ADORÁVEIS
MULHERES (Little women, 1994, Columbia Pictures Corporation, 115min)
Direção: Gillian Armstrong. Roteiro: Robin Swicord, romance de Louisa
May Alcott. Fotografia: Geoffrey Simpson. Montagem: Nicholas Beauman.
Música: Thomas Newman. Figurino: Colleen Atwood. Direção de
arte/cenários: Jan Roelfs/Jim Erickson. Produção: Denise Di Novi.
Elenco: Winona Ryder, Susan Sarandon, Gabriel Byrne, Trini Alvarado,
Kirsten Dunst, Claire Danes, Samantha Mathis, Christian Bale, Eric
Stoltz, John Neville, Donal Logue. Estreia: 21/12/94
3 indicações ao Oscar: Atriz (Winona Ryder), Trilha Sonora Original, Figurino
Só
mesmo a safra fraquíssima de 1994 e a vontade sempre premente de
Hollywood em fabricar novas estrelas justificam a indicação de Winona
Ryder ao Oscar de melhor atriz por "Adoráveis mulheres", nova
versão do clássico da literatura norte-americana, dessa vez sob o
comando da australiana Gillian Armstrong: seu desempenho como Josephine,
uma jovem pré-feminista que desafia as convenções de sua sociedade com o
objetivo de vencer como escritora em um país saindo da Guerra de
Secessão nunca ultrapassa o convencional e é frequentemente eclipsada
por atuações bastante superiores do elenco coadjuvante - que inclui as
novatas Claire Danes e Kirsten Dunst. Sem jamais imprimir a força
necessária ao papel - que foi de Katharine Hepburn em uma versão
realizada em 1933 por George Cukor - Ryder é, perigosamente, o elo mais
fraco da produção, que também conquistou indicações ao Oscar pela bela
trilha sonora de Thomas Newman e pelo caprichado figurino de Colleen
Atwood.
Publicado pela primeira vez em 1868,
o romance "Mulherzinhas", de Louisa May Alcott é um dos livros mais
populares da literatura norte-americana, tendo recebido diversas
adaptações para a tv e o cinema desde 1917, quando uma primeira versão
chegou às telas, ainda na fase do cinema mudo. De sua publicação até o
lançamento do filme de Armstrong se passou mais de um século, e era
esperado que a cineasta australiana tirasse proveito dessa distância
temporal - presumivelmente um benefício para análises mais isentas do
papel da mulher na sociedade ianque - para realizar uma obra que
destacasse a forte personalidade de sua protagonista em meio a um mundo
dominado por homens. Não foi o que aconteceu. O roteiro de Robin
Swicord, apesar do ritmo agradável, detém-se basicamente no melodrama
familiar e romântico do livro, negando à personagem principal a potência
que tem no romance. Somada à atuação mecânica de Ryder - fã confessa do
livro - essa opção enfraquece o resultado final, deixando "Adoráveis
mulheres" muito aquém de suas possibilidades.
As
adoráveis mulheres do título são as integrantes femininas da família
March, que, durante a Guerra de Secessão, fazem o possível para
manter-se unidas e saudáveis, mesmo desfalcadas da presença paterna -
que está no front - e das posses que tinham antes do início do conflito:
a matriarca, (Susan Sarandon, pouco aproveitada e que foi rival de
Winona na disputa pelo Oscar, por seu trabalho em "O cliente", de Joel
Schumacher), e as quatro filhas, que além de tudo, tem também que
adequar-se às regras sociais da época como forma de arrumar um bom
casamento. A mais velha, Meg (Trini Alvarado) se interessa por John
Brooke (Eric Stoltz), preceptor de seu vizinho, um homem bom mas não
necessariamente rico. A segunda, Jo (Ryder), sonha em tornar-se
escritora, tem ideais feministas - antes do advento do feminismo - e
vive uma relação dúbia com o jovem Laurie (Christian Bale), que vive na
casa ao lado, com o avô (John Neville). A terceira, Beth (Claire Danes)
tem preocupações sociais e se dedica a cuidar daqueles que tem menos do
que elas, até contrair escarlatina e ver sua saúde ficar seriamente
ameaçada. E a caçula, Amy (Kirsten Dunst e Samantha Mathis em dois
períodos distintos da trama), vive de sonhar acordada, esperando um bom
marido para sair da pobreza.
Quando a segunda fase da
história começa, Jo muda-se para a Inglaterra, onde pretende dar vazão a
suas ideias modernas e sua veia de escritora. Justamente a partir daí,
quando ela assume o posto de protagonista absoluta da trama é que o
filme fica menos interessante. A luta de Jo pelos direitos femininos só é
mostrada em uma única e rápida cena, onde ela mal consegue expor seu
raciocínio: o roteiro opta por focar em sua relação com o professor
alemão Friedrich Bhaer (Gabriel Byrne), uma história de amor prejudicada
fatalmente pela falta de química entre os dois atores. A essa altura, o
público já percebeu que o que interessa à Armstrong não é mostrar o
crescimento pessoal de Jo, e sim os dramas de suas irmãs - e, justiça
seja feita, nesse ponto ela não brinca em serviço. Com sutileza e
cuidado, a cineasta até consegue emocionar a plateia, mas oferece a ela
apenas um novelão romântico que nada acrescenta às versões anteriores do
livro nas telas. Uma pena.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
JADE
JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...
-
EVIL: RAÍZES DO MAL (Ondskan, 2003, Moviola Film, 113min) Direção: Mikael Hafstrom. Roteiro: Hans Gunnarsson, Mikael Hafstrom, Klas Osterg...
-
NÃO FALE O MAL (Speak no evil, 2022, Profile Pictures/OAK Motion Pictures/Det Danske Filminstitut, 97min) Direção: Christian Tafdrup. Roteir...
-
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Paku...
Nenhum comentário:
Postar um comentário