NADA
É PARA SEMPRE (A river runs through it, 1992, Allied
Filmmakers/Wildwood Enterprises, 130min) Direção: Robert Redford.
Roteiro: Richard Friedenberg, estória de Norman MacLean. Fotografia:
Philippe Rousselot. Montagem: Robert Estrin, Lynzee Klingman. Música:
Mark Isham. Figurino: Kathy O'Rear. Direção de arte/cenários: Jon
Hutman/Gretchen Rau. Produção executiva: Jake Eberts. Produção: Patrick
Markey,Amalia Mato, Robert Redford. Elenco: Tom Skerrit, Brad Pitt,
Craig Scheffer, Brenda Blethyn, Emily Lloyd, Joseph Gordon-Levitt.
Estreia: 30/10/92
3 indicações ao Oscar: Roteiro Adaptado, Fotografia, Trilha Sonora Original
Vencedor do Oscar de Fotografia
Há
de se reconhecer que, vez ou outra, a Academia de Hollywood acerta em
cheio em suas escolhas. Um perfeito exemplo dessa afirmação é o Oscar de
melhor fotografia concedido a Philippe Rousselot na cerimônia de 1993:
as belíssimas sequências captadas por ele para o filme "Nada é para
sempre", são o que há de melhor no filme de Robert Redford, baseado na
estória real do escritor Norman MacLean e na sua relação com a família e
a natureza (mais especificamente a pesca). Tratando cada cena como se
fosse um quadro, o diretor de fotografia francês - que já tinha no
currículo uma indicação à estatueta por seu trabalho em "Esperança e
glória" (87) - transforma as vastas paisagens de Montana em um
personagem de crucial importância para a trama, ditando o ritmo da
narrativa e emoldurando em deslumbrantes takes a bela e trágica história
contada com delicadeza e poesia por um inspirado Redford - que
conseguiu os direitos de filmagem por muito tempo cobiçados por gente
como William Hurt.
Diretor bissexto - ele assinou
apenas três filmes em doze anos - Robert Redford ganhou um Oscar já por
sua estreia na função, com o dramático "Gente como a gente", de 1980,
que, assim como "Nada é para sempre", tem um núcleo familiar como base
para uma história que versa sobre amor, amizade, perdas e o duro
aprendizado que vem com elas. Um cineasta arraigado aos valores mais
tradicionais da sociedade americana - apesar de sua postura política
liberal - Redford traduz, em seus filmes, uma visão poética e
melancólica de seu país, seja através de um vilarejo lutando por seus
direitos básicos - tema de "Rebelião em Milagro" (88) - ou de uma
família desestruturada pelo suicídio de um adolescente incapaz de lidar
com suas inseguranças frente a um futuro incerto. Em "Nada é para
sempre", ele viaja até o inicio do século XX para vasculhar os
preconceitos, a religiosidade e a estrutura social de uma pequena cidade
americana que serve como microcosmo de um país em construção. E
encontra uma poderosa história, que conta de maneira suave e caudalosa
como um rio em toda a sua extensão.
O
cerne de "Nada é para sempre" é a pesca, esporte praticado de forma
quase sagrada pelos homens da família MacLean (sim, o sistema é
patriarcal, onde à mãe, vivida por Brenda Blethyn, cabem apenas os
afazeres domésticos e as eventuais visitas à Igreja presbiteriana local
onde seu marido é o pastor). O chefe da casa - vivido com a medida certa
de aspereza e delicadeza por Tom Skerrit - é o pastor da pequena
localidade onde moram, e educa os dois filhos com rigidez, dentro das
normas religiosas e morais com que também foi criado. A história começa
realmente quando o mais velho dos irmãos, Norman (Craig Scheffer),
retorna, depois de seis anos distante, à casa dos pais. Formado mas
ainda indeciso em relação à seu futuro, ele encontra o caçula, Paul
(Brad Pitt em seu primeiro papel de destaque depois do furor que causou
em "Thelma & Louise", de 1991) respeitado como jornalista, mas
metido em diversas encrencas relacionadas a jogo e bebidas. O reencontro
dos irmãos - de personalidades distintas mas profundamente ligados um
ao outro - também acontece quando Norman se apaixona por Jesse (Emily
Lloyd), de convições religiosas diferentes às de sua família e Paul
resolve desafiar a preconceituosa sociedade local envolvendo-se com uma
bela mestiça indígena.
Como se pode perceber, a
história é o que menos importa em "Nada é para sempre", uma vez que nada
conta de diferente. O que faz a diferença no filme - e o que o torna
tão fascinante - é a união de fatores que forma o conjunto. Além da
espetacular fotografia e da trilha sonora sutil de Mark Isham (que
substituiu outra, de autoria de Elmer Bernstein), o roteiro de Richard
Friedenberg - indicado ao Oscar - mantém a poesia da prosa de Norman
MacLean, tanto na narração em off quanto em vários diálogos, valorizados
pelo elenco bem escalado. Apesar de Craig Scheffer ser o protagonista,
Brad Pitt rouba todas as cenas com seu carisma jovem que, logo em
seguida o tornaria o astro mais popular de Hollywood. Tom Skerrit e
Brenda Blethyn emocionam sem fazer alarde e até mesmo um pequeno Joseph
Gordon-Levitt, em sua estreia no cinema, dá as caras com o jovem Norman.
Filmado com precisão, delicadeza e a dose certa de emoção - leia-se sem
apelar para o sentimentalismo - "Nada é para sempre" é para ser
degustado com calma, paciência e serenidade. Como uma boa pescaria.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quinta-feira
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