quanto mais quente melhor"
(59) e "Se meu apartamento falasse" (60) - além de ter ganho duas
estatuetas, por "Mr. Roberts" (55) e "Sonhos do passado" (73). Quando a
lista de indicações saiu, porém, apenas o trabalho de maquiagem do filme
foi lembrado pela Academia. Injustiça? Talvez, uma vez que a
interpretação de Lemmon é, mais uma vez, sensacional. Mas o fato de a
obra de Gary David Goldberg parecer mais um produto televisivo de
"doença da semana" do que um produto cinematográfico de qualidade
provavelmente pesou na hora h e o veterano ator - assim como sua colega
de cena Olympia Dukakis, também soberba - acabou sendo deixado de lado.
Porém, mesmo com o fracasso de seu principal objetivo, "Meu pai" merece
ser assistido, nem que seja para comprovar o talento acima da média de
seu protagonista - se é que ainda possa existir alguma dúvida quanto a
isso.
Baseado em romance de William Wharton, "Meu pai,
uma lição de vida" busca a emoção do público ao retratar o
relacionamento entre pai e filho que são obrigados a conviver novamente
depois que a velhice chega inexoravelmente à sua família. Tudo começa
quando a ativa Bette Tremont (Olympia Dukakis) sofre uma parada cardíaca
em pleno supermercado, o que a leva imediatamente ao hospital. O fato
muda a rotina de sua família, uma vez que é ela, sozinha, quem cuida do
dia-a-dia do marido, Jake (Jack Lemmon), de saúde frágil e dependente da
atenção da esposa. Enquanto Bette permanece internada, é seu filho mais
velho, John (Ted Danson) quem passa a pajear o pai, com quem mantém uma
relação de certa distância emocional. Durante esse período, porém,
surge entre eles uma inesperada amizade e o próprio Jake passa a tomar
um pouco as rédeas de seus dias. Quando Bette retorna ao lar, no
entanto, é seu marido quem sofre um derrame e entra em coma - do qual
ressurge ainda mais ativo e saudável. Essa nova fase surpreende a todos
(não exatamente de forma positiva, já que Bette é obrigada a lidar com
uma desconhecida face do marido) e faz com que John perceba que está
perdendo a juventude do próprio filho, o adolescente Billy (Ethan
Hawke).
Experiente em programas de televisão - como
"Caras e caretas" e "Spin City", dos quais foi roteirista e de onde
tirou a facilidade em impor ritmo a suas narrativas - o diretor Gary
David Golberg tropeça justamente no ponto que deveria, em tese, ser seu
maior trunfo, e oferece ao espectador um roteiro sem um foco específico,
que muda de direção a cada novo lance dramático (e eles são em número
suficiente para que tudo soe como exagero). A relação entre John e seu
pai - a princípio o ponto principal da trama - é frequentemente
interrompida com novas tragédias, o que dá a impressão de tratar-se de
um compêndio médico sobre as mazelas da velhice. Tal opção - que é
também culpa do romance original - esvazia bastante a premissa inicial,
resumindo o filme a um dramalhão familiar fácil e sentimentaloide,
valorizado basicamente por seu elenco, que faz o possível para manter o
interesse por uma história que a cada cena vai ficando mais e mais
previsível - e até Kevin Spacey entra no jogo, em um de seus primeiros
papéis de relativa importância, como o genro de Lemmon e Dukakis.
Então
quer dizer que no final das contas "Meu pai, uma lição de vida" é uma
bomba? Não, não é pra tanto. Nenhum filme que conte com Jack Lemmon e
Olympia Dukakis em papéis importantes pode ser considerado ruim, uma vez
que eles são atores superlativos, capazes de engrandecer qualquer
texto. Mas Gary David Goldberg perdeu a oportunidade de criar um grande
filme justamente por não conseguir impor limites ao dramalhão desbragado
que toma conta dela a partir da metade da narrativa - que ainda por
cima apresenta uma nova e desnecessária doença ao protagonista, que
desvia mais uma vez o rumo da história, a tornando mais longa do que o
recomendável. Com alguns defeitos que enfraquecem suas qualidades, é uma
obra irregular, mas palco de mais um show de Jack Lemmon, um dos
maiores atores de todos os tempos.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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