LOUCOS
DE PAIXÃO (White palace, 1990, Universal Pictures, 103min) Direção:
Luis Mandoki. Roteiro: Ted Tally, Alvin Sargent, romance de Glenn Savan.
Fotografia: Lajos Koltai. Montagem: Carol Littleton. Música: George
Fenton. Figurino: Lisa Jensen. Direção de arte/cenários: Jeannine C.
Oppewall/Lisa Fischer. Produção executiva: Sydney Pollack. Produção:
Griffin Dunne, Amy Robinson, Mark Rosenberg. Elenco: Susan Sarandon,
James Spacer, Jason Alexander, Kathy Bates, Eilleen Breenan, Maria
Pitillo, Jeremy Piven. Estreia: 19/10/90
A trama
não é das mais surpreendentes ou criativas: jovem viúvo rico e judeu se
apaixona por uma mulher mais velha, experiente e de classe social
inferior e o romance entre os dois esbarra nas dificuldades inerentes a
esse tipo de relacionamento. Por que, então, "Loucos de paixão", baseado
no livro de Glenn Savan, soa tão especial ao público? Será por causa do
roteiro enxuto de Ted Tally - que veria seu "O silêncio dos inocentes"
sair com um Oscar no ano seguinte? - e Alvin Sargent - veterano vencedor
de duas estatuetas, por "Julia" (77) e "Gente como a gente" (80) - que
se mantém acima do melodrama barato, circundando-o com uma atmosfera de
verossimilhança extremamente bem-vinda? Ou será sua dupla de atores
centrais, Susan Sarandon e James Spader, cujos talentos conseguem fazer
poesia até dos diálogos mais banais? Talvez seja a reunião de todos os
ingredientes, mas o fato é que o filme de Luis Mandoki é um dos dramas
românticos mais interessantes de seu tempo, mesmo que não tenha tido o
reconhecimento devido nas cerimônias de premiação.
Susan
Sarandon, em vias de tornar-se uma das atrizes mais queridas,
requisitadas e premiadas atrizes de sua geração - bônus por seu
desempenho excepcional em "Thelma & Louise" (91) - vive Nora
Baker, uma garçonete de 43 anos de idade que tem no passado a trágica
morte do filho. Uma noite, depois do confronto com um cliente que chega à
lanchonete onde ela trabalha reclamando do atendimento, ela o
reencontra em um bar, bêbado e pouco disposto a conversa. O rapaz, Max
Baron (James Spader em papel que quase ficou com Robert Downey Jr.),
tem 27 anos, também tem um histórico de perdas - sua mulher morreu em
um acidente de carro há pouco tempo - e acaba indo com ela para sua
casa. O choque de gerações, de culturas e até mesmo de modos de viver -
ele é inflexivelmente rígido a padrões de higiene, por exemplo, e ela
mora em um lugar pouco asseado e sem maiores preocupações quanto a isso -
não o impede de dormir com ela, depois de um longo período sabático.
Aos poucos, apesar das diferenças, os dois se apaixonam, mas ele não
sente-se à vontade em apresentar a simples e desbocada Nora à sua
família e seus amigos.
A
história de "Loucos de paixão" não tem medo dos clichês, conforme
pode-se perceber. No entanto, o roteiro ritmado disfarça a escassez de
surpresas, especialmente quando põe em cena seus dois protagonistas.
Desde o primeiro diálogo no bar - quando Nora descaradamente flerta com o
atônito Max - até o final modificado depois de exibições-teste que não o
aprovaram, a forma como Sarandon e Spader dominam seus personagens
encanta e seduz o público sem fazer muita força. Sarandon não se
intimida com a sexualidade ululante de Nora, se entregando sem pudor a
cenas bastante apimentadas e Spader, com seu rosto angelical - que já
havia sido explorado a contento por Steven Soderbergh em seu "sexo,
mentiras e videotape" (89) - transmite com segurança toda a vastidão
emocional que Max precisa esconder por trás de uma vida de aparências e
boa educação. O encontro dos dois mundos - regido ainda pela irmã mais
velha de Nora, a vidente interpretada por Eileen Breenan - é o melhor do
filme, uma história de amor adulta feita para adultos.
"Loucos
de paixão" não foi um estouro de bilheteria, nem tampouco é muito
lembrado dentro da vitoriosa carreira de Susan Sarandon. Mas é uma bela
história, narrada com competência e elegância, dentro de um roteiro
enxuto e realista. Em uma época em que muitos filmes preferiam o exagero
à discrição, ousou ser minimalista e sutil em suas emoções. Por causa
disso, é uma pequena pérola a ser redescoberta.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quinta-feira
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