TESTEMUNHA
DO SILÊNCIO (Silent fall, 1994, Warner Bros, 101min) Direção: Bruce
Beresford. Roteiro: Akiva Goldsman. Fotografia: Peter James. Montagem:
Ian Crafford. Música: Stewart Copeland. Figurino: Colleen Kelsall.
Direção de arte/cenários: John Stoddart/Patty Malone. Produção
executiva: Gary Barber. Produção: James G. Robinson. Elenco: Richard
Dreyfuss, Linda Hamilton, Liv Tyler, J.T. Walsh, John Lithgow, Ben
Faulkner. Estreia: 28/10/94
Um dos atores mais
populares da segunda metade dos anos 70 - quando protagonizou "Tubarão"
(75) e "Contatos imediatos de terceiro grau" (77) e foi o mais jovem
vencedor do Oscar na categoria principal até então, por "A garota do
adeus" (77) - Richard Dreyfuss não teve a mesma sorte nas décadas
seguintes, equilibrando bons filmes de más bilheterias ("Querem me
enlouquecer", com Barbra Streisand, de 87 e "Além da eternidade", de
Steven Spielberg, de 89, por exemplo), filmes agradáveis que fizeram
sucesso de público ("Tocaia", de 1987 e "Nosso querido Bob", de 1991) e
produções francamente ruins, que não chegavam nem perto de explorar todo
o seu talento (a continuação de "Tocaia", lançada em 1993).
Infelizmente, antes de tentar uma volta por cima com a indicação
merecida ao Oscar de melhor ator por "Mr. Holland, adorável professor"
(95), ele acrescentou mais um filme desnecessário à sua carreira. Com
uma trama instigante e uma lista de créditos excitante - o cineasta
Bruce Beresford, a atriz Linda Hamilton e a beldade Liv Tyler estreando
no cinema - "Testemunha do silêncio" acabou decepcionando o público, a
crítica e a Warner, que empatou 30 milhões de dólares em uma produção
que não recuperou nem 10% do orçamento. E o pior é que a culpa nem é de
Dreyfuss.
Por mais que esteja quase no piloto
automático em sua atuação, Dreyfuss não pode ser responsabilizado pelo
fracasso de "Testemunha de silêncio", dirigido de forma burocrática e
sem emoção por Beresford - que sintomaticamente, cinco anos antes, viu
seu "Conduzindo Miss Daisy" levar o Oscar de melhor filme sem que ele ao
menos tivesse sido indicado. Seu personagem, o terapeuta infantil Jake
Rainer, especializado em autismo infantil e traumatizado com o suicídio
de um paciente em seu centro de tratamento, poderia ser rico em nuances,
mas o roteiro de Akiva Goldsman - que oito anos depois também seria
premiado pela Academia por "Uma mente brilhante" - parece não ter
interesse em desenvolver a complexidade de seu protagonista, ilustrando
seu drama com uma ou duas cenas ligeiras e alguns poucos diálogos com a
esposa Karen (Linda Hamilton, subaproveitada ao máximo). O foco da trama
- interessante, mas igualmente desenvolvido de forma capenga e quase
inverossímil - é uma investigação policial na qual ele é envolvido a
contragosto e que vai acabar por fazê-lo rever sua decisão de abandonar a
medicina.
O
filme começa quando Rainer é chamado pelo xerife Mitch Rivers (J.T.
Walsh) - com quem tem uma antiga relação de amizade - à cena de um
brutal assassinato ocorrido na pequena cidade onde vive. A princípio o
médico não entende os motivos que o levaram a ser convocado à
propriedade onde um casal de classe média alta foi violentamente atacado
a facadas em seu quarto, mas a razão logo surge quando ele encontra o
filho caçula do casal, Tim (o ótimo Ben Faulkner), coberto de sangue,
com uma faca nas mãos e falando coisas desconexas. Fica claro que o
menino é autista e testemunhou o crime, mas não é do interesse de Rainer
fazer parte das investigações até que a bela Sylvie (Liv Tyler), filha
mais velha das vítimas implora que ele os ajude. Percebendo que, caso se
recuse a colaborar com seu tratamento à base de psicologia infantil o
pequeno Tim cairá nas mãos de outro médico (John Lithgow), bem mais
afeito a drogas do que a conversas, ele aceita o desafio. No meio do
caminho, pistas e revelações levam a polícia para inúmeros caminhos na
busca pelo assassino.
A história de "Testemunha do
silêncio" é interessante, e o desfecho poderia surpreender, caso tudo
não corresse de forma tão preguiçosa. O roteiro, como afirmado
anteriormente, desperdiça a chance de equilibrar um filme policial tenso
com um drama médico eficiente ao optar sempre pelas soluções mais
fáceis - e menos críveis. A direção é fria e quadrada, sem buscar em seu
elenco de bons atores - Dreyfuss, Hamilton, Lithgow - interpretações
mais do que corretas. E, se o pequeno Ben Faulkner dá show vivendo o
atormentado Tim, o mesmo não pode ser dito de Liv Tyler, que estreava no
cinema na pele de sua irmã mais velha, Sylvie. Vinda do mundo do rock -
é filha do vocalista da banda Aerosmith, Steven Tyler, e havia
estrelado o videoclipe "Crazy", da banda do papai, ao lado da atriz
Alicia Silverstone - Liv mostrou que realmente era uma mulher
deslumbrante, mas desprovida de talento dramático em um papel-chave para
a trama. Felizmente, com o tempo, ela melhorou bastante e hoje é uma
atriz relativamente competente. Mas, diante de tantos erros cometidos
por "Testemunha do silêncio" sua apatia fica ainda mais gritante. Uma
pena.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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