NA TRILHA DO ASSASSINO (Tenderness, 2009, Lionsgate, 101min) Direção: John Polson. Roteiro: Emil Stern, romance de Robert Cormier. Fotografia: Tom Stern. Montagem: Lisa Zeno Churgin, Andrew Marcus. Música: Jonathan Goldsmith. Figurino: Eric Daman. Direção de arte/cenários: Mark Friedberg/Carol Silverman. Produção executiva: John Allen, Jane Edelbaum, Scott Hanson, Fisher Stevens, Tim Williams. Produção: Howard Meltzer, John Penotti, Charles Randolph. Elenco: Russell Crowe, Jon Foster, Sophie Traub, Laura Dern, Alexis Dziena. Estreia: 15/01/09 (Israel)
Um filme de suspense que privilegia os dramas de consciência de seu vilão ao invés de concentrar-se em sua sede de sangue é um elemento estranho no cinema comercial. Mas é exatamente isso que é "Na trilha dos assassinos", um discreto filme policial dirigido pelo australiano John Polson que passou praticamente despercebido pelas telas de cinema, apesar de contar com o astro Russell Crowe no elenco - em um papel pequeno, é certo, mas mesmo assim explorando os dotes dramáticos do ator como poucos filmes fizeram desde que ele abocanhou a estatueta do Oscar por "Gladiador". Na pele de um policial obcecado em perseguir um jovem psicopata que ele acredita que irá matar novamente, Crowe mostra com sutileza os motivos que levaram Hollywood a importá-lo no final dos anos 90 e rouba a cena em um filme discreto e de pegada europeia - leia-se de ritmo mais lento do que seus congêneres - mas que pode ser uma opção interessante para quem deseja fugir do lugar-comum.
Estranhamente, antes de comandar "Na trilha do assassino", John Polson assinou dois filmes que deitavam e rolavam nos clichês do suspense, o juvenil "Fixação" e o exagerado "O amigo oculto". Sendo assim, não deixa de ser estranho vê-lo em registro tão suave, explorando mais os detalhes e os silêncios significativos do que a violência e o sangue. Graças ao roteiro - que vai largando lentamente as pistas sobre as reais intenções do protagonista - Polson constrói uma narrativa que, mesmo não abdicando totalmente da tensão, a utiliza apenas pontualmente, como forma de lembrar ao espectador que a história é sobre um assassino cruel, apesar de seu ar de bom rapaz. Ele é Eric Komenko (interpretado pelo bom Jon Foster), que sai de uma instituição psiquiátrica ao completar 18 anos e vai morar com sua tia, Teresa (Laura Dern): no passado, o rapaz foi acusado de matar os próprios pais, mas o Tenente Cristofuoro (Russell Crowe) acredita que ele é também o responsável pelo assassinato de ao menos uma adolescente - se não de mais de uma. Casado com uma mulher presa a uma cama, vítima de uma grave doença, ele se auto-impõe a missão de provar a culpa do rapaz no crime não solucionado e impedir que ele volte a matar - o que fica mais complicado quando a desajustada Lori Cranston (Sophie Traub) se envolve com o misterioso e evasivo criminoso.
Baseado em um romance de Robert Cormier, o roteiro de Emil Stern lança mão de inteligentes flashbacks para esclarecer a plateia sobre o que realmente aconteceu no passado de Eric, mas felizmente evita entregar de bandeja todas as respostas, permitindo uma constante sensação de perigo e dúvida sobre as reais intenções do rapaz em relação à Lori - por sua vez uma personagem carregada de problemas e traumas que vê no psicopata o homem de sua vida mesmo ciente de sua real personalidade. A relação entre os dois é um dos maiores méritos do filme, justamente por caminhar na tênue linha entre amizade/amor/interesse e por não dar ao público pistas sobre seu desfecho. Até mesmo quando o ciúme entra na equação, graças à figura de outra jovem interessada no rapaz, a trama entra em um impasse que é resolvido de forma surpreendente, o que comprova as tentativas do diretor em fugir do previsível - nem sempre consegue, mas só a tentativa já é louvável. Além do mais, contar com a sempre fantástica Laura Dern nunca é ruim, mesmo quando em um papel pequeno.
Mas é definitivamente a relação entre o tenente de Russell Crowe e o jovem psicopata de Jon Foster o maior destaque de "Na trilha do assassino". Crowe brilha com um desempenho de nuances suaves, muito distante do tipo rústico que lhe deu fama - suas cenas com a esposa são delicadas e quase tristes e seus embates com Foster revelam sua face rancorosa e violenta. E Foster, um ator que ainda não aconteceu como deveria em Hollywood, expressa através de um simples olhar uma gama de sentimentos que aprofunda o roteiro e mantém a trama em um tom dúbio até as cenas finais. Se não há um grand finale ou uma revelação inesperada em seu desfecho - o que acaba sendo coerente com o espírito do filme - a obra de Polson ao menos tem a coragem de nadar contra a corrente e chegar viva até a margem seguinte. Um filme longe de ser brilhante, mas que certamente merece uma segunda chance.
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