NOSSO
QUERIDO BOB (What about Bob?, 1991, Touchstone Pictures, 99min )
Direção: Frank Oz. Roteiro: Tom Schulman. Fotografia: Michael Ballhaus.
Montagem: Anne V. Coates. Música: Miles Goodman. Figurino: Bernie
Pollack. Direção de arte/cenários: Les Dilley/Anne Kuljian. Produção:
Laura Ziskin. Elenco: Bill Murray, Richard Dreyfuss, Julie Hagerty,
Charlie Korsmo, Kathryn Erbe, Tom Aldredge, Susan Willis. Estreia:
15/5/91
Um homem com sérios problemas psicológicos,
incapaz de tomar a mais simples das decisões e abandonado até pelo
próprio analista, começa um tratamento com um novo psiquiatra,
reconhecido nacionalmente e autor de um livro em vias de tornar-se um
best-seller. Quando toma conhecimento que o médico está saindo de
férias, ele resolve perseguí-lo até sua casa de campo, utilizando-se de
mentiras e artifícios nem sempre honestos para descobrí-lo e sua
família. Sua intenção é uma só: obrigar-lhe a manter o tratamento a
qualquer custo. Essa sinopse, lida a frio, pode servir a um belo
suspense (lembra até o apavorante "Cabo do medo", de Martin Scorsese) ou
a um drama comovente. Estrelado por Bill Murray na pele do dependente e
psicótico paciente, porém, não chega a ser surpresa que "Nosso querido
Bob" seja uma comédia. E, dirigida por um especialista do gênero, Frank
Oz, uma das boas. Sucesso de bilheteria (rendeu mais de 60 milhões
somente no mercado doméstico), marcou um período de grande popularidade
para Murray nos EUA - que chegaria ao auge com o mega êxito de "Feitiço
do tempo", em 1993.
Um dos grandes golpes de mestre do
filme foi a escalação de Richard Dreyfuss para viver o ególatra Leo
Marvin, o psiquiatra arrogante que tem sua vida virada pelo avesso pelo
carente Bob Wiley, em uma brilhante atuação de Bill Murray. Ficando com o
papel que esteve entre Patrick Stewart e Woody Allen, Dreyfuss faz uso
de sua persona de ator sério - ainda que seu ápice, o Oscar por "A
garota do adeus" (77), tenha sido por um papel cômico - para
contrabalançar os exageros histriônicos de Murray. Tão engraçados quanto
os surtos de Bob são as tentativas de Marvin de manter a integridade de
sua família de comercial de margarina enquanto o mundo à sua volta
praticamente desmorona. Rejeitado até mesmo pelos vizinhos - em especial
um casal idoso que tinha esperanças de comprar a propriedade adquirida
por ele - Marvin é o protótipo do analista judeu com olhos apenas para o
próprio umbigo, e o ator tira de letra a missão, com um timing cômico
equivalente ao de Murray, que, como era de se esperar, rouba cada cena
como o irritante Bob.
Aliás,
o trabalho de Murray como Bob é tão conectado à persona do ator que
fica difícil de acreditar que a primeira escolha para o papel era Robin
Williams, que saiu fora do projeto por estar terminando as filmagens de
"O pescador de ilusões", que lhe renderia uma justa indicação ao Oscar:
cada movimento de Murray parece ao mesmo tempo milimetricamente
calculado e orgânico, mesmo quando não é o centro da cena. Seu talento
valoriza cada diálogo do roteirista Tom Schulman - oscarizado pelo belo
"Sociedade dos poetas mortos" (89) - que, por sua vez, não deixa pedra
sobre pedra em sua crítica mordaz aos excessos da terapia. O livro de
Leo Marvin, "Baby steps", por exemplo, é um deboche claríssimo às
dezenas de obras de autoajuda que desde então são o flagelo da
literatura médica séria e o próprio médico é uma sátira aos psiquiatras
que se acham acima de todo e qualquer mortal. O contraste entre a
seriedade de Richard Dreyfuss e o eterno ar aparvalhado de Bill Murray é
a pedra fundamental do sucesso da comédia de Oz.
Mesmo
que não tenha mudado a história do cinema e não seja um favorito na
lista de qualquer cinéfilo, "Nosso querido Bob" tem a seu favor o
deboche inteligente do roteiro, o elenco escalado com perfeição, a
direção segura de Frank Oz e o senso de oportunidade impecável. Para
quem quer rir sem compromisso, é o programa ideal - até mesmo porque as
possibilidades de identificação (com o médico ou com o paciente) são
bastante grandes.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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