NELL
(Nell, 1994, Egg Pictures/PolyGram Filmed Entertainment/20th Century
Fox, 112min ) Direção: Michael Apted. Roteiro: William Nicholson, Mark
Handley, peça teatral "Idioglossia", de Mark Handley. Fotografia: Dante
Spinotti. Montagem: Jim Clark. Música: Mark Isham. Figurino: Susan
Lyall. Direção de arte/cenários: Jon Hutman/Samara Hutman.Produção:
Jodie Foster, Renée Missel. Elenco: Jodie Foster, Liam Neeson, Natasha
Richardson, Richard Libertini, Nick Searcy, Jeremy Davies. Estreia:
14/12/94
Indicado ao Oscar de Melhor Atriz (Jodie Foster)
Em
1991, devido a problemas financeiros que acabaram acarretando em sua
falência, a Carolco, um estúdio sem a proporção de uma Fox ou uma
Paramount, se viu obrigado a escolher entre dois filmes para lançar no
mercado: o escolhido foi "Mentes que brilham", estreia de Jodie Foster
na direção, que colheu elogios unânimes da crítica e foi muito bem
recebido pelo público. O segundo filme, "Céu azul", dirigido por Tony
Richardson, só chegou às salas de cinema três anos depois e, por ironia
do destino, esse atraso só lhe fez bem: não fosse ele era bem possível
que seu Oscar de melhor atriz - concedido à excelente Jessica Lange -
nunca tivesse acontecido, porque em 1992 a estatueta foi bem disputada
entre Geena Davis e Susan Sarandon (ambas por "Thelma & Louise")
e a própria Foster, que saiu-se vencedora por "O silêncio dos
inocentes". Outra ironia suprema? A maior rival de Lange na cerimônia de
1995 era a mesma Jodie: no filme "Nell" ela entrega mais uma sublime
interpretação na pele de uma jovem criada à margem da civilização e que é
descoberta depois da morte da mãe. Por melhor atriz que Jessica Lange
seja, ainda hoje é difícil engolir a escolha da Academia em premiá-la em
detrimento de um trabalho tão impactante quanto o da ex-menina prodígio
que tornou-se uma das mais premiadas estrelas de Hollywood unicamente
graças a seu talento.
É inegável que o trabalho de
Jodie Foster - que assina também como produtora e quase assumiu o papel
de diretora antes que Michael Apted fosse contratado - é superior ao
filme como um todo. Baseado em uma peça de teatro de Mark Handley
(co-autor do roteiro), "Nell" não consegue escapar dos clichês nem
tampouco de algumas incongruências e exageros que enfraquecem o
resultado final e deixam nos ombros da atriz a responsabilidade de
manter a verossimilhança e o interesse da plateia. Felizmente ela tem
talento de sobra para construir uma personagem que, a despeito da
fragilidade da trama, transborda humanidade e cativa a audiência sem
precisar muito mais do que o trabalho corporal e facial - ambos de
extraordinária competência e de delicadeza contrastante com a
aparentemente durona Clarice Starling do filme que lhe deu o segundo
Oscar.
A
trama do filme é simples e direta: depois da morte da mãe, seu único
elo com o mundo exterior, a jovem Nell (Foster, nunca aquém de genial em
cena) é descoberta na cabana onde morou a vida inteira, escondida de
tudo e de todos em uma floresta localizada perto de uma pequena cidade
do interior. Se comunicando através de um idioma próprio e incapaz de
manter contato social com qualquer desconhecido, ela aos poucos passa a
mostrar-se afável com as duas pessoas que resolvem ajudá-la em sua
transição rumo a uma nova vida: o doutor Jerome Lovell (Liam Neeson) e a
psicóloga Paula Olsen (Natasha Richardson), que, apesar de suas boas
intenções, desejam coisas diferentes a ela. Enquanto Lovell acredita que
Nell pertence à floresta e a seu mundo particular, Paula insiste que
ela deve ser "devolvida" à civilização. Esse impasse chega aos tribunais
e a jovem - que tem um trágico passado ainda desconhecido pelos médicos
- passa por três meses de observação para ter seu futuro definido.
Mais
um exemplar dos "bons selvagens" retratados pelo cinema - mais
notadamente em "O garoto selvagem" (70), de François Truffaut - Nell é
uma personagem fascinante, ainda que não tenha sido desenvolvida de
forma satisfatória pelo roteiro, por vezes mais preocupado com a disputa
entre os dois especialistas do que em analisar de maneira mais profunda
a psicologia da protagonista. Liam Neeson e Natasha Richardson estão
bem em cena - foi durante as filmagens que eles se conheceram e se
apaixonaram, em um casamento que durou até a precoce morte da atriz em
um acidente de esqui em 2009 - mas não fazem mais do que pontuar com
correção o show particular de Jodie Foster, e a busca de seus
personagens pelas origens do isolamento de Nell nunca ultrapassa o
convencional, privando o público de mais emoção. Ainda assim, é um filme
feliz em suas opções, ao fugir do tradicional dramalhão - mesmo que, em
seu clímax, apresente a típica cena de discurso que qualquer filme que
ambicione um Oscar não tem medo de utilizar. É um belo filme - Michael
Apted é um diretor competente e sabe como contar uma história - mas
aquém de suas possibilidades. Salva-se Jodie e seu talento além de
qualquer palavra.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
sexta-feira
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Um comentário:
Eu não conhecia esse filme. Gostei do enredo, e gostei de saber sobre essas histórias dos 'bastidores' (do Oscar e etc). Enfim, quero ver! :D
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