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SETE DIAS COM MARILYN

SETE DIAS COM MARILYN (My week with Marilyn, 2011, The Weinstein Company, 99min) Direção: Simon Curtis. Roteiro: Adrian Hodges, livros "My week with Marilyn" e "The prince, the showgirl and me" de Colin Clark. Fotografia: Ben Smithard. Montagem: Adam Recht. Música: Conrad Pope. Figurino: Jill Taylor. Direção de arte/cenários: Donal Woods/Judy Farr. Produção executiva: Kelly Carmichael, Simon Curtis, Christine Langan, Jamie Laurenson, Ivan Mactaggart, Bob Weinstein. Produção: David Parfitt, Harvey Weinstein. Elenco: Michelle Williams, Kenneth Branagh, Eddie Redmayne, Judi Dench, Julia Ormond, Dominic Cooper, Emma Watson, Dougray Scott, Toby Jones. Estreia: 09/10/11 (Festival de Nova York)

2 indicações ao Oscar: Atriz (Michelle Williams), Ator Coadjuvante (Kenneth Branagh)
Vencedor do Golden Globe de Melhor Atriz em Comédia/Musical (Michelle Williams)

Via de regra, cinebiografias tropeçam nas próprias ambições e esbarram na maior das dificuldades do gênero: contar em cerca de duas horas a vida inteira de alguém cuja existência justifique um filme. Tal dificuldade resulta em produções frequentemente superficiais que preferem passar ao largo de momentos cruciais na trajetória de seus protagonistas como forma de resumir, em uma duração palatável ao gosto do público médio, um arco de existência que vai do nascimento à morte. Às vezes, nem mesmo uma minissérie de TV seria capaz de dar conta da quantidade de informações e acontecimentos – e filmes como “Gandhi” e “Chaplin”, ambos, não por coincidência, de Richard Attenborough, acabam por ficar aquém do que poderiam. Como forma de sanar um pouco esse problema de superficialidade, o cinema americano encontrou uma saída inteligente que acabou virando tendência: escolher determinado momento na vida/carreira dos biografados e concentrar seu foco em períodos de tempo muito mais compactos. Tal opção funcionou muito bem em “Capote”, de Bennett Miller – que deu o Oscar de melhor ator a Philip Seymour Hoffman e concorreu nas categorias de filme, diretor e roteiro adaptado – e “Steve Jobs” – que apesar de ter dividido a crítica, deu a Michael Fassbender e Kate Winslet chances de concorrer à estatueta e à Aaron Sorkin o Golden Globe de melhor roteiro. Não deu tão certo assim em “Hitchcock”, de Sacha Gervasi, que atolou-se em uma direção medíocre. E resultou apenas morna em “Sete dias com Marilyn”.
Baseado em um livro escrito por Colin Clark – diretor de documentários que registrou em diários sua relação fugaz com Marilyn Monroe, a maior estrela de Hollywood nos anos 50 – o filme de Simon Curtis acerta em não tentar contar em seus 90 minutos de duração toda a existência conflituosa e recheada de complexos dramas psicológicos da atriz, mas não consegue, infelizmente, ultrapassar a superfície de uma das mais fascinantes personagens que o cinema americano já forjou – e que existia de verdade, sem que houvesse a necessidade de acrescentar à sua vida nenhum tipo de dramas. Apenas passando por cima da razão das carências emocionais de Marilyn e tocando com uma rapidez quase tímida momentos de extrema importância à vida futura da estrela (o aborto espontâneo sofrido no período de tempo retratado pelo roteiro), o filme de Curtis funciona como entretenimento leve, mas falha em ser uma homenagem a um dos maiores ícones do cinema americano às vésperas do 50º aniversário de sua morte.
O filme se passa em 1956, quando Marilyn já era a atriz mais famosa e desejada de Hollywood e chega à Inglaterra para estrelar a comédia romântica “O príncipe encantado”, convidada especialmente pelo astro do filme, Laurence Olivier, disposto a conquistar uma nova geração de espectadores que não se deixavam impressionar por seu currículo shakespereano. O problema é que Marilyn não chega sozinha à pequena cidade onde o filme será rodado: com ela, junto com uma dúzia de problemas de autoestima e insegurança, está o marido Arthur Miller – autor de clássicos do teatro americano - e sua instrutora de interpretação, Paula Strassberg, esposa do infame Lee Strassberg, criador do Actor’s Studio. Dependente quase total da opinião de Paula e dos remédios para dormir, Monroe não demora a desafiar a paciência de toda a equipe, incluindo Olivier, que não parece estar disposto a tolerar os atrasos constantes e a falta de compromisso da estrela. Apenas a veterana Sybil (Judi Dench) e o terceiro assistente de direção do filme, Colin (Eddie Redmayne) dão apoio incondicional à bela atriz – e ela acaba se encantando com o rapaz, para surpresa e desespero de todos.

