Indicado ao Oscar de Melhor Ator (Demian Bichir)
Quem
ligar o nome do diretor Chris Weitz a seus trabalhos anteriores, como a comédia
adolescente “American pie” (99) – codirigido por seu irmão Andrew – e a
adaptação de “Um grande garoto” (02), de Nick Hornby, certamente leva um choque
quando chega ao fim a sessão de “Uma vida melhor”. O filme que rendeu uma
inesperada (mas justa) indicação ao Oscar de melhor ator para o mexicano Damián
Bichir não tem espaços para humor ou romance. É um potente drama familiar que
joga luz sobre um dos maiores problemas sociais dos EUA: a imigração ilegal. Com as mãos em um roteiro
conciso e sensível que foge admiravelmente dos estereótipos latinos que
Hollywood consagrou, Weitz dá um passo à frente em sua carreira, demonstrando
uma muito bem-vinda maturidade a uma história que remete, em alguns momentos,
ao clássico neorrealista “Ladrões de bicicleta”, de Vittorio De Sica.
Em uma
interpretação brilhante em sua sutileza, Bichir vive Carlos Galindo, um
imigrante mexicano que trabalha como jardineiro para sustentar o único filho,
Luís (José Julián), um adolescente quase rebelde que está tentado a entrar para
uma das gangues juvenis do bairro onde mora – até mesmo sua namorada o impele a
isso. Com a intenção de melhorar de vida e oferecer mais conforto ao rapaz,
Carlos pede dinheiro emprestado à sua irmã, casada com um norte-americano e
legalizada junto à Imigração, e compra a caminhonete de seu antigo patrão,
junto com todas as suas ferramentas. Seu objetivo, no entanto, sofre um enorme
baque quando ele se vê roubado por um colega de trabalho – e parte atrás do
prejuízo mesmo sabendo que corre o risco de ser descoberto e deportado.
Explorando
cenários de Los Angeles pouco mostrados pelo cinemão americano, “Uma vida
melhor” transpira realismo e sensibilidade a cada sequência. Mergulhando o
espectador nos problemas do protagonista sem apelar para o melodrama barato, o
roteiro de Eric Eason encontra eco nas imagens simples mas poderosas de Weitz,
que se ampara no expressivo olhar de Damián Bichir – que transita com destreza
entre a esperança e o desespero – para contar uma história emocionate e
emocional. Ao contrário do que acontece com a visão limitada dos produtores
hollywoodianos, a trajetória dos Galindo soa verdadeira, sem os artifícios tão
comuns a cineastas e roteiristas mais preocupados com prêmios do que com a
honestidade. Mesmo quando a trama se desvia do foco central – a busca pela
caminhonete de Carlos – o roteiro oferece ao espectador um tom de sinceridade
impossível de ignorar. E é então que a química entre Bichir e o jovem José
Julián se faz ainda mais importante.
Pegando
com unhas e dentes um dos raros personagens latinos tratados com respeito por
Hollywood, Damián Bichir entrega uma performance arrebatadora em sua discrição.
Toda a emoção que Carlos Galindo transmite é a partir do olhar e nem é preciso
longos diálogos para que a plateia se deixe encantar por sua coragem e sua
integridade – o que leva a uma empatia pouco comum em dramas tão sutis. Até
mesmo quando o protagonista apela para métodos pouco elogiáveis para recuperar
o que lhe foi roubado, ele não deixa de ter a torcida da plateia. O final
verossímil, ainda que um tanto melancólico, completa o espetáculo com coerência
e chega a deixar no ar um gostinho de “quero mais”. Não foi à toa que Bichir
rompeu a resistência da Academia e encontrou lugar entre os candidatos à
estatueta dourada ao lado de nomes como George Clooney e Brad Pitt. Um pequeno
grande filme!
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