FEITIÇO
DO TEMPO (Groundhog day, 1993, Columbia Pictures, 103min) Direção:
Harold Ramis. Roteiro: Harold Ramis, Danny Rubin, estória de Danny
Rubin. Fotografia: John Bailey. Montagem: Pembroke J. Harring. Música:
George Fenton. Figurino: Jennifer Butler. Direção de arte/cenários:
David Nichols/Lisa Fischer. Produção executiva: C.O. Erickson. Produção:
Trevor Albert, Harold Ramis. Elenco: Bill Murray, Andie MacDowell,
Chris Elliott, Stephen Tobolowski, Michael Shannon. Estreia: 12/02/93
Imagine
a situação: você passa um dia inteiro em uma cidade do interior,
fazendo um trabalho que detesta, pega uma nevasca que o impede de ir
embora e, no dia seguinte, ao acordar, percebe que o dia está prestes a
repetir-se. Pra piorar ainda mais, o problema se estende por dias e dias
e não parece dar sinal de que vai acabar em algum momento, ou seja,
você está indefinidamente preso a um dos mais entediantes dias de sua
vida. Pois é exatamente por isso que passa Phil Connors, o protagonista
de "Feitiço do tempo", uma das mais divertidas e inteligentes comédias
dos anos 90. Porém, interpretado pelo sempre genial Bill Murray, o
protagonista do filme de Harold Ramis (também ator, mais conhecido por
ter vivido um dos colegas de Murray no clássico oitentista "Os
caça-fantasmas") não se faz de rogado e, espertamente, resolve utilizar o
eterno dèja-vu a seu favor. Quem se diverte - e muito - é o público.
Acostumado
a fazer rir sem precisar se esforçar muito, Murray deita e rola na pele
de Connors, um arrogante e misantropo repórter que apresenta a previsão
do tempo de um telejornal de Pittsburgh e que vai, a contragosto, pela
quarta vez, cobrir uma festividade folclórica da pequena Punxsutawney,
localizada na Pensilvânia. Lá ocorre, todo ano, o Dia da Marmota, quando
o animalzinho prevê, de acordo com as lendas locais, a duração do
inverno. Dotado de absoluto desdém pela cidade, pela festa e pelas
lendas, Phil só quer acabar logo sua tarefa e ir embora, mas uma
tempestade de neve o impede de retornar pra casa. Quando amanhece, uma
surpresa: o mesmo dia o aguarda, com todos os detalhes se repetindo. Seu
estranhamento inicial dá lugar ao desespero, no entanto, quando ele vê
que o que parecia um pesadelo é uma bizarra realidade e que todos os
dias são sempre o mesmo. Sabendo que ninguém mais nota a kafkiana
situação, ele resolve então aproveitá-la em benefício próprio e parte
para a conquista de sua nova produtora, Rita (Andie MacDowell).
De
posse de um roteiro nunca aquém de genial - co-escrito por ele e Danny
Rubin - Harold Ramis criou um pequeno clássico dos anos noventa, uma
comédia romântica que enfatiza muito mais o humor do que o romance. Se a
base da trama são as tentativas de Phil em seduzir Rita - que até então
nunca havia lhe percebido senão como colega de trabalho - o caminho
para o desfecho do romance é pavimentado com piadas sensacionais geradas
apenas pela premissa central: assim, Phil se utiliza das informações
que consegue em um dia para se dar bem no seguinte, comete suicidio
várias vezes por saber que sempre irá acordar em sua cama ouvindo o
despertador tocando Cher e aprende coisas tais como fazer escultura no
gelo e tocar piano com maestria. Além disso, é claro, se torna um ser
humano melhor, com se poderia esperar de um filme vindo de Hollywood
(por mais cínico que ele seja em âmago). O que é bom em "Feitiço do
tempo" é que, mesmo com o óbvio final feliz, não existe nele a obsessão
do politicamente correto que estragou boa parte do humor do cinema
norte-americano a partir justamente da década de 90.
Engraçado
sem ser histérico e romântico sem ser piegas, "Feitiço do tempo" é,
também, a comprovação das imensas qualidades de Bill Murray como ator.
Transformando seu Phil Connors de um homem egoísta e antipático em um
personagem querido pela plateia e por Rita (que descobre um novo homem
por debaixo das inúmeras camadas de sarcasmo e arrogância), ele é o
corpo e a alma do filme de Ramis, insuperável tanto em termos de humor
físico quanto nos momentos de maior sutileza. Sorte de todos (do filme,
do público e do diretor) que o papel não ficou com Chevy Chase, Steve
Martin e John Travolta. A despeito do talento de todos, Bill Murray
nasceu para viver o desagradável Phil Connors. E o resultado final
comprova essa afirmação.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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