O jovem Benjamin (vivido pelo próprio Mello) está passando por uma grave crise de identidade. Apresentando-se pelo interior do Brasil (em especial Minas Gerais, terra do ator e diretor) com o circo Esperança - na pele do palhaço Pangaré, ao lado do pai, Puro Sangue (Paulo José, fantástico) e de um trupe de personagens felinnianos - ele sente que não está mais feliz ("quem vai me fazer rir?", ele pergunta melancólico a uma fã com segundas intenções). Sem carteira de identidade, nem CPF e muito menos comprovante de residência, ele sente-se solitário, perdido e desprovido de qualquer real motivação para manter-se na vida artística. Enquanto tenta encontrar um caminho - e sua paixão por ventiladores tanto pode significar a eterna busca circular pelos sonhos, como disse o cineasta, como a ideia da necessidade de um pouco de ar - Benjamin acompanha seus colegas por cidadezinhas tristes, modorrentas e áridas, que remetem ao país retratado na poesia brutal de "Central do Brasil".
Selton Mello acerta em cheio em não deixar-se contaminar totalmente pela tristeza que a história poderia provocar. Enquanto Benjamin se mantém como um anti-herói tragicômico (com ecos de Carlitos), em sua busca quixotesca por uma loja de auto-peças que pode significar seu rompimento com o passado, o elenco coadjuvante faz a festa em sequências de um humor puro, ingênuo e leve como um bom número de palhaços de circo. Moacyr Franco levou o prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival de Paulínia por sua atuação antológica como um delegado, mas é injusto não citar as participações de Emilio Orciollo Neto, Jorge Loredo (o Zé Bonitinho em pessoa), Fabiana Karla, o sumido Ferrugem e até mesmo de Danton Mello, irmão de Selton, em uma aparição carinhosa.
Aliás, carinho parece ser a palavra-chave de "O palhaço". Nota-se perfeitamente em cada plano, em cada cena, o carinho de Selton por suas personagens, por sua história, por suas influências e principalmente por seus atores, todos extremamente bem dirigidos. Em tom quase anedótico, "O palhaço" é a prova viva de que, apesar da tradicional afirmação de que todo palhaço é triste - e não deixa de ser irônico que Selton, mais conhecido por seus papéis cômicos seja tão emocional em sua carreira de cineasta - fazer rir é não apenas uma vocação. É destino! Bravo, Selton! Que venha o próximo filme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário