ALABAMA MONROE (The broken circle breakdown, 2012, Menuet Producties/Topkaki Films, 111min) Direção: Felix van Groeningen. Roteiro: Carl Joos, Felix van Groeningen, peça teatral "The Broken Circle Breakdown featuring the Cover-Ups of Alabama", de Johan Heldenbergh, Mieke Dobbels, colaboração de Charlotte Vandermeesch. Fotografia: Ruben Impens. Montagem: Nico Leunen. Música: Bjorn Eriksson. Figurino: Ann Lauwerys. Direção de arte/cenários: Kurt Rigolle. Produção: Dirk Impens. Elenco: Johan Heldenbergh, Veerle Baetens, Nell Cattrysse, Geert Van Rampelberg. Estreia: 10/10/12
Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro
O bluegrass é um dos gêneros musicais característicos do sul dos EUA e
se utiliza basicamente de instrumentos acústicos como violão, banjo e
baixo acústico. Tendo suas raízes na música tradicional das ilhas
britânicas, na música rural negra, no jazz e nos blues, ele é
relativamente pouco conhecido no Brasil, mas é um das bases dramáticas
de "Alabama Monroe", representante oficial da Bélgica na corrida pelo Oscar 2014 - e que perdeu a estatueta para o italiano "A grande
beleza". Baseado em uma peça teatral de Mieke Dobbels e Johan
Heldenbergh (que interpreta o principal papel masculino), o filme de
Felix Van Groeningen acabou se tornando o favorito popular ao prêmio
graças principalmente à sua impressionante comunicação com a plateia,
que, sem exceção, termina a sessão aos prantos, emocionada com um filme
que equilibra com maestria uma devastadora história de amor e perda com
uma trilha sonora impactante e uma discussão sempre pertinente sobre a
importância da fé e da religião nas relações interpessoais - sem que
para isso precise abdicar de uma estrutura dramática das mais
interessantes e envolventes dos últimos anos.
Com a narrativa fora de ordem cronológica - artifício cada vez mais
comum no cinema moderno, mas que quase nunca é utilizado de maneira
orgânica como aqui - "Alabama Monroe" conta a história de amor
improvável entre Didier (Heldenbergh), integrante de uma banda de
bluegrass, ateu e romântico e Elise (a ótima e expressiva Veerle
Baetens), uma tatuadora católica mas realista e que tem no corpo as marcas
de seus antigos amores. Juntos, os dois vivem uma relação passional e
feliz, que é abençoada com a chega de uma filha - a encantadora Maybelle
- e ameaçada com a sombra de um câncer agressivo que balança suas
crenças e certezas. Forçados a lidar com uma situação triste e
inesperada, eles também precisam entender um ao outro - o que parece ser
um desafio ainda mais complicado e frustrante conforme a dor vai se tornando cada vez mais avassaladora.
Contando com um roteiro inteligente cujas engrenagens não são tão óbvias
como acontece com a grande maioria dos filmes que buscam a emoção do
espectador, "Alabama Monroe" não se propõe apenas a comover ou contar
sua história. Por trás do drama vivido por Didier e Elise encontra-se
uma profunda discussão teológica que contrapõe - sem julgamentos de
valor - o ateísmo renitente do músico e a arraigada fé da tatuadora,
assim como também levanta questionamentos sobre o amor, a perda e as
variadas formas de lidar com a dor e a desilusão. A edição ágil - que
mescla com inteligência flashbacks com fast-forwards - não esconde, felizmente, alguns diálogos fortes e emocionantes em sua crueza: ao contrário, é pouco
provável que a audiência esqueça facilmente a brutal discussão entre os
protagonistas sobre suas possíveis culpas na tragédia que se abate sobre
eles ou o discurso abertamente crédulo de Didier depois de um show - e
que acaba preparando o terreno para o final devastador, capaz de
estraçalhar qualquer coração.
Talvez "Alabama Monroe" seja um tanto depressivo e pessimista para quem
busca apenas um divertimento rápido. Mas aquele público que procura no
cinema algo mais do que entretenimento certamente sairá da sessão com o coração transbordando - de tristeza, de dor e
principalmente de uma boa dose de realismo que só a sétima arte (com seu
poder de embelezar o desespero com poesia) consegue proporcionar. É um
dos grandes filmes da década e se tornará ainda melhor com o passar do tempo. Coisas de bom cinema.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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