Vencedor de 3 Golden Globes: Melhor Filme/Minissérie, Atriz Filme/Minissérie (Julianne Moore), Ator Coadjuvante Filme/Minissérie (Ed Harris)
Em 2008, a campanha pela presidência
dos EUA – vencida por Barak Obama – apresentou ao mundo inteiro uma
personalidade quase folclórica que, até então, era conhecida basicamente pelos
eleitores do Alasca, seu estado de origem: a governadora Sarah Palin,
conservadora, religiosa fervorosa, mãe de cinco filhos (um deles com Síndrome
de Down e a mais velha grávida na adolescência), firme em suas opiniões e
eleita graças principalmente a questões ecológicas. Escolhida pelos assessores
do republicano John McCain para ser sua candidata à vice-presidente – como
forma de conquistar eleitores ainda não convencidos por sua política – Palin era
tida como a arma secreta contra a popularidade de Obama, mas acabou se tornando
motivo de escárnio e choque com seu desconhecimento quase total de política
externa e outros assuntos tão importantes quanto, que quase anulavam seu
carisma. Uma personagem inacreditável – que virou até mesmo alvo impiedoso do
programa de humor “Saturday Night Live”, onde era interpretada pela comediante
Tina Fey – Palin é a protagonista de “Virada no jogo”, brilhante produção da
HBO que escrutina com detalhes sua trajetória em uma das mais acirradas
disputas pela Casa Branca na história dos EUA.
Comandado por Jay Roach – que já
havia flertado com os bastidores da política no subestimado “Os candidatos”,
com Will Ferrell – e com Tom Hanks entre seus produtores executivos, “Virada no
jogo” é baseado no livro de Mark Halperin e John Heilemann e conta com um
roteiro sagaz e de ritmo certeiro, que equilibra com precisão cirúrgica tanto
os meandros das campanhas eleitorais americanas (e por que não brasileiras?)
quanto sua importância na vida de pessoas que dependem delas para atingir o sucesso
profissional. O centro da trama é Steve Schmidt, interpretado com sutileza rara
por Woody Harrelson: estrategista político conceituado, ele é chamado pelo
Senador John McCain (Ed Harris em atuação premiada) para encontrar e treinar a
pessoa certa para fazer companhia a ele na chapa que irá disputar a presidência
americana. Sentindo-se desafiado, ele e seus assessores chegam ao nome de Palin
e resolvem apostar em seu carisma junto à parcela feminina dos eleitores. O
problema é que a governadora não é tão cordata quanto poderia parecer e
transforma-se em um problema dos grandes quando, ao perceber seu poder de
persuasão junto ao público, resolve assumir as rédeas de sua transformação de
mulher simples em política profissional.
Amparada por uma direção discreta e
um roteiro inteligente – escrito por Mark Strong – Julianne Moore dá um show à
parte na pele de Sarah Palin. Merecidamente premiada com o Golden Globe de
melhor atriz dramática em filmes para a TV, ela simplesmente se transforma na polêmica
governadora, tanto fisicamente quanto em suas essências – pessoal e pública.
Intercalando momentos de puro constrangimento (quando é capaz de dizer
atrocidades em rede nacional, por pura ignorância) com outros que suscitam até
mesmo uma certa pena, Moore rouba o filme para si de forma escandalosa. Mesmo
com uma personagem não exatamente simpática em mãos, ela conquista o público da
mesma forma com que Palin cativava seus eleitores – pelo carisma e pela pureza.
Sem julgar a personagem, Moore faz dela uma mulher comum jogada no olho do
furacão sem estar preparada para tal (apesar de achar-se capaz de assumir a
bronca), e sua fragilidade emocional acaba por seduzir a plateia: mesmo quando
ri das bobagens proclamadas por Sarah Palin, o público não deixa de sentir uma
espécie de piedade. Por escapar da tentação de fazer da protagonista motivo de
piada, tanto Roach na direção quanto Moore na construção da personagem marcam
um gol de placa: “Virada no jogo” é brilhante tanto como drama político quanto
comédia de bastidores – mas jamais aposta no humor barato ou grosseiro (uma
surpresa, já que estamos falando do mesmo diretor dos três filmes estrelados
pelo espião Austin Powers, que são tudo menos sutis).
Com um elenco coadjuvante que não
faz feio diante dos shows de Julianne Moore, Ed Harris e Woody Harrelson,
“Virada no jogo” é o típico filme que expande seu círculo de interesse para
atingir um público mais amplo especialmente graças à união de seus talentos.
Não é preciso ser americano ou entender as matizes de sua política para se
deixar envolver pela trama (que nem precisou ser inventada): basta gostar de se
deixar envolver por uma história bem contada, com atores brilhantes e um
roteiro que respeita a inteligência do espectador. Foi feito para a televisão,
mas é muito melhor do que muito produto cinematográfico que chega às salas de
exibição.
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