PARA
SEMPRE (The vow, 2012, Screen Gems/Spyglass Entertainment, 104min)
Direção: Michael Sucsy. Roteiro: Jason Katims, Abby Kohn, Marc
Silverstein, estória de Stuart Sender. Fotografia: Rogier Stoffers.
Montagem: Melissa Kent, Nancy Richardson. Música: Michael Brook, Rachel
Portman. Figurino: Alex Kavanaugh. Direção de arte/cenários: Kallina
Ivanov/Jaro Dick. Produção executiva: Susan Cooper, J. Miles Dale,
Austin Hearst. Produção: Gary Barber, Roger Birnbaum, Jonathan Glickman,
Paul Taublieb. Elenco: Rachel McAdams, Channing Tatum, Jessica Lange,
Sam Neil, Scott Speedman, Wendy Creyston. Estreia: 09/02/12
Dois
fatores específicos justificam a bilheteria doméstica acima dos 120
milhões de dólares do apenas razoável "Para sempre", estreia do diretor
Michael Sucsy no cinema depois do sucesso de "Grey Gardens" - estrelado
por Jessica Lange e Drew Barrymore - na televisão americana: o
romantismo incurável de uma considerável parcela do público (que salvo
raras exceções lota as salas quando o assunto são histórias de amor) e o
carisma de sua dupla central, formada por atores em franca ascensão
dentro da indústria: Channing Tatum (em vias de arrastar multidões aos
cinemas com "Anjos da lei" e "Magic Mike") e Rachel McAdams (bela,
encantadora e boa atriz a ponto de estrelar um dos melhores Woody Allens
desde sempre, "Meia-noite em Paris"). Só mesmo essas duas razões podem
explicar o êxito de uma produção que, a despeito de ser visualmente
atraente, não acrescenta nada de novo ao gênero. Baseado em uma história
real, o roteiro não escapa das armadilhas, e é preciso aplaudir a força
do casal de protagonistas em tentar dar veracidade e emoção à coleção
de clichês que desfilam pela tela.
"Para sempre" conta um história que lembra a comédia "Como se fosse a
primeira vez", lançada no final dos anos 90.
Porém, enquanto no divertido filme estrelado por Adam Sandler e Drew Barrymore o tom cômico levava a
trama sem maiores sobressaltos, nessa versão melodramática a missão é
bem mais difícil: um acidente de carro leva a jovem Paige (Rachel
McAdams) a uma amnésia parcial que a faz esquecer completamente os últimos
quatro anos de sua vida, justamente o período em que se relacionou com o
apaixonado Leo (Channing Tatum). A condição médica da moça acaba
servindo perfeitamente aos planos de seus pais (Sam Neill e Jessica
Lange, fazendo o possível com o pouco que lhes é oferecido pelo roteiro), que tinham-na visto afastar-se do seio
familiar anos antes, depois de abandonar a faculdade de Direito para
ingressar em uma Escola de Arte (e de ter rompido com eles devido a um
fato mantido em segredo por todos). Sem lembrar-se de seu casamento com
Leo - e nem mesmo de tê-lo conhecido - Paige recomeça sua vida se
reaproximando do ex-noivo, Jeremy (Scott Speedman), mas o rapaz não tem o
menor plano de deixar o amor de sua vida escapar e faz de tudo para
reconquistá-la, apesar de tudo lhe dizer que a batalha já está perdida.
A
sucessão de clichês que inunda "Para sempre" chega a ser desanimadora.
Tudo bem que dramas românticos não são exatamente cenários apropriados
para experimentos estilísticos ou artísticos, mas nada justifica a
preguiça da direção ou do roteiro, apoiado basicamente em cenas
pretensamente emocionantes que só funcionam para aqueles que adoram
esbaldar-se em histórias de amor. No entanto, mesmo que não exista aqui a
química notável que havia entre
a mesma Rachel McAdams e Ryan Gosling em "Diário de uma paixão" - o
melhor exemplo de um romance clichê que conseguiu sobressair-se à sua
origem literária menor (livro de Nicholas Sparks) graças ao elenco bem
escalado e à sensibilidade de um cineasta talentoso - é visível o
esforço e a garra do casal de protagonistas, infelizmente
subaproveitados ao extremo. McAdams, por exemplo, fica o filme todo
sendo usada como um joguete, de lá pra cá - e nem é bom comentar "o
grande segredo" que a levou a romper com os pais, de uma frivolidade
inacreditável.
Feito exclusivamente para quem não
consegue sobreviver sem um dramalhão romântico, "Para sempre" é capaz de
suprir as expectativas de seu público-alvo. É bonito, é direto e
simples. Mas está muito longe de ser inesquecível, principalmente por
não apresentar nada de novo à audiência - que, por sua vez,
provavelmente não irá se importar com tanta fragilidade artística.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quarta-feira
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