sexta-feira

MENTES QUE BRILHAM

MENTES QUE BRILHAM (Little man Tate, 1991, Orion Pictures, 99min) Direção: Jodie Foster. Roteiro: Scott Frank. Fotografia: Mike Southon. Montagem: Lynzee Klingman. Música: Mark Isham. Figurino: Susan Lyall. Direção de arte/cenários: Jon Hutman/Sam Schaffer. Produção executiva: Randy Stone. Produção: Peggy Rajski, Scott Rudin. Elenco: Jodie Foster, Dianne Wiest, Adam Hann-Byrd, Harry Connick Jr., David Hyde Pierce, Debi Mazar, Celia Weston. Estreia: 06/9/91 (Festival de Toronto)

Sendo uma atriz que desde a mais tenra infância foi obrigada a lidar com as benesses e os malefícios da genialidade, Jodie Foster deve ter encontrado especial ressonância na estória do pequeno Fred Tate, criada pelo roteirista Scott Frank. Superdotado mentalmente mas renegado à solidão inerente à sua condição, o pequeno Fred é o protagonista do primeiro filme de Jodie como diretora, o delicado e sensível "Mentes que brilham" - que ela assumiu, aliás, depois que Joe Dante abandonou o barco alegando as famosas diferenças artísticas. Provando que seu talento não se resume a atuar - fato que seus dois Oscar confirmam além de qualquer dúvida - Foster construiu uma pequena história familiar, discreta e sem excessos que reflete com perfeição sua personalidade e inteligência.

Deixando de lado a vaidade que normalmente acompanha a decisão de atores em se tornarem cineastas, Foster não põe o ponto de vista de sua personagem como foco central da trama, preferindo - acertadamente - manter a história em torno de seu pequeno protagonista, interpretado com frescor pelo encantador Adam Hann-Byrd. Aos sete anos de idade, Fred Tate é capaz de escrever poesias, pintar a óleo, tocar piano como um adulto profissional e realizar complicadíssimas equações matemáticas. Como não poderia deixar de ser, tais dons o afastam dos colegas (que o veem como um alienígena) e fazem dele um menino solitário e carente, apesar de manter uma relação calorosa e de extremo amor e afeto com a mãe, a garçonete Dede (vivida pela própria Jodie), que o criou sozinha desde seu nascimento. Sua inteligência acima da média acaba chamando a atenção de Jane Grierson (Dianne Wiest), uma médica que convida o garotinho para conviver com outras crianças semelhantes a ele em um programa direcionado à crianças superdotadas. Sabendo que é incapaz de prover ao filho um ambiente que lhe faça crescer ainda mais intelectualmente, Dede acaba cedendo, mas o menino percebe que o que sobra em sua mãe - amor, carinho, dedicação - falta em Jane, que, apesar de brilhante, não construiu à sua volta uma rede saudável de relacionamentos emocionais.


Sem querer impor nenhum tipo de verdade absoluta, o roteiro de "Mentes que brilham" expõe todas as dificuldades enfrentadas por Tate em sua trajetória de maneira lúdica, quase carinhosa. O olhar tristonho de Hann-Byrd fala mais do que páginas inteiras de diálogo, e Foster o capta com delicadeza, levando a plateia para dentro de sua alma torturada pelo desejo de ser uma criança normal, com amigos, uma festa de aniversário bem-sucedida, brincadeiras tolas e conversas prosaicas. Essa dualidade é bem representada pela construção sólida das protagonistas adultas do filme, interpretadas com a maestria de sempre por Jodie e Dianne Wiest. Enquanto Dede não sabe nem ao menos o número de teclas de um piano e prefere dançar com o filho ao invés de ler um livro, ao menos ela consegue lhe dar conforto e a sensação de segurança emocional de que ele precisa. Já Jane, sóbria em roupas elegantes e modos polidos, sabia tocar violino desde a infância, escreveu vários livros e dedica seus dias a exercitar em jovens os dons que eles possuem, mas é mutilada emocionalmente, tendo tido uma relação distante com os pais e uma incapacidade flagrante de ser espontânea e verdadeira.

Tendo estreado em meio a uma grave crise da Orion Pictures - que o escolheu em detrimento de "Céu azul", de Tony Richardson, uma vez que era impossível lançar os dois no mesmo ano e o estúdio estava em meio à sua bem-sucedida campanha para dar a Jodie Foster seu segundo Oscar, por "O silêncio dos inocentes" - "Mentes que brilham" colecionou críticas extremamente positivas, uma bilheteria nada desprezível em se tratando de uma obra com poucas ambições comerciais e um prestígio que poucos diretores conseguem alcançar em um primeiro trabalho (e prestígio dura bem mais do que meia dúzia de Oscar, que o diga Kevin "Dança com lobos" Costner). Uma pena que, mesmo com tanto sucesso, a diretora Jodie Foster seja ainda tão bissexta - depois deste, ela voltou para trás das câmeras apenas com "Feriados em família" (95) e o estranho e não tão bom "Um novo despertar" (2011). Que seu retorno seja rápido.

2 comentários:

Felipe F. disse...

Dança Com Lobos é uma obra-Prima absoluta,uma das melhores estreias que se tem notícia, se não a melhor em termos de ator para diretor,seu comentário foi extremamente infeliz,ninguém lembra desse filme Mentes que Brilham.

Clenio disse...

Bom, opiniões são opiniões. Acho "Dança com lobos" um festival de clichês, condescendente, chatíssimo e Oscar bait. Se as pessoas não lembram de "Mentes que brilham" isso não é problema do filme, e sim de quem não o conhece.

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