O
ÁRBITRO (The ref, 1994, Touchstone Pictures, 93min) Direção: Ted Demme.
Roteiro: Richard LaGravenese, Marie Weiss, estória de Marie Weiss.
Fotografia: Adam Kimmel. Montagem: Jeffrey Wolf. Música: David A.
Stewart. Figurino: Juddiana Makovsky. Direção de arte/cenários: Dan
Davis/Jaro Dick. Produção executiva: Jerry Bruckheimer, Don Simpson.
Produção: Ronald M. Bozman, Richard LaGravenese, Jeff Weiss. Elenco:
Denis Leary, Judy Davis, Kevin Spacey, Robert J. Steinmiller Jr., Glynis
Johns, Christine Baranski, Raymond J. Barry, J.K. Simmons, BD Wong.
Estreia: 09/3/94
Aclamado como um dos maiores
atores de sua geração depois de seu segundo Oscar - e primeiro na
categoria principal - por sua atuação em "Beleza americana" (99), Kevin
Spacey tem, em seu currículo prévio, alguns filmes pouco vistos pelo
público e que, no entanto, já demonstravam sua enorme capacidade de
interpretar homens comuns em circunstâncias corriqueiras. Aliás, um de
seus últimos filmes antes da explosão que seguiu-se a "Seven, os sete
crimes capitais" e "Os suspeitos" - ambos de 1995 - pode ser
considerado um ensaio para o elogiado drama de Sam Mendes que lhe rendeu
a estatueta da Academia em 2000: na comédia de humor negro "O árbitro",
lançada em 1993 e pouco vista pelo público em geral, ele vive com sua
naturalidade característica, uma das partes de um casal em crise que se
vê obrigado a enfrentar seus problemas conjugais quando é capturado como
refém de um assaltante em fuga.
Dirigido por Ted Demme
- sobrinho de Jonathan que morreu de overdose em 2002, pouco depois de
ter dirigido "Profissão de risco", um filme sobre o tráfico de drogas
estrelado por Johnny Depp e Penelope Cruz - "O árbitro" é uma comédia
natalina atípica, que brinca com os elementos do gênero - como "A
felicidade não se compra" (46), de Frank Capra, o filme-símbolo do
período - enquanto devassa o american way of life de maneira
menos cáustica e trágica de "Beleza americana", mas ainda assim com uma
dose generosa de humor ácido e ironia. Se na obra-prima de Sam Mendes a
hipocrisia e o adultério levavam ao crime e ao cinismo melancólico, no
filme de Demme a coisa é bem menos séria, até porque leva o selo da
Touchstone Pictures, braço da Disney para filmes direcionados ao público
adulto - o que já sinaliza tratar-se de um produto para a família, ou
seja, sem excesso de nenhuma espécie. Ainda assim - e apesar de um
roteiro irregular - tudo funciona a contento, desde que não se exija
muito.
Duas
situações distintas - que convergem para uma terceira - abrem o filme:
em uma o casal Caroline e Lloyd Chasseur (a ótima Judy Davis e Spacey)
discutem seu falido relacionamento, prejudicado por uma pulada de cerca
dela, com um terapeuta de casais. Em outra, o ladrão de joias Gus (Denis
Leary) é surpreendido pelo alarme de uma residência que estava
invadindo e foge antes de conseguir entrar em contato com seu cúmplice.
Sem ter para onde escapar antes do previsto, o gatuno entra no carro do
magoado casal e os leva como reféns para sua sofisticada casa - que
espera convidados para a ceia de Natal. O que ele jamais poderia esperar
é que, diante de tanto desprezo recíproco mantido pelos discretos
Chasseur, ele fosse acabar se tornando uma espécie de juiz de suas
discussões - que vão desde o adultério de Caroline até a dificuldade de
Lloyd em se impor diante de sua mãe (Glynis Johns) autoritária e
espaçosa. Quando o restante da família chega para o jantar - e isso
inclui a mãe, o irmão, a cunhada e os sobrinhos de Lloyd - o circo fica
ainda maior, com acusações sendo jogadas de um lado para outro na mesa
natalina. E para piorar, o filho do casal, o adolescente Jesse (Robert
J. Steinmiller Jr.), está sendo procurado pela polícia por viver de
chantagem - e pode ser desmascarado na mesma noite.
Mesmo
que muitas vezes perca o foco em sua narrativa - com desnecessários
minutos dedicados aos policiais que estão caçando Gus - e demore para
realmente engrenar, o que só acontece quando a ceia de Natal mostra a
que veio na dinâmica familiar dos Chasseur, "O árbitro" funciona como
uma comédia despretensiosa e de inteligência acima da média. Com um
texto afiado e uma segura direção de atores, ele ainda tem o privilégio
enorme de contar com dois grandes protagonistas, capazes de tirar leite
de pedra se necessário. Judy Davis não é uma das atrizes preferidas de
Woody Allen à toa - consegue como poucas equilibrar neurose e
sentimento. E Kevin Spacey, às vésperas de sua consagração como o
psicopata John Doe de "Seven", deita e rola com um personagem repleto de
cinismo e ironia, uma de suas maiores especialidades. Diversão leve e
sem contra-indicações, mas nada muito além disso.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quarta-feira
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