A
SÉTIMA PROFECIA (The seventh sign, 1988, TriStarPictures, 97min)
Direção: Carl Schulz. Roteiro: Clifford Green, Ellen Green. Fotografia:
Juan Ruiz Anchía. Montagem: Caroline Biggerstaff. Música: Jack Nitzsche.
Figurino: Durinda Wood. Direção de arte/cenários: Stephen
Marsh/Crickett Rowland. Produção executiva: Paul R. Gurian. Produção:
Robert W. Cort, Ted Field. Elenco: Demi Moore, Michael Bihen, Jurgen
Prochnow, Peter Friedmn, Manny Jacobs. Estreia: 01/4/88
O
vasto público fã de filmes de terror sabe que um bom exemplar do gênero
dispensa assassinos mascarados ou violência a granel quando a trama tem
uma base forte o bastante para sustentar duas horas de tensão e
suspense. É por isso que filmes como "O bebê de Rosemary" (68), "O
exorcista" (73) e "A profecia" (76), por exemplo, se mantém até hoje
como ícones de um cinema em que o medo surge mais do imaginado e do
plausível - ao menos em termos religiosos, para quem acredita na Bíblia -
do que do excesso de sangue. Em 1988, já imaginando a correria que
seria quando o final do milênio se aproximasse ainda mais e os estúdios
entrassem em desespero atrás de uma audiência disposta a ouvir mais uma
história sobre o Apocalipse, os anjos divinos e as tentativas de algum
herói schwarzzenegeriano de salvar a humanidade, a TriStar lançou "A
sétima profecia", um bem-intencionado drama de suspense que misturava os
tais sinais de Deus enviados à Terra como forma de anunciação da
hecatombe com uma alegoria mal disfarçada sobre a salvação dos
inocentes. Dirigido pelo pouco experiente Carl Schultz - húngaro cujo
currículo inclui várias passagens por séries de TV - e estrelado pela
ainda iniciante Demi Moore, o filme conquista pelo clima imposto desde
as primeiras cenas, mas tropeça em sua irregularidade.
Moore
- belíssima, mas ainda longe de ser a estrela que se tornaria dois anos
depois, com sua presença no lacrimoso "Ghost, do outro lado da vida"
(90) - interpreta Abby Quinn, uma restauradora de obras de arte que está
nos últimos meses de uma gravidez complicada e que mantém ainda na
memória a traumática perda de uma gestação anterior. Casada com o
advogado Russell (Michael Biehn), que está atolado de trabalho tentando
salvar da pena de morte um jovem excepcional que matou os pais - segundo
ele mesmo, por ordens de Deus - Abby se dedica a decorar o quarto de
seu bebê e esperar ansiosamente pelo parto, apesar dos temores de um
novo aborto. Sua rotina é alterada com a chegada de David Bannon (Jurgen
Prochnow), o misterioso locatário de um quarto nos fundos de sua casa,
cujos estudos a respeito da Bíblia e alguns escritos em uma língua
desconhecida incutem nela uma apreensão inexplicável. Contando com a
ajuda do jovem Avi (Manny Jacobs) - que conhece o idioma graças a aulas
com um judeu ortodoxo que mora em frente à sua casa - Abby descobre que
os sinais previstos no Apocalipse e que apontam para o fim do mundo -
tais como desastres tidos como naturais - estão acontecendo de forma
sistemática e que seu filho ainda não-nascido tem um papel crucial na
história. Cabe a ela, então, encontrar uma maneira de impedir tal
desastre.
A
maior qualidade de "A sétima profecia" é o fato de basear seu roteiro
no mais controverso livro da Bíblia, o Apocalipse, sem tornar-se um
enfadonho exercício de discussão teológica. Até mesmo quando as cartas
são finalmente postas à mesa - e a relação de vidas passadas entre Abby,
Bannon e o enigmático emissário do Vaticano, o Padre Lucci (Peter
Friedman), é finalmente revelada, assim como suas missões na Terra - o
roteiro consegue desviar-se da previsibilidade, mantendo o interesse da
plateia viva a despeito da burocracia excessiva da direção de Schulz e
da apática atuação de Demi Moore. Para isso muito contribui a
interpretação do enigmático Jurgen Prochnow e a trilha sonora discreta
mas eficiente de Jack Nietzsche, que dá o tom exato a cada cena mesmo
quando a direção não consegue deixar de escorregar para os clichês mais
batidos do gênero. O final - com a revelação de que o sacrifício de um
mártir pode impedir o encerramento do ciclo de profecias - até tenta dar
um novo gás à trama, mas é quase tarde demais.
Mesmo
sem maiores novidades e assumindo quase um tom de filme televisivo, "A
sétima profecia" funciona junto a seu público-alvo por jamais se deixar
ceder à tentação de fazer graça de si mesmo. É um filme sério, tratado
como tal e disposto a ir até o final em suas intenções, mesmo que isso
represente escapar do onipresente final feliz (ou pior ainda, de um
final que aponte para uma continuação). Sua seriedade é um de seus
pontos altos, contrariando uma regra que viria em seguida dentro do
gênero, que misturava tramas de horror com momentos de humor. Carl
Schultz pode não ser criativo ou ousado - muito pelo contrário - mas
consegue manter o tom pessimista de seu trabalho até seus momentos
finais. Já é uma grande coisa!
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
JADE
JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...
-
EVIL: RAÍZES DO MAL (Ondskan, 2003, Moviola Film, 113min) Direção: Mikael Hafstrom. Roteiro: Hans Gunnarsson, Mikael Hafstrom, Klas Osterg...
-
NÃO FALE O MAL (Speak no evil, 2022, Profile Pictures/OAK Motion Pictures/Det Danske Filminstitut, 97min) Direção: Christian Tafdrup. Roteir...
-
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Paku...
Um comentário:
Filmes antigos assim são instigantes, não só pela forma de se costurar com a trilha sonora, mas também com o enredo interessantemente eleito a este longa - por exemplo, nos deixando conhecer a juventude de Demi Moore em clássicas cenas, e aparições de personagens que não são da altura de Os Pássaros hitchcokianos ou O Bebê de Rosemary polanskiano, mas que perfazem um ótimo deleite sobre as profecias bíblicas bem pesquisadas e atmosfera de puro terror na telona. Um merecido 8,5!
Postar um comentário