A GRANDE MENTIRA(The debt, 2010, Miramax, 113min ) Direção: John Madden. Roteiro: Matthew Vaughn, Jane Goldman, Peter Straughan, roteiro original de Assaf Bernstein, Ido Rosenblum. Fotografia: Ben Davis. Montagem: Alexander Berner. Música: Thomas Newman. Figurino: Natalie Ward. Direção de arte/cenários: Jim Clay/John Bush. Produção executiva: Tarquin Pack. Produção: Eitan Evan, Eduardo Rossoff, Kris Thykier, Matthew Vaughn. Elenco: Helen Mirren, Tom Wilkinson, Jessica Chastain, Sam Worthingtn, Ciáran Hinds, Marton Csokas, Jesper Christensen. Estreia: 04/9/10 (Festival de Deauville)
Em um primeiro e rápido olhar, o John Madden da comédia romântica "Shakespeare apaixonado" não tem rigorosamente nada do diretor do sombrio "A grande mentira", refilmagem de uma produção israelense de 1997. Porém, basta um pouquinho mais de atenção para perceber em ambos - assim como no inteligente "A prova", estrelado por Gwyneth Paltrow, Anthony Hopkins e Jake Gyllenhaal - o carinho e o cuidado que o cineasta dedica ao elenco de seus filmes. Tudo bem que contar com gente do calibre de Helen Mirren, Tom Wilkinson e Jessica Chastain ajuda muito, mas é sua sensibilidade e elegância que dão ao filme - um thriller político com toques dramáticos e românticos - a força que o mantém na memória do espectador um bom tempo após o final da projeção. Sem exagerar na violência ou carregar no sentimentalismo, Madden consegue equilibrar com sucesso todos os elementos do roteiro, tratando seu público com inteligência e respeito. Injustamente inédito nos cinemas brasileiros, onde foi lançado diretamente em DVD, "A grande mentira" é daquelas obras raras, que tratam de um tema político empolgante sem deixar de prestar atenção no lado humano da situação - e o faz com um elenco nunca menos que sensacional.
A trama começa em 1997, com o lançamento de um livro que conta a corajosa história real de três jovens agentes do Mossad que foram responsáveis pela prisão e morte de um criminoso de guerra conhecido como "Cirurgião de Birkenau ", trinta anos antes. Escrito pela filha da única mulher do grupo, a veterana Rachel Singer(Helen Mirren), o livro conta detalhes da missão que a transformou, junto com seu ex-marido, Stephan Gold (Tom Wilkinson), e com seu colega David Peretz (Ciarán Hinds), em heróis internacionais. O problema é que a versão oficial divulgada em 1966 não condiz com a verdade dos fatos e a situação torna-se insustentável quando David - que nunca recuperou-se totalmente das cicatrizes emocionais do caso - volta a procurar os antigos companheiros com a notícia de que eles estão a ponto de serem desmascarados. A doença de David e a impossibilidade física de Stephan (paraplégico depois de um atentado à bomba) obrigam Rachel a tomar para si a responsabilidade de resolver o problema - o que a leva a reviver os dias de tensão e paixão que vivenciou na segunda metade dos anos 60.
Em sua primeira missão como agente do Mossad, uma jovem e idealista Rachel (vivida pela sempre ótima Jessica Chastain) viaja para Berlim, para encontrar com seus dois colegas, o experiente Stephan (Marton Csokas) e o introvertido David (Sam Worthington, muito eficiente sem os efeitos visuais de "Avatar" e "Fúria de titãs"). Escalados para capturar um médico alemão responsável pela morte de milhares de judeus devido a suas experiências cruéis, os três não demoram a localizar sua presa, mas problemas de logística os obrigam a mantê-lo como refém no apartamento em que vivem, disfarçados como uma família normal. Não demora para que o médico, que assumiu o nome de Vogel (Jasper Christensen), descubra os pontos fracos de seus raptores e passe a utilizá-los a seu favor, o que leva a todos a um desfecho inesperado, violento e que não pode ser divulgado à mídia internacional.
Ainda que assuma de vez sua veia de thriller em seu ato final - quando Rachel assume a missão de encerrar de vez a história que começou trinta anos antes - "A grande mentira" caminha até então com elegância entre o suspense e o drama. Um de seus maiores méritos é inserir, dentro do contexto de tensão extrema do sequestro do criminoso nazista, um triângulo amoroso que, ao contrário de ser apenas uma distração romântica desnecessária, é ponto fundamental para o desenrolar da trama central. Inteligente em sua edição que vai e volta no tempo para mostrar atos e consequências e discreto em apelar para o sensacionalismo que normalmente vem acoplado a produções que versam sobre os horrores da II Guerra, é um filme que, a despeito da possível inverossimilhança de sua história, um trabalho envolvente e bem realizado, feito para quem gosta de filmes sérios sobre assuntos relevantes. Uma ótima - e ainda não descoberta - pedida.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
sábado
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