Michelle Williams concorreu ao Oscar por seu desempenho na pele de Marilyn. Mereceu. Apesar de não ser exatamente parecida com o mito, Williams injeta tanta personalidade e sensibilidade a seu trabalho que o espectador não demora a comprar a ideia de que está realmente diante da mulher que sacudiu o mundo em filmes como “O pecado mora ao lado” e “Quanto mais quente melhor” – realizado logo em seguida e considerado o melhor trabalho de sua carreira. Mesclando momentos de candura e timidez com outros em que transmite o vulcão de sensualidade que fez de Monroe o mais duradouro símbolo sexual da história, Williams explora com inteligência tudo que o roteiro lhe oferece, tratando sua personagem com respeito e coerência, jamais caindo na armadilha de fazer dela uma vítima ou retratá-la como a loira burra, imagem que a estereotipou até sua trágica morte, em agosto de 1962. Sua interpretação é de uma sutileza comovente – com apenas um olhar, Williams fala mais do que outras estrelinhas que Hollywood insiste em empurrar para a plateia em longos discursos.
Mas se Michelle Williams dá um espetáculo com seu desempenho, seu elenco coadjuvante não fica atrás. Em um toque de mestre, o diretor Simon Curtis escalou Kenneth Branagh – irlandês que tornou-se famoso no cinema como uma espécie de representante oficial de Shakespeare nos anos 90, com filmes como “Henry V”, “Muito barulho por nada” e “Hamlet” – para interpretar Laurence Olivier – britânico que, nas décadas de 40 e 50, fazia o mesmo, a ponto de ganhar um Oscar por “Hamlet”. Esse sutil toque metalinguístico – Olivier chega a citar o bardo em uma sequência perto do final do filme – é um rasgo de inteligência que quase torna perdoável escalar a insossa Julia Ormond para viver a espetacular Vivien Leigh: mesmo que fosse mais velha que Marilyn, Leigh ainda era linda e elegante em 1956, coisa que Ormond apenas sonha em ser. Se na vida real era questionável alguém apaixonar-se por Monroe tendo Leigh em casa, no filme tal opção torna-se muito mais compreensível – se era essa a intenção do diretor, palmas a ele. Caso contrário, foi um tiro no pé. Diante de Ormond nem é preciso muito para que Michelle Williams brilhe e justifique o carisma imortal de Marilyn.
Quanto ao roteiro, “Sete dias com Marilyn” fica apenas na média. Não aprofunda as relações entre a atriz e Colin (Eddie Redmayne antes de ficar famoso e ganhar o Oscar por “A teoria de tudo”) nem dá foco ao que poderia ser um delicioso retrato dos bastidores de uma filmagem. Toda vez que o filme se concentra na fúria de Olivier em ter que aturar os atrasos e inconstâncias de Marilyn, o filme de Curtis cresce e se torna interessante. Quando se desvia para o romance hesitante entre Monroe e Clark – um personagem mal escrito e interpretado com apatia por Redmayne – cai no lugar-comum que acaba por transformá-lo em um filme apenas razoável. Serve como curiosidade e para admirar o trabalho de Michelle Williams e Kenneth Branagh – ambos, aliás, merecidos candidatos à estatueta da Academia.

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