ALGUÉM MUITO ESPECIAL (Some kind of wonderful, 1987, Hughes
Entertainment/Paramount Pictures, 95min) Direção: Howard Deutch.
Roteiro: John Hughes. Fotografia: Jan Kiesser. Montagem: Bud Smith,
Scott Smith. Música: John Musser. Figurino: Marilyn Vance-Straker.
Direção de arte/cenários: Josan Russo/Linda Spheeris. Produção
executiva: Michael Chinich, Ronald Colby. Produção: John Hughes. Elenco:
Eric Stoltz, Mary Stuart Masterson, Lea Thompson, Craig Sheffer, John
Ashton, Elias Koteas. Estreia: 27/02/87
Em 1986, o
diretor-símbolo dos filmes adolescentes da década, John Hughes, lançou o
badalado "A garota de rosa-shocking", onde voltava a oferecer a seu
público-alvo o coquetel de dúvidas existenciais, triângulo amoroso e
trilha sonora descolada que marcou sua carreira. Apesar do sucesso do
filme, porém, Hughes não gostou do resultado final: ele preferia o
desfecho original, diferente da versão que chegou às salas de cinema e
que havia sido imposto pelo estúdio depois de exibições-teste. Frustrado
com a situação, ele fez o que pessoas criativas fariam - remodelou um
pouco sua história, disfarçou um pouco as situações, maquiou os
personagens e praticamente refez o mesmo filme, modificando o sexo do
protagonista... e logicamente terminando a trama a seu bel prazer, mesmo
com a direção entregue a Howard Deutch (que já havia visitado o
universo do roteirista em "Gatinhas e gatões"). Foi assim que surgiu
"Alguém muito especial", mais um exemplar da longa série de filmes
juvenis que fizeram a alegria da garotada romântica dos anos 80. O que é
mais irônico na história, porém, é que, apesar de em tese ser uma
espécie de revisita à "A garota de rosa-shocking", "Alguém muito
especial" é superior a ele.
Para quem já assistiu a
algum filme de John Hughes, a história não é nenhuma novidade, muito
pelo contrário: Keith Nelson (Eric Stoltz) é um esforçado estudante
secundarista que trabalha como mecânico em um posto de gasolina e vive
pressionado pelo pai para escolher uma carreira e deixar de lado sua
vida um tanto sacrificada. Keith sonha em se tornar artista plástico - o
que não agrada muito sua família - e é apaixonado por Amanda Jones (Lea
Thompson), que, apesar de morar nas redondezas, é uma das garotas mais
populares da escola - além de namorar o cobiçado Hardy Jenns (Craig
Sheffer). Sua paixão por Amanda o faz ignorar os sentimentos de sua
melhor amiga, Watts (Mary Stuart Masterson), uma garota com jeito de
rapaz, baterista e pouco afeita às frescuras que atribui ao sexo
feminino. Quando Amanda, depois de uma briga com Hardy aceita um
encontro com Keith, as coisas começam a mudar de lugar: o rapaz passa a
ser visto com outros olhos pela casta social da escola - o que pode lhe
afastar definitivamente de Watts.
O diferencial entre
"Alguém muito especial" e todos os outros filmes com os quais divide o
DNA está no elenco. Eric Stoltz é um bom ator (apesar de ter sido
demitido de "De volta para o futuro" depois de algumas semanas de
filmagens por não parecer adolescente) e Mary Stuart Masterson brilha na
pele de Watts, uma personagem que guarda semelhanças cruciais com outra
popular criação sua, a protagonista de "Tomates verdes fritos" (91). Se
Lea Thompson não convence como a garota mais popular e disputada da
escola por ser comum demais, ao menos não decepciona como atriz,
oferecendo nuances variadas à uma personagem que poderia facilmente
manter-se na caricatura rasa e unidimensional (nessa época ela já era
conhecida como a mãe de Marty McFly no mesmo "De volta para o futuro" do
qual Stoltz foi ejetado). E no elenco coadjuvante se destaca o ótimo
Elias Koteas, que surge em cena como Duncan, um aluno-problema que acaba
se tornando um dos melhores amigos de Keith - e que surpreende o
público com uma inesperada dose de sensibilidade ao final da história.
Conhecido
também como o filme que marcou o fim da relação profissional entre John
Hughes e Molly Ringwald - que recusou o papel de Amanda e desagradou o
cineasta com a decisão - "Alguém muito especial" conquista pela
simplicidade do roteiro, pelo carisma dos atores e pela maneira precisa
com que lida com as mesmas questões dos trabalhos anteriores do diretor
sem ranços paternalistas. O maior mérito dos filmes de Hughes - e que
fica bastante claro aqui - é tratar os adolescentes como eles realmente
são, não julgando ou aprovando suas atitudes, simplesmente as
testemunhando com uma câmera e apresentando sob um viés poético e
romântico. Eles - os adolescentes de ontem, hoje e sempre - agradecem
emocionados.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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Um comentário:
Marcou minha adolescência.
Lembro com muito carinho. As meninas eram meus cruchs.
Ainda as vejo hoje da mesma forma -apaixonado- nosltalgicamente. Mesmo hoje, já maduras, são lindas e me lembram minha época de
paixonites.
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