QUIZ
SHOW, A VERDADE DOS BASTIDORES (Quiz show, 1994, Hollywood
Pictures/Baltimore Pictures, 133min) Direção: Robert Redford. Roteiro:
Paul Attanasio, livro "Remembering America: a voice from the sixties",
de Richard N. Goodwin. Fotografia: Michael Ballhaus. Montagem: Stu
Linder. Música: Mark Isham. Figurino: Kathy O'Rear. Direção de
arte/cenários: Jon Huttman/Samara Schaffer. Produção executiva: Richard
Dreyfuss, Judith James, Frederick Zollo. Produção: Michael Jacobs,
Julian Krainin, Michael Zonik, Robert Redford. Elenco: Ralph Fiennes,
Rob Morrow, John Turturro, Paul Scofield, Christopher McDonald, David
Paymer, Hank Azaria, Mira Sorvino, Griffin Dunne, Martin Scorsese, Barry
Levinson. Estreia: 23/9/94
4 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Robert Redford), Ator Coadjuvante (Paul Scofield), Roteiro Adaptado
O
ano é 1958. Um dos mais populares programas de TV dos EUA, apresentado
pela NBC, é o game-show "Twenty-one", apresentando por Jack Barry
(Christopher McDonald), onde dois candidatos duelam pela possibilidade
de ganhar até 100 mil dólares respondendo a perguntas de conhecimento
geral. Percebendo que o campeão das últimas semanas, Herbie
Stempel (John Turturro) já não tem mais a resposta entusiasmada da
plateia (a audiência estancou e parece que não há jeito de voltar a
subir), os patrocinadores do programa resolvem retirá-lo do show e
substituí-lo por alguém mais palatável ao gosto médio. Stempel, um judeu
do Queens sem formação acadêmica e de aparência pouco admirável, acaba
sendo deixado de lado por Charles Van Doren (Ralph Fiennes), um
professor universitário de considerável herança intelectual - e dono de
uma beleza que passa a encantar as mulheres. Enquanto Van Doren começa a
acumular uma bela fortuna saindo vencedor dos programas de que
participa, o antigo concorrente, sentindo-se traído pela produção da
emissora, resolve expor a rede de mentiras que se passa nos bastidores.
Segundo ele, os participantes escolhidos como os vencedores já recebem
todas as respostas antes do início da atração, como forma de garantir
sua vitória. Suas acusações chegam até os ouvidos de Dick Goodwin (Rob
Morrow), um jovem idealista e ambicioso que trabalha no Congresso
Americano, que resolve tirá-las a limpo.
Esse escândalo
de manipulação da mídia - fato hoje tão corriqueiro que nem chega mais a
ser notícia - ocorreu de verdade e foi o tema do livro "Remembering
America: a voice from the sixties", escrito pelo próprio Goodwin e
serviu de base para o quarto filme do ator Robert Redford como cineasta,
"Quiz show, a verdade dos bastidores". Indicado para quatro estatuetas
da Academia - incluindo melhor filme, direção e roteiro - o filme é uma
reconstituição sóbria e clássica de um período americano anterior ao
pesadelo em que o país mergulharia com o assassinato de John Kennedy em
1963, que traria a reboque a guerra do Vietnã e o recrudescimento dos
conflitos raciais. A perda da inocência que estava em vias de ocorrer
talvez tenha se deixado vislumbrar com a história do "Twenty-one",
parece dizer Redford, que nem por isso parece julgar os fatos que
apresenta. Como bom cineasta contador de histórias, ele apenas serve
como narrador, deixando as conclusões - e as opiniões - com o público.
E
Redford talvez nunca tenha estado melhor como cineasta do que em "Quiz
show". Amparado por um roteiro seguro e repleto de nuances sociais e
psicológicas - o filme engloba tanto os meandros das emissoras de tv
quanto os dramas pessoais dos envolvidos com a tramoia - ele também tira
de seus atores interpretações viscerais: Ralph Fiennes - vindo direto
da indicação ao Oscar por "A lista de Schindler" (93) - constroi um
Charles Van Doren minimalista, sutil, que fala com os olhos e transmite
sua variada gama de sentimentos sem precisar apelar para o óbvio (assim
como o faz também o veterano Paul Scofield na pele de seu pai, uma
atuação que colocou-o na lista dos concorrentes à estatueta de
coadjuvante), enquanto John Turturro brilha na pele do exagerado,
falastrão e dramático Herbie Stempel: o contraste entre as duas atuações
é um golpe de mestre do diretor, que deixa claro ao público as
motivações dos competidores. Van Doren sucumbiu à fama, à glória e até
mesmo à ingenuidade de achar que sua vitória ajudaria na educação do
país. Stemple precisava de dinheiro, de atenção, de ter o reconhecimento
por sua cultura. Ambos caíram em desgraça.
Realizado
com capricho - a ambientação e os figurinos são impecáveis - e dirigido
com elegância e discrição, "Quiz show" chegou ao Oscar 95 enfrentando
pesos-pesados como "Forrest Gump, o contador de histórias" e "Pulp
fiction, tempo de violência", o que talvez explique o fato de ter saído
de mãos abanando da cerimônia. Mas também é bem possível que os
eleitores da Academia não tenham gostado de perceber o quanto podem ser
manipulados pela mídia. A verdade doi, mesmo que venha embrulhada em um
belo e fascinante papel de presente.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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